Por José Nazareno Maciel Junior
Graduado em Ciências Atuariais pela UFC/Mestre em Economia pela UFC
Gerente de Informações Estratégicas e Atuariais na Unimed Fortaleza
Quando olhamos para trás, a história da ciência atuarial nasce na antiga Roma com os ACTUÁRIOS, que eram os secretários do senado, que anotavam o transcurso das sessões (ATAS) e as divulgava ao povo. Posteriormente, o termos passa a estender aos escrivães públicos que tratavam dos registros dos nascimentos e óbitos e no século XVII o termo ATUÁRIO foi utilizado para identificar os pesquisadores que organizavam as tábuas de mortalidade, utilizando-se de recursos estatísticos e matemáticos.
Como já é do nosso conhecimento, o Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) define o profissional atuário como sendo: “… o preparado para mensurar e administrar riscos, uma vez que a profissão exige conhecimentos em teorias e aplicações matemáticas, estatística, economia, probabilidade e finanças, transformando-o em um verdadeiro arquiteto financeiro e matemático social capaz de analisar concomitantemente as mudanças financeiras e sociais no mundo.”
Além desta definição acima do IBA, várias outras podem ser encontradas, mas em todas iremos encontrar a palavra “RISCO”. Portanto, em suma, somos gestores de risco (identifica, analisa, administra etc.).
As atividades elementares do atuário são: a) precificação; b) cálculo de reservas; c) modelagem de capital; e d) gerenciamento de riscos corporativos.
E com a necessidade da multidisciplinaridade nos faz levar a ter que conhecer de tudo um pouco:
Passando por esta contextualização inicial, vamos olhar agora para o futuro, criemos então uma ponte, destacando assim algumas tendências que podem ser enxergadas.
Vamos lá.
Além da Previdência, Seguros, Saúde e Capitalização
Ainda tem muito trabalho a se fazer na previdência, seguros, saúde suplementar e capitalização. Disso ninguém tem o que discutir, mas esses ramos no longo prazo estarão saturados e não conseguirão mais absorver todos os profissionais.
Então se somos profissionais preparado para mensurar e administrar riscos, qual a razão então de não ampliarmos mais esse campo de atuação? Todos os ramos de atividade possuem seus respectivos níveis de risco que podem ser analisados de forma interna (core business) e externa (mercado). Talvez não envolva diretamente aspectos demográficos e sociais como o seguro (incluindo saúde) e previdência envolvem, mas possuem sim e devem ser mensurados e administrados para evitar perdas desnecessárias e contribuir para o equilíbrio.
Ou seremos profissionais sempre dependentes de regulamentação? E mesmo os mercados que estão já regulamentados, só iremos fazer o que os reguladores exigem? Até quando faremos só o que mandam? Gestão de risco é muito mais amplo e essas lacunas podem ser perfeitamente preenchidas pelos atuários.
Era Digital
Hoje já tem muito atuário trabalhando com Business Intelligence pois diante do conhecimento de banco de dados facilita muito essa interação com as ferramentas. Mas e o Big Data? Já parou para pensar nisso?
Neste contexto, gostaria de abordar dois aspectos: a) com a chegada dos robôs que farão diversos procedimentos até então manuais para a forma automatizada, seja ela em dados estruturados e não estruturados, vejo que nós precisaremos mergulhar mais do que nunca na análise dos resultados, incrementando e muito as respostas; e b) teremos também que investir mais nas metodologia para os modelos preditivos que farão parte das estimativas também reportadas no Big Data.
Além disso, o mundo digital chegou para ficar: já existe operadora de plano de saúde totalmente digital nos EUA, já tem banco contratando gerente digital, vários serviços “uberizados” e segundo os futuristas, as maiores empresas em 2030 serão as escolar online. E onde podemos atuar nesse mundo? Penso em cursos, consultorias de forma online.
Trate um Gráfico de Distribuição de Probabilidades uma Obra de Arte
Chega de ficar só reforçando certeza de um único valor determinístico. Devemos mergulhar também no mundo estocásticos (incluindo variáveis aleatórias dos custos e também das receitas). Quero intensificar aqui a ideia da utilização de modelos estocásticos, pois não podemos ter a pretensão de achar que estamos 100% certos de que um único valor será a melhor estimativa, mesmo diante do teste de consistência. Quando estamos tratando de gestão de riscos, é interessante que esta tese venha a dar lugar aos estudos, incluindo, pelo menos, cenários. Nem que seja apenas para se ter uma ideia da volatilidade para efeito, inclusive, de estudos de solvência.
O Muro Técnico foi demolido
A verdade é que ainda somos conhecidos, na maioria das vezes, como TÉCNICOS que possuem boa percepção analítica, conhecedores de planilhas eletrônicas e bancos de dados, exclusivamente responsáveis pelo cálculo dos prêmios, das provisões técnicas, da reserva matemática, dentre outros.
O mais importante é que a profissão siga os passos para a visão mais ampla do risco, possibilitando a união da boa técnica com uma percepção mais estratégica. Com a necessidade de: a) ter uma visão sistêmica do negócio/empresa; b) integração com profissionais de outras áreas do conhecimento; e c) ser um profissional multidisciplinar.
Outro ponto fundamental é que o atuário, além de utilizar cálculos, sejam eles determinísticos ou estocásticos, pode utilizar também, dependendo do caso e com a prudência e o bom senso necessários, o feeling (intuição), explorando assim sua subjetividade e experiência da área em que está atuando interagindo os aspectos internos e de mercado. Desta forma amplia os horizontes de atuação e não fica “preso” a uma metodologia, algumas vezes até inexistente para aplicação.
Todo Mundo Junto e Misturado
Muitas vezes isolados, vivemos em um mundo a parte onde a matemática é um dos combustíveis principais, com a cabeça voltada para o raciocínio eminentemente lógico, resumimos muitas vezes as resoluções dos problemas da vida através de fórmulas mágicas ou códigos mirabolantes do tão poderoso e inseparável Excel. Parece até que já nascemos assim!
Venhamos e convenhamos, a realidade acima existe sim, porém hoje em dia já é notório perceber um avanço no tocante a integração com outras áreas do saber e isso é necessário e fundamental, pois estimula novas ideias/soluções e estabelece um enriquecimento intelectual mútuo, ativando inclusive a subjetividade (coisa ainda distante de nós), além do fato de possibilitar cada vez mais o conhecimento da ciência atuarial pelo outros, corroborando para gestão de risco em sua essência maior. Não esqueçamos: o coletivo que faz a diferença!
Exemplos Lúdicos
A comunicação é outro fator muito importante, possuir clareza e didática para explicar algum estudo realizado é tarefa, muitas vezes difícil, principalmente quando o público não trabalha diretamente com exatas.
Portanto, pare de querer explicar as fórmulas mirabolantes dos livros, as pessoas geralmente não querem saber disso, querem entender os resultados e ponto final.
Faça analogias, dê exemplos lúdicos e ilustrativos, tente transformar a matemática em algo prazeroso, pois muitas pessoas possuem trauma de números.
Abaixo um exemplo comparando as provisões com a margem de solvência na saúde suplementar:
Tchau Relatórios Imensos
Como assim? Criatividade? Não, sou atuário e não preciso disso. Deixa isso para a área de marketing. Engano seu amigo(a)! Você pode explorar outras metodologias, você pode adaptar as metodologias existentes à realidade da empresa e preste bem atenção! A criatividade pode estar em algo muito simples, um exemplo disso é a forma de apresentação: já tentou adaptar alguma apresentação ou relatório de 200 páginas que ninguém lê para um infográfico em uma página só? É sucesso! Vai por mim!
Os especialistas mesmo recomendam a ler outros assuntos que não tem nada a ver com a sua área de atuação profissional. Assim quando surgir alguma ideia inovadora esta será o resultado de uma construção mental de partes de vários assuntos. Pense nisso!
O Lado Relacional
Na sua rede de contatos (atuários e não atuários) pode estar reservada possibilidades que, aliada aos seus valores, competência e conhecimento técnico te auxiliem na sua ascensão profissional. Sem contar que um dia, infelizmente você poderá acordar desempregado(a) e aí parte da solução do seu problema estará nela. Além disso, existe um fato notório que quando se está em um certo nível de maturidade profissional, não há mais necessidade de participar de seleções exaustivas, basta uma conversa, muitas vezes informal, com o futuro líder direto, muitas vezes, fruto de uma indicação. E não esqueçamos: o mundo é dinâmico, a vida é cíclica e o Brasil um país majoritariamente relacional.
Qualitativamente
Além das razões óbvias que já sabemos, o que leva um beneficiário ir a uma consulta eletiva? O que leva um indivíduo a não poupar? O que leva uma pessoa a não fazer o seguro do seu carro? O que leva a falta de interesse de um determinado produto que é julgado importante? Juntando esses questionamentos aos meus critérios de curiosidade, encontrei uma disciplina fundamental que estuda aspectos comportamentais do ser humano e que certamente agregará muito ao equilíbrio necessário do Quali-Quanti, a chamada Economia Comportamental.
Isto posto, devemos complementar nossas análises levando em consideração, além do lado da empresa, o lado do cliente (dependendo do ramo, lê-se cliente como segurado ou beneficiário ou participante ativo ou participante assistido ou pensionista, etc.), contemplando assim um mapeamento dos motivos pelos quais levam a praticarem iniciativas/atitudes que geram, em sua essência maior, fatos intrinsecamente ligados aos riscos inerentes ao negócio das empresas e à sociedade como um todo.
Para isso, será necessário passar por uma intensa política conceitual e multidisciplinar, fomentando assim uma base de fatos no nosso cotidiano laboral com vistas a elevar métodos de gestão.
Hoje em dia a maioria das nossas respostas são baseadas pelo lado quantitativo lógico e nem sempre a tomada de decisão deve ser baseada exclusivamente por este lado, mas sim a combinação entre os dois (quali e quanti).
***
Acredito que quase todas ou senão todas já não são novidades para muitos atuários.
De qualquer forma, é o que julgo ser interessante refletirmos juntos para nossa evolução e para que possamos continuar tendo importância no mercado.
Por fim, ressalto que não sou dono da verdade e diante disso, se você deseja discordar e/ou complementar alguma tendência, fique à vontade e deixe um comentário com sua opinião. Ela será bem-vinda e sem dúvidas enriquecerá a nossa visão de futuro.
Fiquemos atentos a tudo.
Saiba mais sobre as Ciências Atuariais clicando em: https://revistatemalivre.com/mais/temasatuariais-html/
Uma conversa sobre as Ciências Atuariais no Debate Tema Livre:
No bate-papo, saiba mais sobre uma das profissões mais promissoras das últimas décadas, bem como conheça habilidades necessárias para o êxito na carreira e, ainda, seus impactos na sociedade.
Ficha técnica: Debate Tema Livre
Edição 02: “Uma conversa sobre as Ciências Atuariais”
Condução: Fábio Ferreira
Convidados (em ordem alfabética): José Nazareno Maciel Junior, Máris Caroline Gosmann, Natalia Moreira de Paula.
Assista ao bate-papo no canal da Revista Tema Livre no YouTube: https://www.youtube.com/revistatemalivre?sub_confirmation=1
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