Niterói, 14 de maio de 2021.
Da Redação.
Porém, cabe aqui uma primeira pergunta, quem foi o militar? Nascido em Pindamonhangaba, na então província de São Paulo, em 1850, Antônio Moreira César pertenceu ao exército brasileiro tendo acumulado episódios de violência atrelados à sua trajetória. Conforme apontou Euclides da Cunha, por questões políticas, Moreira César esfaqueou, na década de 1880, no Rio de Janeiro, um jornalista pelas costas, levando o profissional da imprensa a óbito. Como resultado, Moreira César foi enviado para o Mato Grosso, voltando ao Rio somente após a Proclamação da República.
Na década de 1890, o militar envolveu-se em diversos conflitos armados que marcaram o início da República: a Sedição Baiana (1891), a Sublevação de Niterói (1892), a Revolta da Armada (1893-94), a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul (1893-95) e a Guerra de Canudos (1896-97), episódio que o levou a óbito, em 4 março 1897.
A produção historiográfica sobre o personagem o define como sanguinário, relatando que, durante a Revolução Federalista, exterminou oponentes sem julgamento. Também participou de grupo paramilitar que perseguiu os seus rivais da Marinha e civis que participaram da Revolta da Armada. Por sua violência no campo de batalha, ganhou a alcunha de "corta-cabeças", sendo, inclusive, chamado para a terceira expedição contra Antônio Conselheiro pela sua truculência.
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MOREIRA CÉSAR E O ESPAÇO PÚBLICO
Voltando para Niterói, antes mesmo da derrubada de estátuas que ocorreu em 2020 em vários cantos do mundo, já havia na cidade debate sobre a retirada do nome do coronel no logradouro de Icaraí, embora a maioria dos niteroienses tenha, ao longo das décadas, associado a rua ao seu sofisticado comércio e as compras, esquecendo – ou até mesmo desconhecendo – o personagem histórico.
Em 2003, houve quem sugerisse a troca para Ayrton Senna. Em 2012, nova contestação: como forma de protesto, as placas que indicavam aos pedestres rua Coronel Moreira foram adesivadas com o nome de Antônio Conselheiro. À altura, o vereador Renatinho (PSOL), outro niteroiense que veio a óbito em função da Covid-19, abraçou o projeto. Porém, não houve a mudança.
Em 2014, a Comissão da Verdade de Niterói sugeriu a retirada do nome de Moreira César da rua. Na ocasião, pelo centenário de Vinicius de Moraes, chegou-se a cogitar o poetinha para ser o personagem que rebatizasse, com o seu nome, a via. Mas, foi através de outro artista que a troca efetivamente veio: o niteroiense Paulo Gustavo Amaral Monteiro Barros.
Logo depois da morte precoce do ator, a prefeitura de Niterói lançou uma enquete na web perguntando a opinião da população da cidade, que, maciçamente, aderiu à proposta, com 90.2% dos votos. No dia 13 de maio a Câmara Municipal aprovou a mudança. No mesmo dia, o prefeito da cidade, Axel Grael (PDT), assinou o documento que transformou a via em rua Ator Paulo Gustavo. No dia seguinte, houve a publicação da lei e, desde o último dia 14, Niterói não tem mais a rua Coronel Moreira César. Agora é Ator Paulo Gustavo.
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ANTES DE SER MOREIRA CÉSAR
As ruas do bairro de Icaraí foram desenhadas no Plano Geral de Urbanização da Cidade Nova aprovado em 1841 e, no papel, a Moreira César era a rua nº85. Depois, foi rua Vera Cruz, Froes da Cruz (1888), Prudente de Morais (1895), Coronel Moreira César (1897) e, por fim, Ator Paulo Gustavo (2021). As poucas ruas que ainda mantém a nomenclatura original são a Mem de Sá (nº 88), Nobrega (nº91) e Santa Rosa (nº 83).
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