Abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva que a atriz Nina de Pádua concedeu à Revista Tema Livre, no último dia 06 de maio, onde ela fala da peça Calabar, de Chico Buarque e Rui Guerra, proibida pela censura em 1973; a influência de Bibi Ferreira na sua formação como atriz; e ainda, do papel do historiador nas novelas de época.
REVISTA TEMA LIVRE – Qual seu nome completo ?
Nina de Pádua – Meu nome completo é Nina de Pádua Andrade
RTL – E o local de nascimento ?
Nina – No Rio de Janeiro, aliais no estado da Guanabara, em Botafogo
RTL – E porque ser atriz ?
Nina – Olha, eu comecei muito novinha, desde cedo, desde seis anos de idade, no colégio, eu já lhe dava com isso. Foi uma coisa meio que natural, não foi uma decisão muito pensada, eu fui começando a trabalhar e a coisa foi acontecendo, eu fui me tornando atriz, quando eu vi, já não dava para voltar atrás.
RTL – Profissionalmente, adulta, como você começou, qual foi a sua primeira peça ?
Nina – Olha, então eu vou começar com uma brincadeirinha que eu sempre falo que eu digo que eu não estreei profissionalmente, porque minha primeira peça profissional adulta foi uma peça chamada CALABAR, do CHICO BUARQUE e do RUY GUERRA, que foi proibida pela censura em 1973. Foi um marco no teatro porque era uma peça muito aguardada, muito esperada, era uma peça política, em plena ditadura, e era uma peça que falava sobre traição, sobre um monte de coisas que todo mundo tava na expectativa, e essa peça não aconteceu. Ela já estava pronta para estrear e a polícia federal censurou, então não houve estréia, então esse marco é muito forte, porque eu costumo dizer que minha estreia profissional não aconteceu… Outra coisa muito importante da qual me orgulho e gosto de citar, é que eu fui participante de um grupo chamado ASDRUBAL TROUXE O TROMBONE , do qual saíu essa turma toda aí, Luís Fernando Guimarães, Regina Casé, Evandro Mesquista, Patrícia Travassos, Perfeito Fortuna e eu. Então eu tenho muito orgulho disso, essa é uma delas, mas como tem 31 anos de carreira, eu ia ficar aqui a noite inteira falando.
RTL – Como era fazer teatro com a censura ?
Nina – Na verdade, não só fazer teatro, como viver na ditadura foi muito difícil, era muito complicado, porque não se tem liberdade, e quando você não tem liberdade, eu acho que morre muita coisa, é muito complicado. CALABAR especialmente foi uma marco para a gente porque… inclusive foi assim… se não me engano foi um pré-exílio do CHICO BUARQUE, quer dizer, uma época muito conturbada, muito dificl, quando CALABAR foi proibido, sequer podia sair no jornal a palavra CALABAR, para você ter idéia, quer dizer, os produtores não podiam sequer anunciar que havia sído proibido porque não podia sair CALABAR escrito, então foram anos muito duros, perdemos muitas pessoas importantes, muita gente bacana, eu era menina, mas sem dúvida alguma eu já fazia teatro, e já acompanhava, já sofria na pele. Então houveram pessoas que apanharam da polícia, houveram pessoas que foram presas e houcveram pessoas que foram mortas e que desapareceram. Então foram anos muito tristes e que sem dúvida alguma nos trouxeram toda essa violência que a gente tá vivendo hoje em dia.
RTL – E sobre a sua atuação no Cinema ?
Nina – No cinema eu também fiz muitas coisas bacanas, muitos filmes que eu gostei muito de ter feito e graças a Deus vários deles com muito sucesso, um dos que eu cito, que é um sucesso até hoje, porque ele sempre passa no Canal Brasil e na Bandeirantes que é o “Menino do Rio”, que é um filme que, engraçado, eu acho que não envelheceu, apesar de falar da juventude da década de 80, porque ele é um filme de 1980, ele hoje em dia fala das mesmas coisas que acho que a garotada tá vivendo, então esse é um filme muito bacana que eu gosto de citar.
RTL – E a sua estréia na Televisão ?
Nina – A minha estréia na televisão foi engraçado foi a última coisa que fiz foi televisão, primeiro fiz teatro, e depois cinema e por ultimo fui para televisão. E eu estreei em um programa chamado MALU MULHER (Globo, 1979/1980), que era estrelado pela Regina Duarte, e do qual tive muito orgulho de fazer, foi uma alegria muito grande.
RTL – Qual foi a sua primeira novela ?
Nina – A minha primeira novela foi uma novela chamada “EU PROMETO” (Globo, 1983), foi a última novela da Janete Clair e a primeira da Glória Perez, porque a Janete Clair morreu no meio da novela e a Glória Perez assumiu a continuidade da novela e a levou até o final. Foi uma novela que foi lançada um monte de gente, eu, Cláudia Gimenez, Fernanda Torres, Malu Mader, essa turma toda estreou nessa novela, e foi uma novela bacana que passou no horário das dez.
RTL – E como foi a sua experiência fora da Globo ?
Nina – Eu trabalhei em várias emissoras, fiz
novela no SBT, na MANCHETE, na BANDEIRANTES, que aliais não era TV BANDEIRANTES, era uma produtora independente [TV PLUS], e que era vendida para a Bandeirantes. Foi sempre muito bacana, sempre fui muito feliz nos meus trabalhos em televisão.
RTL – Quais os trabalhos que te deixaram mais saudades ?
Nina – Olha, eu tenho muito carinho pela “GATA COMEU”(Globo, 1985), que é uma novela que vive reprisando e as pessoas adoram, e eu adoro também, tenho muita saudade daquela época, tem um outro trabalho que eu considero muito importante que muitas pessoas também se lembram chamado ” A MÁFIA NO BRASIL”(Globo, 1984), que eu fazia uma delegada, foi uma minissérie, também foi muito bacana, um papel muito legal, e outra que eu tenho o maior carinho, a maior lembrança, que também foi um sucesso estrondoso na Televisão chamava-se Dona Beija (Manchete, 1986), foi uma novela sensacional que eu adorei fazer.
RTL – A “Dona Beija” era uma novela passada no século XIX, então, eu gostaria de te perguntar qual o papel do historiador nas novelas de época ?
Nina – Sem dúvida alguma a importância é imensa, porque é ele que nos dá a diretriz de comportamento, de maneira de andar, de sentar, quais eram os costumes, é ele que orienta não só ao elenco, como também ao próprio autor da novela. Então sem dúvida alguma o papel do historiador é fundamental, não dá para fazer uma novela sem o acompanhamento de um bom historiador.
RTL – Você já foi agredida em função de algum papel ?
Nina – Eu nunca passei por essa coisa de ser agredida, mas eu já fui chamada a atenção, uma determinada ocasião, exatamente porque matei o Reginaldo Faria na novela, a mulher queria me bater no meio da rua (risos).
RTL – Quem te influênciou na sua formação como atriz ?
Nina- Olha, muitas pessoas, muitos grandes atores foram meus ídolos, e tenho a impressão que meu grande ídolo, minha grande “idala” e quem me motivou a talvez a ter ido parar no teatro, em uma analise mais profunda se eu fosse fazer, talvez tivesse sido Bibi Ferreira, vi grandes musicais com Bibi Ferreira quando eu era menina, vi “MY FAIR LADY”, vi “ALO DOLLY”, e aquilo era encantador, porque eram produções de primeiríssima categoria, elencos imensos, maravilhosos, e foi muito bacana ter assistido aquilo com 6/7 anos de idade. Sem dúvida alguma BIBI Ferreira deve ter me influenciado bastante.
RTL – Como você analisa o atual momento da teledramaturgia brasileira ?
Nina – Olha… a teledramaturgia é uma coisa assim, que eu nem sei falar muito… porque eu acho que tem novelas extremamente repetitivas, insossas e sem graça, mas ao mesmo tempo você vê trabalhos muito bacanas na televisão, eu não acompanhei essa novela “O CLONE” (Globo, 2001/2002), mas pelo que eu pude perceber parece que foi um trabalho muito legal, muito feliz da Glória, que trata de temas muito atuais e tal. Eu sou muito fã, por exemplo, de Manuel Carlos, todas as novelas dele eu acho sensacionais, ele tem um diálogo espetacular, muito bacana. Existem minisséries sensacionais, a gente vê coisas aí. Então por exemplo, a novela é uma coisa meio massificante, não muito tem como sair daquele rami rami. Mas em coisas excepcionais, como essa novela das oito e algumas miniséries, são sensacionais, temos autores maravilhosos.
RTL – E os “reality shows”?
Nina – (risos) Isso aí, já é mais complicado… é uma coisa nova, mas… eu acho que até já saturou um pouco, porque é novo até a página 3, depois você já sabe o mecanismo do jogo aquilo se torna um tanto repetitivo, e pouco criativo, porque todo mundo sabe que tá sendo filmado., então pouco verdadeiro, eu acho um pouco chato (risos)
RTL – Fala-se da pouca assiduidade do brasileiro no teatro, você concorda com isso ?
Nina – Olha eu acho que não, acho que o brasileiro adora teatro, e adora bom teatro. O problema é que a política do governo em relação a incentivos, tudo isso, é complicado, e aí acaba se tornando um pouco mais caro, quer dizer, é caro para o espectador, mas é muito barato para o produtor, que em geral o preço do ingresso não paga o custo de uma produção. Então isso é muito difícil. Agora eu acho que o público disposto a ver ele sempre está, o bom teatro o público gosta, curte, e nada substituí a presença, a relação direta ator-espectador, como acontece no teatro.
RTL – Como você vê o atual quadro cultural do país ?
Nina – Bom… eu acho que a cultura foi um pouco abandonada… esses anos todos, mais ainda nos vinte anos de ditadura que a gente viveu, agora a gente tem um povo muito bacana e muito rico culturalmente, então, com todos os não favorecimentos e os não incentivos que esses governos todos vêm praticando, independente disso a cultura do povo brasileiro é muito forte, ele é muito ligado ao folclore, a arte, a uma série de coisas, e é muiito rico, então é sempre maravilhoso, acxho que nunca vai morrer.
RTL – E para você o Rio de Janeiro ainda é a capital cultural do país ?
Nina – Infelizmente, vou ter que ser um pouco bairrista, dizer que é óbvio que sim, São Paulo está tentando desesperadamente, mas não é fato. Porque as coisas acontecem no Rio de Janeiro, viram moda no Rio de Janeiro, e daqui se espalham para o resto do país.