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Plenário aprova proposta que regulamenta profissão de historiador

A Revista Tema Livre informa:


Niterói, terça-feira, 03 de março de 2015. 

"Plenário aprova proposta que regulamenta profissão de historiador
Os deputados aprovaram o substitutivo da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público para o Projeto de Lei 4699/12, do Senado, que regulamenta a profissão de historiador e estabelece os requisitos para seu exercício. Devido às mudanças, a matéria retorna ao Senado."
Extraído de: Agência Câmara Notícias.

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/482614-PLENARIO-APROVA-PROPOSTA-QUE-REGULAMENTA-PROFISSAO-DE-HISTORIADOR.html 

Assim, neste dia, 03 de março d 2015, foi dado importante passo para a regulamentação da profissão de historiador. Ainda falta a aprovação do Senado e a sanção presidencial. 

Projeto referente à regulamentação da profissão de historiador entra na pauta de votação da Câmara

Niterói, segunda-feira, 02 de março de 2015. 

Via ANPUH: 

"PREZADOS(AS) ASSOCIADOS(AS) E AMIGOS(AS) DA ANPUH

O PROJETO DE LEI PARA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR – O PL 4699/2012 – FOI INCLUÍDO NA PAUTA DE VOTAÇÕES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS PARA A PRÓXIMA SEMANA. AS SESSÕES DEVEM OCORRER NOS DIAS 3, 4 E 5 DE MARÇO. É UM GRANDE PASSO NA DIREÇÃO DA CONQUISTA DO NOSSO OBJETIVO E RESULTADO DOS NOSSOS ESFORÇOS DE NEGOCIAÇÃO E MOBILIZAÇÃO. NO ANO PASSADO CONSEGUIMOS A APROVAÇÃO DO PROJETO EM DUAS COMISSÕES DA CÂMARA, AGORA, FALTA O PLENÁRIO. NO ENTANTO, NÃO CANTAMOS VITÓRIA ANTES DA HORA. É PRECISO GARANTIR QUE O PROJETO SEJA EFETIVAMENTE VOTADO, E QUE O RESULTADO FINAL SEJA A APROVAÇÃO. É HORA DE NOS MOBILIZARMOS PARA MOSTRAR AOS DEPUTADOS A IMPORTÂNCIA DO PL PARA OS HISTORIADORES. SOLICITAMOS ASSIM, MAIS UMA VEZ, A SUA PARTICIPAÇÃO E O SEU EMPENHO. ENVIEM MENSAGENS PARA OS DEPUTADOS MANIFESTANDO APOIO À APROVAÇÃO DO PL4699/2012 – REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR."

LISTA COM OS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS DOS DEPUTADOS NO SÍTIO DA ANPUH: http://site.anpuh.org/index.php/component/k2/item/2665-urgente-o-pl-4699-entrou-na-pauta-de-votacoes-da-camara 

 

 

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Aprovado projeto que regulamenta profissão de historiador

Brasília, 07 de novembro de 2012 
Por Patrícia Oliveira 

Joaquim Nabuco: dentre várias atividades intelectuais, o pernambucano exerceu a de historiador. No dia do seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia do Historiador.

Joaquim Nabuco: dentre várias atividades intelectuais, o pernambucano exerceu a de historiador. No dia do seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia do Historiador.

O Senado aprovou nesta quarta-feira (7) projeto que regulamenta a profissão de historiador. O PLS 368/09, do senador Paulo Paim (PT-RS), estabelece que o exercício é privativo dos diplomados em cursos de graduação, mestrado ou doutorado em História. Os historiadores poderão atuar como professores de História nos ensinos básico e superior; em planejamento, organização, implantação e direção de serviços de pesquisa histórica; e no assessoramento voltado à avaliação e seleção de documentos para fins de preservação. 

Aprovado nas comissões de Assuntos Sociais (CAS); de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); e de Educação, Cultura e Esporte (CE), o projeto recebeu emenda, em Plenário, do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) que retirou do texto original a referência aos locais onde o trabalho do historiador poderia ser desempenhado. 

Discussão Assim como Pedro Taques (PDT-MT), o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) votou contra o projeto. Ele considerou "um profundo equívoco" dar exclusividade em atividades de ensino e pesquisa, seja em graduação ou pós-graduação, apenas para quem tem formação em História. Na opinião do parlamentar, a situação cria "absurdos" como impedir que economistas, sociólogos, diplomatas ou outros profissionais qualificados ministrem a disciplina, havendo o risco de "engessar" o ensino da História. 

" [A História] É a investigação sobre a evolução das sociedades humanas que tem que ser vista sob os mais diferentes prismas. História é política. História é vida. História é pluralismo. Não pode ser objeto de um carimbo profissional " argumentou. Aloysio Nunes ainda condenou o que chamou de "reserva de mercado" dos profissionais com curso superior em História e a formação de uma "República Corporativa do Brasil", onde cada profissão exige "seu nicho de atividade exclusiva em prejuízo da universalidade do conhecimento". 

Capacitação Já a senadora Ana Amélia (PP-RS) defendeu o projeto ao ler relatório do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), aprovado na CCJ, em que este declara que "a omissão do legislador pode permitir que pessoas inabilitadas no exercício profissional coloque em risco valores, objetos ou pessoas." 

O texto ressalta ainda a relevância do papel do historiador na sociedade, com "impactos culturais e educativos" capazes de ensejar "a presença de normas regulamentadoras" da profissão. E conclui que não pode permitir que o campo de atividade desses profissionais seja ocupado por pessoas de outras áreas, muitas delas regulamentadas, mas sem a capacitação necessária para exercer o trabalho. 

A matéria segue agora para votação na Câmara dos Deputados.

Fonte: Agência Senado 

Extraído de: http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2012/11/07/aprovado-projeto-que-regulamenta-profissao-de-historiador

 

 

 

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Profissão historiador: a caminho da regulamentação

Niterói, 02 de março de 2011

 

Da Redação

Após terem o seu dia estabelecido no ano passado – 19 de agosto -, conforme noticiado pela Revista Tema Livre, hoje, 2 de março, os historiadores obtiveram importante vitória: A CCJ (Comissão de Constituição Justiça e Cidadania) aprovou o projeto de regulamentação da profissão, de autoria do senador Paulo Paim, do PT gaúcho.

Entretanto, a aprovação de hoje não significa que a profissão já esteja regulamentada. Ainda falta passar por duas comissões, em que ocorrerão novas votações: a Comissão de Educação (CE) e, depois, a de Assuntos Sociais (CAS). Depois, o projeto irá para a Câmara.

É esperar para ver, inclusive se tal aprovação virá ou não a ocorrer neste ano. Quem sabe a boa notícia não virá durante as comemorações dos 50 anos da Associação de Historiadores. Provavelmente, melhor presente não haveria para a classe!

 

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Irreparável perda intelectual: faleceu hoje no Rio o historiador Manoel Salgado

 

Niterói, 27 de abril de 2010

Com profundo pesar noticiamos que faleceu, na manhã de hoje (27/4), no Rio de Janeiro, em função de um câncer contra o qual lutava há alguns meses, o historiador Manoel Luiz Salgado Guimarães, professor dos departamentos de história da UFRJ e da UERJ.

Manoel Salgado, como era conhecido o historiador no meio acadêmico, era Graduado em História pela UFF (1979), Mestre em Filosofia pela PUC-Rio (1982) e Doutor em História pela Freie Universität Berlin (1987), além de possuir Pós-Doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS (2000).

Ao longo de sua trajetória profissional, a produção intelectual de Manoel Salgado foi publicada no Brasil e no exterior, como foi o caso de seu livro “Geschichtsschreibung Und Nation In Brasilien 1838-1857” (Historiografia e Nação no Brasil: 1838-1857), editado, em 1987, na Alemanha. Os trabalhos acadêmicos de Manoel Salgado ainda compuseram anais de congressos e páginas de revistas especializadas. Os textos do historiador ainda ganharam espaço em veículos de comunicação dirigidos ao grande público.

À vasta atuação do historiador agrega-se que Manoel Salgado presidiu a ANPUH (Associação Nacional de História) no período de 2007 a 2009, bem como esteve à frente da seção Rio de Janeiro da citada associação entre os anos de 2002 e 2004. Atualmente, desenvolvia os projetos de pesquisa “Memória, escrita da história e culturas políticas no mundo luso-brasileiro” e “Tradição e inovação na cultura histórica oitocentista em Portugal e no Brasil”.

Manoel Salgado ainda foi responsável pela formação de vários historiadores, tendo orientado 93 trabalhos acadêmicos, estando entre eles teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de graduação. Atualmente, o historiador orientava quatro trabalhos de Mestrado e seis de Doutorado, que o levaria ao número de mais de 100 orientações.

Foto do historiador Manoel Salgado. Acervo do "Núcleo de Memória da PUC-Rio".

Foto do historiador Manoel Salgado. Acervo do "Núcleo de Memória da PUC-Rio".

O corpo de Manoel Salgado será velado amanhã (28/4), a partir das 9h, e o sepultamento ocorrerá às 11h, no Memorial do Carmo (Caju, Rio de Janeiro).

Links para artigo e entrevista de Manoel Salgado:

Revista Topoi – UFRJ: http://www.ppghis.ifcs.ufrj.br/media/topoi5a7.pdf


Jornal O Povo – Fortaleza, CE: http://opovo.uol.com.br/conteudoextra/892766.html

 

 

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Senado aprova a regulamentação da profissão de historiador

 

 

Niterói, 14 de março de 2010.

Na última quarta-feira foi aprovada pela CAS (Comissão de Assuntos Internos) do Senado a profissão de historiador. O projeto de lei PLS 368/09, do senador Paulo Paim (PT-RS) e que teve como relator o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), foi aprovado em decisão terminativa.

Esta aprovação não significa a proibição do exercício da atividade por aqueles que não possuem graduação ou mestrado ou doutorado em História, no entanto, garante, em concursos públicos, vagas aos indivíduos com formação na área. Vagas para o magistério estão incluídas nesta mudança, bem como estabelece-se a necessidade de participação do historiador na avaliação e seleção de documentos para preservação, na organização de informações para exposições, publicações e eventos, em serviços de pesquisa, e, ainda, a elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre temas históricos.

Ao votar pela aprovação, Buarque destacou em seu discurso que, hoje, o campo de atuação do historiador não é mais restrito às salas de aulas, apontando, além de museus e centro culturais, a atuação do profissional em empresas do campo do turismo, da publicidade, do jornalismo, do cinema e da TV. Pela crescente importância deste ofício, o senador vê a regulamentação como meio legal de reconhecimento e valorização da profissão.

Apesar deste importante passo, isto não significa que a profissão de historiador esteja, ainda, regulamentada. O projeto continua a tramitar no Congresso Nacional. Resta, agora, acompanhar os próximos passos desta história.
Leia mais sobre a profissão do historiador na Revista Tema Livre:

– HISTORIADORES A UM PASSO DA REGULAMENTAÇÃO DE SUA PROFISSÃO (20 fev 2010)
– CONHEÇA, NA INTEGRA, O PROJETO QUE VISA REGULAMENTAR A PROFISSÃO DO HISTORIADOR
– HISTORIADOR É A 5ª MELHOR PROFISSÃO DOS EUA (01 fev 2010)
– É ESTABELECIDO O DIA NACIONAL DO HISTORIADOR (18 jan 2010)

 

 

 

 

 

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Historiadores a um passo da regulamentação de sua profissão

Niterói, sábado, 20 de fevereiro de 2010.

Está prestes a ser solucionada uma antiga reivindicação de muitos historiadores e da associação que os representa, a ANPUH: A regulamentação da profissão do historiador. O Projeto de Lei 368/2009, apresentado em agosto passado pelo Senador Paulo Paim (PT-RS), teve, no último dia 11, parecer favorável do relator do projeto, o Senador Cristóvam Buarque (PDT-DF). No entanto, a votação não ocorreu por falta de quórum e, conseqüentemente, houve o seu adiamento.

Neste momento, a condição para a aprovação do projeto é a questão relacionada ao quórum, pois uma vez sendo votada pela Comissão de Assuntos Sociais, presidida pela Senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), a matéria não terá que passar por nenhuma instância do Congresso Nacional. Deste modo, caso a supracitada Comissão dê o seu parecer favorável, tornará a profissão de historiador regulamentada. Agora, é só esperar o quórum!
Você é favorável à regulamentação da profissão do historiador Para votar, clique aqui.

Placar em 20 de fevereiro de 2010:
Sim – 83%
Não – 17%
Conheça, na integra, o projeto que visa regulamentar a profissão do historiador:

“SENADO FEDERAL
PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 368, DE 2009
Regula o exercício da profissão de Historiador e dá outras providências.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Esta Lei regulamenta a profissão de Historiador, estabelece os requisitos para o exercício da atividade profissional e determina o registro em órgão competente.
Art. 2º É livre o exercício da atividade profissional de Historiador, desde que atendidas às qualificações e exigências estabelecidas nesta Lei.
Art. 3º O exercício da profissão de Historiador, em todo o território nacional, é privativa dos:
I – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por instituições regulares de ensino;
II – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por instituições estrangeiras e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação;
III – portadores de diploma de mestrado, ou doutorado, em História, expedido por instituições regulares de ensino superior, ou por instituições estrangeiras e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação.
Art. 4º São atribuições dos Historiadores:
I – magistério da disciplina de História nos estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior.
II – organização de informações para publicações, exposições e eventos em empresas, museus, editoras, produtoras de vídeo e de CD-ROM, ou emissoras de Televisão, sobre temas de História;
III – planejamento, organização, implantação e direção de serviços de pesquisa histórica;
IV – assessoramento, organização, implantação e direção de serviços de documentação e informação histórica;
V – assessoramento voltado à avaliação e seleção de documentos, para fins de preservação;
VI – elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre temas históricos.
Art. 5º Para o provimento e exercício de cargos, funções ou empregos de Historiador, é obrigatória a apresentação de diploma nos termos do art. 3º desta Lei.
Art. 6º A entidades que prestam serviços em História manterão, em seu quadro de pessoal ou em regime de contrato para prestação de serviços, Historiadores legalmente habilitados.
Art. 7º O exercício da profissão de Historiador requer prévio registro na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do local onde o profissional irá atuar.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
O campo de atuação do historiador não tem se restringido mais à sala de aula, tradicional reduto desse profissional. Sua presença é cada vez mais requisitada não só por entidades de apoio à cultura, para desenvolver atividades e cooperar, juntamente com profissionais de outras áreas, no resgate e na preservação do nosso patrimônio histórico, mas também por estabelecimentos industriais, comerciais, de serviço e de produção artística.
No âmbito industrial, o historiador vem trabalhando na área de consultoria sobre produtos que foram lançados no passado, para análise de sua trajetória e avaliação sobre a viabilidade de seu relançamento no mercado consumidor, ou ainda, para o estudo das causas de seu sucesso ou fracasso.
Pelas suas qualificações, o historiador é imprescindível para os estabelecimentos do setor de turismo, que contratam seus serviços para desenvolver roteiros turísticos para visitação de locais com apelo histórico e cultural.
Entidades públicas e privadas recorrem ao historiador para recolherem e organizarem informações para publicação, produção de vídeo e de CD-ROM, programas em emissoras de televisão, exposições, eventos sobre temas de história.
Não menos valiosa é a sua colaboração nas artes, onde o historiador faz pesquisa de época para os produtores de teatro, cinema e televisão, quer auxiliando na elaboração de roteiros, quer dando consultoria sobre os cenários e outros elementos da produção artística.
Num mundo onde a qualidade e a excelência de bens e serviços vêm se sofisticando cada vez mais, os historiadores devem ter sua profissão regulamentada, pois seu trabalho não mais comporta amadores ou aventureiros de primeira viagem.
Assim, julgamos ter chegado o momento de regulamentarmos o exercício da profissão de historiador que hoje congrega, em todo o país, milhares de profissionais que reivindicam, há muito, o reconhecimento e valorização de seu trabalho.
Por essas razões, esperamos contar com o apoio de nossos nobres pares para a aprovação deste projeto de lei.
Sala das Sessões,
Senador PAULO PAIM
(À Comissão de Assuntos Sociais.)
Publicado no DSF, 29/08/2009.
Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal – Brasília-DF
OS: 15781/2009”

Documentado extraído de: http://www.anpuh.org/

 

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Prof. Dr. James Naylor Green (California State University)

A seguir, a entrevista que o brasilianista da California State University James Naylor Green concedeu à Revista Tema Livre, no dia 30 de julho de 2003, durante o XXII Encontro Nacional de História, em João Pessoa, na Paraíba. Na entrevista, o historiador fala da oposição ao regime militar brasileiro nos Estados Unidos, da sua atuação como militante em movimentos contra a Guerra do Vietnã e aos regimes militares latino-americanos, além dos seus trabalhos a respeito da América Latina. 

O brasilianista James N. Green durante a sua conferência no Simpósio.

O brasilianista James N. Green durante a sua conferência no Simpósio.

 

Revista Tema Livre – Primeiramente, qual o tema da sua conferência que será proferida hoje?

James Naylor Green – Eu vou falar sobre a oposição à ditadura militar brasileira, que foi realizada nos Estados Unidos nos anos 60/70. 

RTL – E como ocorreu essa oposição nos Estados Unidos?

Green –Primeiro, houve um contato de um grupo de brasileiros com clérigos e acadêmicos norte-americanos, em 69, pedindo ajuda para denunciar internacionalmente a tortura e a repressão no Brasil. Esses acadêmicos e clérigos montaram um comitê para tentar divulgar informações sobre a situação política no Brasil e enfrentaram um certo boicote, um bloqueio, uma filtração da mídia americana, que realmente não acreditava e não exigia provas da questão da tortura. Então, eles montaram todo um esquema de colocar artigos denunciando as torturas, fazendo outras atividades para romper esse bloqueio da informação da grande mídia norte-americana e, realmente, lograram fazer isso. Hoje à noite vou falar mais sobre a atividade dos brasilianistas, ou seja, os acadêmicos norte-americanos que estudam o Brasil, e que cumpriram um papel fundamental nessas campanhas de denúncia à ditadura militar, apoiando os abaixo-assinados, colocando avisos pagos no “The New York Times” denunciando, por exemplo, a prisão do Caio Prado Junior em 70, ou seja, tentando criar uma nova imagem do Brasil. O Brasil, antigamente, sempre foi visto como país tropical, de carnaval, de Carmem Miranda, dos índios, e essas pessoas tentaram colocar no imaginário americano outro tipo de realidade sobre o que estava acontecendo no Brasil nos anos mais difíceis da ditadura militar. 

RTL – E surtiu efeito?

Green – Eu acho que sim, ou seja, você não vai poder ver um efeito claro, direto, dramático. Mas, por exemplo, houve toda uma preparação, um trabalho, em 70, para influenciar um senador do Congresso Americano, que realizou, em 71, uma CPI sobre o apoio militar do governo americano ao Brasil. Então, esse senador, Franklin Church, realizou essa CPI em maio de 71, onde várias pessoas apresentaram provas da tortura no Brasil, a situação da repressão, etc e tal, onde eles tentaram fazer uma ligação entre a ajuda militar, a polícia, e essa tortura. O que, na verdade, não ficou muito claro porque não tinham acesso à documentação para provar isso naquela época. Mas, de qualquer modo, isso cria todo um impacto político no Congresso, na sociedade, em Washington, onde se realizou essa CPI e aqui no Brasil também. Os militares ficaram muito chateados com essa CPI, achando que era uma intervenção nos assuntos internos do país, mas, no ano seguinte, o governo americano, o senador americano apresenta no Congresso uma lei, que não foi aprovada, rompendo a ajuda militar ao governo brasileiro. Um ano depois, em 73 e, depois, em 74, com a crise do presidente Nixon com os escândalos de Watergate, houve uma mudança da composição do Congresso, e muitos congressistas começaram a apoiar esta medida de tirar a ajuda militar aos governos que estavam violando os direitos humanos. Neste caso, o Brasil foi o exemplo mais claro naquela época, foi alicerce de todo um trabalho posterior, denunciando a repressão no Brasil. E, com o golpe no Chile, em 73, que foi muito dramático e chocante, o trabalho do Brasil se expande para o resto da América Latina, então cresce a solidariedade, os grupos, e as pessoas que estão fazendo este trabalho. 

RTL – Falando sobre o apoio norte-americano ao regime militar brasileiro, como ele ocorreu?

Green – Bom, no primeiro momento, houve um apoio político antes do golpe de 64. Por exemplo, uma coisa clássica e que é chocante, é que o governo americano já estava canalizando milhões e milhões de dólares para a aliança para o progresso, para ajudar programas de desenvolvimento, com a idéia de que era fundamental combater o comunismo com alternativas de desenvolvimento etc e tal. Assim, eles canalizaram esse dinheiro em vários estados do nordeste onde tinham governadores da direita, e eles boicotaram qualquer apoio financeiro aos governos da esquerda, como Miguel Arraes, em Pernambuco, para que esses governadores beneficiados aproveitassem nas campanhas eleitorais, ou seja, um projeto nobre sempre ajuda na divulgação de um candidato para governador. Então, houve uma interferência direta de meter-se em assuntos internos do país nesse sentido, por parte do governo americano, para manipular a situação política no país. Esse é um exemplo. 

Está bem trabalhado o apoio que o governo americano deu imediatamente depois do golpe de 64 ao novo governo, ou seja, reconhecendo os militares antes mesmo do Jango sair do país. João Goulart ainda estava na sua fazenda no sul, o Congresso decreta que ele havia abandonado o seu cargo, mas ele estava ainda no país, já estava se retirando da presidência, e o governo americano Johnson reconhece o novo governo, todo ilegalmente, mas que estava procurando uma aparência de legalidade. Sabemos que, indiretamente, eles deram sinais aos militares que o governo americano ia apoiar o golpe de 64, e mandaram um barco com petróleo, gás e armas, para que se fosse necessário, se estourasse uma guerra civil, apoiar os militares. Neste caso, quer dizer, quando ficou claro que os militares realmente já tinham consolidado o seu controle sobre a situação, eles retiraram esse apoio que estava sendo mandado para o Brasil. 

Depois, eles mandaram milhões e milhões de dólares para apoiar a economia do novo governo, o de Castelo Branco e o começo do de Costa e Silva, que tiveram problemas econômicos sérios, muita inflação, e o governo americano ajudou muito para tentar dar uma estabilidade à economia brasileira, para sustentar o regime militar. E, na verdade, em 68, 69, após o AI-5, eles vacilaram um momento, vamos retirar o nosso apoio a esse governo, mas resolveram, assim, continuar com o reconhecimento diplomático ao governo militar. 

Em 76, 77, um novo discurso, um discurso sobre os direitos humanos, o governo de Jimmy Carter, então esse discurso de Jimmy Carter vem do trabalho que nós, os ativistas, eu era militante deste movimento, fizemos no público americano, que ele vai apropriando para a campanha eleitoral dele, para mostrar que ele é moral, religioso, que Nixon era um corrupto, um cara imoral, então vai ter um novo rumo a política exterior dos Estados Unidos. 

RTL – Conte-nos a sua experiência como ativista.

Green – Pois bem, eu era um jovem ativista, no movimento contra a Guerra do Vietnã, era estudante universitário entre 68 e 72, participava ativamente, fui preso várias vezes nas manifestações em Washington contra a Guerra do Vietnã e, em 70, eu já tinha caracterizado que a próxima intervenção norte-americana talvez fosse na América Latina. Então, eu e um grupo de pessoas começamos a formar um coletivo, um grupo de estudos para estudar a América Latina. Eu fui para o México para aprender espanhol, me interessava muito as condições da América Latina e, justamente, conheci por acaso um brasileiro exilado, Marcos Arruda, que foi torturado, conseguiu asilo nos Estados Unidos, a mãe dele morava lá, e ele conseguiu ficar nos Estados Unidos e organizou um comitê, “Committee Against Repression in Brazil”, Comitê Contra a Repressão no Brasil, que organizou um protesto contra o Médici na Casa Branca, quando ele foi visitá-la em 71. Me integrei neste grupo em 73, e fizemos todo um trabalho sobre Brasil e, após o golpe de 11 de setembro de 1973, sobre a situação no Chile e, depois, na Argentina, Uruguai e no resto da América Latina. 

RTL – Qual foi o impacto na sociedade norte-americana do fim do regime militar?

Green – Na verdade, infelizmente, o público americano desconhece a realidade brasileira, sabe muito pouco, não acompanha… E mesmo os universitários, que tem uma certa educação, não sabem sobre esta realidade, então o trabalho que foi realizado naquele momento, o trabalho que eu faço como presidente da Associação de Estudos Brasileiros, como professor de história do Brasil lá, é difícil, é contra a corrente, porque há pouca informação. O que eles conseguiram naquela época da ditadura foi criar uma segunda imagem do Brasil, além da garota de Ipanema e carnaval, um país de terror, de tortura, então conviviam duas imagens do país entre as pessoas que liam os jornais e prestavam a atenção e lembravam que o Brasil era na América Latina e não na África etc e tal. Então, na verdade, eu acho que foi pouca informação sobre esse processo de queda da ditadura militar, também porque foi um processo muito lento, não houve momentos dramáticos, assim, de mobilizações massivas. Houve as mobilizações pelas diretas, que saíram nos jornais, as pessoas que acompanhavam podiam saber o que estava acontecendo, não houve o impacto, vamos dizer, da Revolução Sandinista, ou da Revolução do Iran, que enfrentaram diretamente os interesses americanos, então, estão sempre nos noticiários, esta é uma diferença grande. País muito importante, enorme, mas 80% da população americana, infelizmente, não sabe que se fala o português no Brasil, por exemplo. 

RTL – Qual a inserção do historiador na sociedade norte-americana?

Green – Na verdade, o historiador não tem um peso como, talvez, os historiadores aqui tenham, no sentido de que um historiador da USP, facilmente possa fazer uma coluna na Folha de São Paulo e ser conhecido, a sua voz ser importante etc e tal. Nos Estados Unidos tem alguns historiadores, intelectuais que são importantes nos meios intelectuais, quando eles falam em uma questão política, eles são ouvidos porque tem um certo prestígio, mas eu acho muito mais dispersa esta influência, este efeito na sociedade. 

RTL – Finalizando, como o Sr. vê a internet como meio de divulgação da história?

Green – Eu, que ensino história, acho fabuloso e ruim ao mesmo tempo. Por exemplo, meus alunos agora não sabem ler livros, eles só lêem a internet, facilmente você dá uma tarefa deles fazerem uma pesquisa e eles vão sugando da internet essa informação, sem reflexão, copiando, é muito complicado controlar isso. Então, tem o acesso imediato à informação, mas não existe uma maneira de avaliar quais fontes são verídicas e tem valor, de outras que são coisas que qualquer pessoa colocou em uma página, você entrou por uma frase, aparece essa página, você vai lendo aquilo e acha que isso tem um valor, um peso importante, então isso é um problema sério. Por outro lado, facilita muito a pesquisa. Por exemplo, eu estava procurando várias pessoas, um padre que foi preso em 68, eu vi o nome dele no “The New York Times”, eu queria entrevistá-lo, e, de repente, através da internet, eu o localizei, fizemos contato e ele foi entrevistado. Então, a possibilidade de contato imediato é fabulosa. Outro exemplo é que existe a possibilidade de um intercâmbio muito mais rico entre historiadores brasileiros e de outros países, então, eu tenho laços enormes com centenas de acadêmicos brasileiros através da internet, então há um intercâmbio muito rico neste sentido. Isto é bom, isto é muito bom! 

 

 


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Prof.ª Dr.ª Carla Ferretti Santiago (PUC-MG)

A seguir, entrevista que a historiadora Carla Ferretti Santiago concedeu à Revista Tema Livre no dia 29 de julho de 2003, durante o XXII Simpósio Nacional de História. Na entrevista, a historiadora conta da sua experiência na produção de documentários, fala sobre a atuação do profissional da historia em veículos de comunicação, além do uso da televisão e da internet para a divulgação do conhecimento histórico.

Revista Tema Livre – Comente um pouco a sua experiência na TV Universitária.

Carla Ferretti Santiago – A nossa experiência é resultado da parceria do departamento de história da PUC-MG com a TV PUC, e tem o objetivo da produção de documentários de temas históricos para a televisão. Nós temos dois documentários hoje, já há um ano e meio que nós temos produzido para a televisão universitária, um se chama “Coração Informado”, que trata de personagens da história brasileira, especialmente vinculados a Minas Gerais, que tiveram ações de defesa dos direitos humanos, direitos políticos, da defesa da dignidade humana de uma maneira geral. O segundo documentário é uma série de mini documentários da década de vinte e da década de cinqüenta, documentários de um minuto e meio, um minuto aproximadamente, que são inseridos nos intervalos da televisão universitária. Essas duas séries são coordenadas por quatro professores e, em um ano e meio de produção, já envolveram quatorze alunos.

RTL – Qual o papel do profissional da história nesta área em que história e comunicação são integradas?

Santiago – Olha, esses documentários nós fizemos a proposta de parceria com a TV Universitária com dois objetivos. Primeiro, divulgar a história para um público mais amplo e, segundo, aproximar o nosso aluno de um veículo de comunicação no qual o historiador se faz cada vez mais presente. E que nós não temos uma formação, nem pensamos este espaço como espaço de atuação profissional. Além disso, para a elaboração destes documentários os nossos alunos realizam a pesquisa primária, que embasa os documentários, pesquisa de texto, de imagem e de som. Então eles se preparam também como pesquisadores. E, de uma maneira mais resumida, estes documentários estão colocando alunos e professores para refletirem sobre este espaço que é a televisão, para que ele cada vez mais se afirme como espaço no qual a presença do historiador seja cada vez mais significativa.

RTL – Qual a sua opinião sobre estas novos espaços, como a televisão e a internet, por exemplo, para a divulgação da história?

Santiago – Vejo sempre com muita satisfação, acho que quanto mais espaços tiverem para a divulgação do conhecimento histórico, melhor, e que o historiador seja presente nesses espaços. É obvio que nem sempre ele está presente, muita coisa é produzida por profissionais da área de comunicação, do jornalismo, o que não inviabiliza estes espaços como espaços de divulgação. Mesmo estas produções, como produções que estão produzindo uma narrativa sobre o passado com a qual os historiadores têm que dialogar.

RTL – Neste trabalho na TV Universitária, qual a maior dificuldade encontrada?

Santiago – Eu vejo duas dificuldades. A primeira é a de fontes, especialmente imagens, e muito particularmente, imagens em movimento. Filmes. Nós não temos em Belo Horizonte um arquivo de filmes em número significativo, tem um arquivo, mas precário, pouco numeroso os documentos fílmicos, então isso para nós é um grande embaraço. O segundo embaraço é conciliar o ritmo da televisão, o ritmo do jornalista, que é o ritmo acelerado, do instantâneo, do imediato, com o nosso ritmo da pesquisa histórica que exige um tempo um pouquinho mais alentado. Isso, às duras penas o curso, os alunos, os professores envolvidos nos projetos e a televisão universitária, nós estamos adequando os nossos tempos.

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Prof. Dr. António Manuel Hespanha (Universidade Nova de Lisboa)

A seguir, a entrevista que o historiador António Manuel Hespanha, da Universidade Nova de Lisboa, concedeu a Revista Tema Livre, realizada no dia 29 de julho, durante o XXII Simpósio Nacional de História.

 

O professor António Manuel Hespanha durante conferência no Simpósio.

O professor António Manuel Hespanha durante conferência no Simpósio.

 

Revista Tema Livre – Qual o tema da sua conferência no XXII Simpósio Nacional de História?

António Manuel Hespanha – Eu procurei refletir com os meus colegas acerca da natureza do poder. E a minha idéia principal é que o poder não está tanto no sítio onde nós julgamos que ele está, ou seja, no Estado, na polícia, nos tribunais, mas no fundo está em todo o lado, nas nossas próprias casas, nas relações com os nossos amigos, e que em casa um desses lugares ele se manifesta de uma forma diferente. E que é isso que precisa ser estudado pela história política.

RTL – Qual a diferença entre a história política e história do Estado?

Hespanha – É justamente isso, é que se reduzirmos a história política à história do Estado há muitos fenômenos de poder que ficam fora e que nós nunca vimos, e o que temos que ver e é explicativo da sociedade é justamente esse outro poder que está fora do Estado. Porque nem na sua vida nem na minha, o Estado, se calhar, nunca entrou. Nunca esteve na cadeia, nunca teve querelas com tribunais, enfim, o Estado na sua vida não entrou, na minha que sou bastante mais velho também praticamente não entrou, e, no entanto, nós não somos livres. Não somos livres por quê? Porque há muitos poderes na sociedade que não são o Estado. E é nesses que é preciso que nós, para criticarmos a sociedade atual ou para percebermos as sociedades históricas, é que temos que atentar.

RTL – Qual a inserção do historiador na sociedade portuguesa?

Hespanha – Os historiadores têm alguma importância na sociedade portuguesa e nas outras não portuguesas também, porque ajudam a perceber o presente. Os historiadores tratam sobre o passado, mas, no fundo, tem que servir, como toda a gente, ao presente e, por isso, se a história não tiver nenhum significado para o presente, para tornar a sociedade actual mais perfeita, menos injusta, a história não tem grande sentido. Ou seja, o historiador não deve ser só um amante de coisas antigas, do passado pelo passado, mas deve tentar perceber a sociedade em que vive, para melhorá-la naturalmente.

RTL – Como estão as relações acadêmicas entre Portugal e o Brasil?

Hespanha – Muito melhor que há uns anos. Hoje em dia há contactos e trocas regulares entre professores dos dois países e as coisas estão a melhorar muito, já não é a velha retórica da fraternidade, é mais do que isso, as pessoas estão a trabalhar mesmo.

RTL – Qual a importância, na sua opinião, de um evento como a ANPUH?

Hespanha – Bom, é muito grande, para mim é absolutamente inédito porque nunca tinha visto reunidos tantos professores universitários de história. Portugal é um país pequenino, o Brasil é um país muito grande, e tem muita gente e muito boa gente.

RTL – Finalizando, em Portugal há a discussão sobre a regulamentação da profissão do historiador? E se há, qual o seu posicionamento?

Hespanha – Não, não há. Esse problema em Portugal não se pôs sobre a regulamentação da profissão do historiador. Devo dizer que nem sei eu o que se quer dizer com isso. As regras da profissão do historiador nós sabemos, nós historiadores sabemos quais são, temos que ser honesto com as fontes, consultar as fontes, seguir as regras da arte… Mas isso não é nada que possa ser imposto por leis, digamos, está dentro do coração de cada historiador, da consciência de cada historiador, como fazer a história. Não creio que a lei possa adiantar nada.

Prof.ª Dr.ª Margarida Maria Dias (Universidade Federal da Paraíba)

Abaixo, a entrevista realizada pela Revista Tema Livre no dia 28 de julho na UFPB com a historiadora Margarida Maria Dias, coordenadora do XXII Simpósio Nacional de História e vice-presidente da ANPUH.

A Prof ª. Drª. Margarida Maria durante pronunciamento na abertura do Simpósio.

A Prof.ª Dr.ª Margarida Maria durante pronunciamento na abertura do Simpósio.

Revista Tema Livre – Primeiramente, qual a importância do evento para a região?

Margarida Maria Dias – A importância é muito grande. É um evento nacional, mas com convidados de muitos outros países. Estão hoje aqui representados todos os estados da federação, então é importante para a região, para o Estado, para a cidade de João Pessoa, não só pela relevância para a pesquisa histórica mas, também, para a divulgação do que é feito na nossa terra, da nossa cultura e dos próprios avanços da pesquisa histórica aqui no Nordeste.

RTL – E quais seriam esses avanços?

Dias – Olha, nós conseguimos uma coisa muito interessante aqui no Nordeste que foi a união dos núcleos regionais da ANPUH. Como resultado, nós temos uma troca de informação muito importante e uma troca de experiências também muito interessante. Então é muito bom, por exemplo, a gente saber que muitos colegas estão atuando em prefeituras, em cidades menores organizando arquivos, organizando fontes orais, organizando arquivos particulares, que possibilitam a escrita da história a nível local. E é interessante isso para o surgimento de outras histórias, não só dessa história tradicional, mas de outras histórias, de outros grupos, de comunidades, de movimento de trabalhadores e tal.

RTL – Quais são as atividades previstas para o evento?

Dias – Nós temos previstas doze conferências, sessenta e um simpósios temáticos, que são os locais de apresentação de trabalhos dos profissionais de história, duzentos e vinte painéis de alunos de graduação em história, quarenta e cinco mini-cursos, e temos, ainda, atividades culturais e exposições, como da ANPUH 25 anos, Sertão bravuras e bravezas, e, também, uma peça de teatro que é feita por um grupo do curso de História daqui da UFPB, o grupo História e Arte, que vai ser apresentada com um texto de uma historiadora.

RTL – Quem é essa historiadora? Sobre o que é a peça?

Dias – A peça vai ser apresentada hoje (28/07) no Teatro Santa Rosa, que é um teatro do século XIX, muito bonito, foi uma forma também que nós encontramos de mostrar o teatro para vocês, e o texto é da professora Joana Neves, que é uma das organizadoras do evento, e que está neste momento apresentando trabalho.

RTL – E sobre os números do evento? Quantos inscritos? Quantos profissionais estão aqui apresentando trabalho?

Dias – Apresentando trabalho nós temos uma média de duas mil pessoas. Estudantes de graduação nós temos uma média de 220. Participando do evento nós temos mais ou menos cinco mil pessoas. Desses participantes três mil e quinhentos devem ser profissionais e mil e quinhentos estudantes.

RTL – Qual a sua opinião sobre o fato de pessoas que não tem formação em história – em graduação ou pós-graduação – atuarem escrevendo e utilizando o título de historiador?

Dias – Eu acho que a ANPUH tem que retomar essa luta, o ano passado, infelizmente, o projeto de reconhecimento da profissão de historiador foi arquivado, mas a gente precisa retomar isso. Como membro da direção nacional sempre estive muito sensibilizada a esta questão, e como vou continuar na diretoria nacional, pretendo, junto com os meus colegas, retomar essa luta, porque eu acho que é fundamental o reconhecimento da profissão, para a gente de fato qualificar e ter as garantias, embora isso não seja imediato. Não é só porque é historiador que escreve algo de qualidade, a gente tem que melhorar os cursos de graduação também. Eu acho que essa é uma luta que a gente vai precisar retomar urgentemente, porque realmente, história é uma coisa muito séria, o passado forma identidades, o passado forma uma série de referências, e a gente tem que tomar muito cuidado com isso.

XXII Simpósio Nacional de História

O XXII Simpósio da ANPUH, realizado em João Pessoa, no campus da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), no período de 27 de julho a 01 de agosto, contou com cerca de 5.000 participantes, entre eles pesquisadores brasileiros e estrangeiros, sendo este o maior evento da área de história no Brasil.

Sessão de abertura do XXII Simpósio Nacional de História.

Sessão de abertura do XXII Simpósio Nacional de História.

O evento, que contou com diversas conferências, simpósios temáticos, mini-cursos, e outras atividades, teve a sua abertura realizada no Espaço Cultural José Lins do Rego, no domingo à noite, a reunir, já aí, diversos pesquisadores, além de ter-se realizado a conferência de abertura do Simpósio com o prof. Dr. Edgar Salvadori De Decca, da UNICAMP e presidente da ANPUH (2001-2003), que discorreu sobre o tema do encontro: “História, acontecimento e narrativa.”

XXII Simpósio da ANPUH,

O Prof. Dr. Edgard Salvadori de Deca durante a abertura do evento.

Carla Ferretti Santiago, historiadora e professora da PUC-MG, em relação à importância do evento para os historiadores brasileiros afirma: “participo já há vários anos dos Simpósios da ANPUH, acho que eles são espaços de interlocução, de conhecimento das várias instituições do Brasil inteiro. São eventos grandes, por isso trazem uma série de problemas, mas vejo como espaço necessário para que os historiadores a nível nacional troquem suas experiências, então, sempre procuro estar presente para ver o que o meu colega do Rio Grande do Sul, de Goiás, de onde for, está fazendo.”

Pronunciamento do reitor da UFPB, prof. Jader Nunes de Oliveira, na solenidade de abertura.

Pronunciamento do reitor da UFPB, Prof. Dr. Jader Nunes de Oliveira, na solenidade de abertura.

Soma-se, ainda, que durante o Simpósio foi empossada a nova diretoria nacional da ANPUH, com a seguinte composição:

 

Presidente: Luis Carlos Soares – UFF

Vice-Presidente: José Miguel Arias Neto – UEL

Secretário Geral: João Pinto Furtado – UFMG

1º Secretário: Tereza Malatian – UNESP/Franca

2º Secretário: Margarida Maria Dias de Oliveira – UFPB/UNIPÊ

1º Tesoureiro: John Monteiro – UNICAMP

2º Tesoureiro: Antonio Carlos Amador Gil – UFES

 

Assim, o XXII Simpósio da ANPUH, durante uma semana, proporcionou a troca de experiências entre grandes nomes da história, não só do Brasil, mas, também, do exterior. O próximo evento nacional, em 2005, realizar-se-á em Maringá, no Paraná, sendo 2004 o ano para os eventos regionais, que, no caso do Rio de Janeiro, terá a UFRJ como ponto de encontro.

 

Entrevistas realizadas durante o XXII Simpósio Nacional de História:

António Manuel Hespanha

Carla Ferretti Santiago

James N. Green

Margarida Maria Dias

Para mais entrevistas com historiadores na Revista Tema Livre, clique aqui.

Para a leitura da cobertura de outros eventos, clique aqui.

Prof. Dr. Francisco Carlos Palomanes Martinho (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ)

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Revista Tema Livre pelo professor Francisco Carlos Palomanes Martinho, presidente da ANPUH regional, no dia 14 de Outubro de 2002, durante a realização do X encontro regional de história, no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Na entrevista, o Professor Martinho faz sua analise do evento, fala da regulamentação da profissão de historiador e, ainda, da utilização, por parte da TV e do cinema de personagens e fatos históricos.

Revista Tema Livre – Primeiramente, o que é a ANPUH regional ?

Francisco Carlos Palomanes Martinho – ANPUH regional é a seção do Rio de Janeiro, a organização no âmbito do estado, da Associação Nacional de História. A Associação Nacional de História é uma entidade civil, criada em 1961, que congrega professores universitários de história, e que tem como finalidade mais importante a difusão de trabalhos acadêmicos dos professores afiliados a entidade.

RTL – Qual a sua analise do evento ?

Martinho – É uma analise muito positiva. Na verdade, ao contrário da maioria das outras associações acadêmicas, a ANPUH prefere fazer encontros dentro de universidades, no próprio campus universitário, ao invés de um hotel ou coisa que o valha, como a maioria das outras associações. E nós procuramos trazer para a participação da ANPUH o número maior possível de alunos tanto de graduação quanto de pós-graduação. Quer dizer, é um evento relativamente grande, relativamente oneroso, mas muito positivo. Ao final do encontro, os trabalhos aqui entregues são publicados nos anais do encontro, o que seria a última atividade da atual gestão da ANPUH. Outra coisa positiva desse encontro e que eu acho que vai dar um salto qualitativo para a associação é o fato de que nós que tínhamos uma dificuldade logística muito grande, dessa vez conseguimos uma sede própria para a ANPUH. A ANPUH agora vai ter uma sala localizada no arquivo público do Estado do Rio de Janeiro, que é o lugar ideal para uma associação de historiadores, e o nome da sala vai ser Sérgio Buarque de Holanda, em homenagem ao centenário do Sérgio Buarque. A obtenção dessa sala vai facilitar a organização da entidade, a distribuição de material junto aos associados, e o seu funcionamento naturalmente será mais eficaz do que vem sendo até hoje.

RTL – Existem planos para estender aos alunos da graduação a possibilidade de vir a filiarem-se à ANPUH para terem acesso a publicações da associação ?

Martinho – Na verdade o planejamento foi em um sentido contrário, quer dizer, o termo original ANPUH, a sigla, significava Associação Nacional de Professores Universitários de História, depois ela mudou, manteve a sigla ANPUH mas passou para Associação Nacional de História, na qual podem se filiar não só professores universitários, mas professores do ensino médio e fundamental. Nos anos 80, alunos de graduação podiam participar das comunicações coordenadas e demais comunicações, hoje, já não podem mais, uma vez que, em primeiro lugar há fóruns para os alunos de graduação participarem, nomeadamente as semanas de iniciação científica, as universidades e etc e essa é uma associação que apesar de não ser mais, ou de não se chamar mais uma associação de professores universitários é uma associação de profissionais, então ela não deve ser confundida com outro tipo de associação. Há uma reivindicação que está em aberto que é em relação à participação dos alunos que tem bolsa de iniciação cientifica, porque o CNPQ cobra desses alunos a participação em eventos acadêmicos. Alguns professores consideram ruim a ANPUH vetar a participação dos seus próprios alunos de história em um evento organizado para a difusão cientifica da história e para a difusão de trabalhos acadêmicos na área de história, quer dizer, seria ir contra o espirito da bolsa de iniciação cientifica. Então essa é uma reivindicação que vai ser posta em questão em assembléia (A assembléia, realizada após a entrevista, decidiu permitir a participação do aluno de graduação desde que tenha a orientação de um professor).

RTL – No atual contexto brasileiro, qual o papel do historiador ?

Martinho – Quer dizer, todo profissional tem uma importância muito grande. O historiador não deve, naturalmente, superdimensionar o seu papel, nem subdimensionar. O papel do historiador é importante como difusor de conhecimento e como propagador do pensamento crítico. Quer dizer, a rigor, ao contrário do que se pensou muito nos anos 70, não é exatamente o papel do historiador fazer um trabalho de intervenção. O trabalho de intervenção cabe ao político. É natural que um historiador como um cidadão é um ser político também, mas o trabalho dele será tanto melhor quanto mais critico for e quanto mais abrangente for na sua critica, quer dizer, o papel do historiador não é o papel do militante social, embora muitas vezes possam existir pontos de interseção entre um e outro.

RTL – E sobre a regulamentação da profissão, na sua opinião, isso seria algo importante ou desnecessário para o historiador?

Martinho – Esse também é um tema aberto na associação. Há colegas associados que são favoráveis e há colegas associados que são contrários, quer dizer, no encontro de Florianópolis, em 99, que foi o encontro nacional da ANPUH, essa questão foi discutida, sendo ponto de polêmica e de indagação, havendo uma tendência predominante a aceitação ao apoio da regulamentação. Eu pessoalmente sou contra, acho que há um exagero nesse bacharelismo, na necessidade de determinar, quando, na prática, você tem no Brasil um número muito grande de excelentes historiadores que não tem o diploma de história. Como você teve e tem cada vez menos, infelizmente, um número muito grande de excelentes jornalistas que não tem o diploma de jornalismo. Aliás, depois que houve a regulamentação da profissão de jornalista, os jornais se empobreceram. Claro que essa não é a única relação, mas esse é um fato. Hoje, por exemplo, figuras como João Saldanha e como Sandro Moreira não poderiam ser jornalistas, assim como figuras como Caio Prado Júnior ou Jacob Gorender não poderiam ser historiadores, embora não tenham o diploma de historiador, e são excelentes historiadores. O Gorender, aliás, não tem nem o diploma de nível superior, então essa amarra é, ao meu juízo, muito perigosa. Agora, essa é uma opinião minha, individual, como cidadão que tem opinião sobre as coisas. A Associação, de uma maneira geral, tende a ser favorável a regulamentação.

RTL – Qual o seu ponto de vista sobre a utilização por parte da TV de fatos e personagens históricos, como recentemente, houve uma série que colocou uma figura um tanto quanto polêmica do D. João, da Dona Carlota e de toda a família real?

Martinho – Olha, eu acho que aí essa questão da relação entre a arte e a história, seja literatura, seja o cinema, seja a tv, ela é sempre polêmica e provocadora de tensões. Não cabe a nós censurar o trabalho do artista, o trabalho do artista é um trabalho livre, toda criação é livre, e você pode fazer dela o que você quiser. O problema é quando essa obra literária ou artística pretende ser uma obra interpretativa de um determinado período histórico. Quer dizer, quando para além da criação artística ela tem uma visão histórica e pretende fazer opinião a partir da visão histórica que ela tem. Aí eu acho que é justo que o historiador critique o conteúdo daquilo que está sendo feito, daquilo que está sendo elaborado. Tanto nesse episódio da minissérie da Rede Globo, quanto no filme da Carla Camurati, Carlota Joaquina, que são os dois mais recentes e que causaram mais polêmica, o grande problema é que a figura do D. João foi colocada de maneira muito caricaturada, quer dizer, de maneira muito empobrecida, enquanto na verdade ele foi um grande estadista. Para o bem ou para o mal é D. João um dos responsáveis diretos pela manutenção da América Portuguesa unificada, enquanto a América Espanhola é toda retalhada em pequenas repúblicas. A América Portuguesa se manteve unificada em decorrência do papel desempenhado pelo D. João nas relações políticas, nas relações internacionais à época. Então, eu acho que é justo que o historiador critique o conteúdo, na medida em que esse conteúdo pretende de certa maneira reconstituir a história passada.

RTL – Quais são os futuros eventos que a ANPUH regional pretende realizar?

Martinho – Bom, a ANPUH realiza encontros de dois em dois anos de âmbito regional e encontros de âmbito nacional também de dois em dois anos não coincidindo os anos, então, nos anos pares, são os encontros regionais e, nos anos ímpares, são os encontros nacionais. Agora, nesse encontro, na assembléia da associação, vai ser definido o tema do próximo encontro, pois cada encontro tem um tema especifico, onde as conferências e as mesas redondas obedecem a um tema, e o desse ano é história e biografia, mas no próximo encontro vai ser outro. Agora, para além disso, nós temos vários grupos de trabalho vinculados à ANPUH, vários GTs, que pegam temas dos mais variados, desde os GTs de gênero, por exemplo, como o GT de história da ciência, GT de história agrária e esses GTS têm a obrigação, têm a função de, ao longo desses dois anos, funcionarem, quer dizer, promoverem um conjunto de atividades que não dependem desses encontros bianuais da associação. Então, a associação se mantém viva através desses grupos de trabalho, dessas pesquisas congregadas de historiadores das várias universidades daqui do Rio.

RTL – Finalizando, para associar-se a ANPUH?

Martinho – Para se associar a ANPUH tem que procurar a direção regional, se associando aqui está automaticamente associado a ANPUH nacional e a ANPUH como um todo. A obrigação do associado é pagar a anuidade, estar em dia com a mesma e, pagando a anuidade, o associado tem o direito a receber a Revista Brasileira de História, publicada pela ANPUH nacional. Então, o certo é procurar a direção da ANPUH regional. Esse ano como o encontro foi na UERJ, a direção é da UERJ, o próximo encontro provavelmente será na UFRJ, então o futuro presidente da ANPUH provavelmente será um professor do Departamento de História da UFRJ (Após a entrevista, a presidência da ANPUH-RJ passou a ser ocupada pelo professor Manuel Salgado Guimarães – UFRJ/UERJ -, tendo como vice a professora Tânia Bessone – UERJ).