Tag Archives: bancos

Grupo Bradesco Seguros anuncia nova sede no Rio de Janeiro

bradesco-segurosO Grupo Bradesco Seguros ganhará uma nova sede no Rio de Janeiro, na revitalizada Zona Portuária. Com 40 mil metros quadrados e 18 andares de escritórios, o edifício de alto padrão abrigará as atividades do Grupo Segurador concentradas na cidade, que incluem as unidades da Bradesco Saúde e Bradesco Auto/RE. O negócio, liderado pela BSP Empreendimentos Imobiliários, empresa do Grupo Segurador que responde pela gestão de seus ativos imobiliários, foi assinado com a companhia imobiliária Tishman Speyer.

Além da localização do empreendimento – de frente para a Baía de Guanabara, ao lado das principais vias de acesso da cidade, como Avenida Brasil, Linha Vermelha e Ponte Rio-Niterói, próximo aos aeroportos Santos Dumont e Galeão – outro fator determinante para a escolha foi o perfil sustentável do empreendimento, que alia alta tecnologia ao uso racional dos recursos naturais.

"O Grupo Bradesco Seguros tem uma ligação histórica com a cidade do Rio de Janeiro. Com o novo prédio, que se destaca por sua modernidade, ecoeficiência e posição privilegiada, reforçamos esse laço. Temos orgulho em oferecer esse novo ambiente às nossas equipes onde, brevemente, receberemos nossos parceiros comerciais", destaca o diretor Jurídico e de Compliance do Grupo Bradesco Seguros, Ivan Gontijo.

Com sistema próprio de reaproveitamento da água, inclusive da chuva, e outros mecanismos que garantem o uso renovável dos recursos naturais, o prédio preenche todos os requisitos das certificações internacionais de sustentabilidade, como a Leed Gold, concedida pelo Green Building Council dos Estados Unidos. Com lajes de 2 mil metros quadrados, o empreendimento possui padrão Triple A, em linha com os mais sofisticados empreendimentos corporativos ao redor do mundo.

Sobre o Grupo Bradesco Seguros

O Grupo Bradesco Seguros, conglomerado segurador da Organização Bradesco, lidera o mercado de seguros brasileiro, com atuação multilinha em âmbito nacional nos segmentos de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar Aberta. Em 2017, o Grupo Segurador registrou faturamento de R$ R$ 76,3 bilhões, evolução de 6,8% sobre o ano anterior, ampliando seu market share para cerca de 26%, o maior registrado nos últimos anos, com mais de 53 milhões de segurados, participantes, clientes e contratos – aumento de 4% em relação a 2016. Nesse período, seus ativos financeiros somaram R$ 272 bilhões e o volume de provisões técnicas atingiu R$ 246 bilhões. Há 16 anos consecutivos o Grupo é apontado como Top of Mind pelo Instituto Data Folha.

Sobre a BSP Empreendimentos Imobiliários

A BSP Empreendimentos Imobiliários, empresa integrante do Grupo Bradesco Seguros, é líder no segmento de gestão de ativos imobiliários, com atuação em diversas frentes do ramo imobiliário, com foco no desenvolvimento de projetos corporativos, locações de imóveis comerciais e desenvolvimento de incorporações imobiliárias.

Com mais de 780 imóveis em seu portfólio – entre edifícios corporativos e lojas comerciais -, a BSP Empreendimentos Imobiliários iniciou suas atividades no final de 2011, agregando os portfólios do Banco Bradesco e do Grupo Bradesco Seguros. O valor projetado de seus ativos, já considerando os efeitos da aquisição do HSBC pelo Bradesco, é de aproximadamente R$ 7 bilhões. Em 2017, a BSP obteve receita líquida de R$ 568 milhões, oriunda basicamente da locação de bens imóveis.

 

Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães (Universidade Federal Fluminense)

A seguir, a entrevista que o historiador Carlos Gabriel Guimarães concedeu a Revista Tema Livre, no dia 16 de dezembro de 2005, no Campus do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense. Na entrevista, dentre outros assuntos, o historiador questiona o mito em torno de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão/Visconde de Mauá e, ainda, fala da ação dos comerciantes portugueses e ingleses no mundo luso-brasileiro.

Revista Tema Livre – O Sr. é o presidente da Associação Brasileira de Pesquisa em História Econômica (ABPHE). Assim, o Sr. pode falar um pouco sobre a instituição?

Carlos Gabriel Guimarães – Sou o atual presidente da ABPHE, eleito em 2005, com mandato até 2007, quando teremos, em Aracajú, o VII Congresso Brasileiro de História Econômica e a 8ª Conferência Internacional de História de Empresas, sob a organização do Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos Subrinho, atual reitor da Universidade Federal de Sergipe e vice-presidente da ABPHE.

A ABPHE surgiu oficialmente em 1993, no I Congresso Brasileiro de História Econômica e 2ª Conferência Internacional de História de Empresas, que foram realizados na USP, e teve como primeiro presidente, o Prof. Dr. Tamás Szmrecsányi da UNICAMP.

Hoje, a ABPHE tem mais de 200 associados, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, além de alguns sócios estrangeiros. Destaco aqui que é uma associação que envolve economistas e historiadores, mas, também, temos sociólogos, antropólogos, enfim, acho importante essa diversidade, acho que isso caracteriza a ABPHE.

A ABPHE vem estimulando o retorno das pesquisas em história econômica, após a queda ocorrida, principalmente, entre os anos de 1980 e 1990. Muitos estudos estão sendo realizados, especialmente por historiadores da história econômica social. Vale lembrar que grandes pesquisadores da história como Kátia Matoso, Maria Yeda Linhares, Eulália Lobo e Fernando Novais fizeram suas pesquisas iniciais em história econômica. Chamo a atenção dos jovens historiadores que acham que a história econômica está apenas calcada em números. Lembro que, mais importante que a questão quantitativa, está a pesquisa sobre os atores sociais.

RTL – O Sr. pode falar, resumidamente, sobre o curso que o Sr. é coordenador, a Pós Graduação Lato Sensu em História do Brasil da UFF?

Guimarães – A pós-graduação lato sensu em História do Brasil é uma das especializações oferecidas pelo Departamento de História da UFF. Considero importante que a Universidade Pública ofereça esse tipo de curso, pois auxilia na qualificação profissional da sociedade e promove a mudança da atuação da academia, passando a ser mais próxima da população. Com o curso procuramos realizar esta mudança, com aulas aos sábados e tendo como alunos, principalmente, professores da rede pública e privada dos ensinos fundamental e médio, além de profissionais de outras áreas, como jornalismo, direito e geografia. Muitos alunos trabalham de segunda a sexta, e se esforçam para se atualizarem aos sábados, assim, é um caminho de mão dupla, porque passamos conhecimento, mas temos contato com outra realidade. Por ser um curso pago, temos recebido muitas criticas por parte daqueles que consideram que estamos privatizando a Universidade. Mas é importante ressaltar que da receita do curso, aproximadamente entre trinta e trinta e cinco por cento vai para os cofres da Universidade, para o Departamento de História e para o Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. O restante é para pagar as despesas com professores e funcionários. Infelizmente temos que cobrar, já que não podemos usar a carga horária destinada a outras atividades, como, por exemplo, as aulas na graduação, para atender a esse tipo de curso.

RTL – O Sr. esteve em Portugal fazendo o pós-doutorado. Assim, pode contar-nos, sucintamente, sobre a sua pesquisa lá?

Guimarães – Eu fiz uma pesquisa com bolsa da CAPES, fiquei lá, ao todo, por nove meses, e foi um estudo envolvendo mercadores ingleses em Lisboa e no Brasil na primeira metade do século XIX. Esta pesquisa foi desdobramento da minha tese de doutorado, que foi sobre a Sociedade Bancária Mauá, MacGregor & Cia., sendo que o Mauá é, na verdade, um mito.

RTL – Fale-nos a respeito do mito do Mauá.

Guimarães – Antes de falar do mito, vamos falar um pouco dos comerciantes ingleses, que muitos deles estão ligados ao Mauá, como o Richard Carruthers. Com a pesquisa em Portugal consegui mapear o irmão dele, o Guilherme Carruthers.

O Richard Carruthers, antes de chegar ao Brasil, foi para Lisboa com o irmão, em 1822/23, e depois veio para cá. É uma trajetória que os ingleses faziam no mundo colonial português, a maioria parava em Lisboa e, depois, ia para o Brasil, ou para outras praças dentro do Império Português. Isso significa uma questão política e econômica. No caso dos irmãos Carruthers, o Guilherme ficou em Lisboa e o Richard veio para o Rio de Janeiro e eles se associaram a grandes negociantes portugueses. O Guilherme se associou ao José Bento de Araújo, um dos maiores negociantes do vintismo português. No Rio de Janeiro aconteceu à mesma coisa, o Richard se associou ao famoso João Rodrigues Pereira de Almeida, deputado da Junta de Comércio, acionista do Banco do Brasil e traficante de escravo.

Esta associação dos ingleses com os portugueses possibilita pensar no que chamamos de cultura de negócios, ou seja, perceber que as atividades comerciais (os negócios) estavam ligadas a uma lógica de mercado diferente do mercado capitalista. A associação de um inglês com um negociante e deputado da Junta de Comércio, como era o caso do João Rodrigues Pereira de Almeida, essa rede e essa associação são justamente para poder penetrar nesse mercado e saber como ele funcionava. Não sendo um mercado capitalista, não é um mercado contratual, e tem muito de relação pessoal, proximidade com a política. É lógico que capitalismo também tem isso. Agora, no mercado não capitalista, a política, muitas vezes, é o principal motor, aí tem que estar próximo dos homens que estão nessa política (no Estado), e estes negociantes portugueses estavam lá. Em virtude das pesquisas, tem-se demonstrado a importância do negociante de grosso do Império Português, principalmente a partir de Pombal. Com a chegada da Corte em 1808, os negociante reinos no Rio de Janeiro participaram cada vez mais desse Estado Imperial português, assim como no período de D. Pedro I.

Falando no Irineu Evangelista de Souza, o futuro Barão e, depois, Visconde de Mauá, ele era caixeiro do João Rodrigues Pereira de Almeida, que o recrutou ainda muito garoto, em virtude do seu tio, que era o capitão de navio daquele negociante. O Irineu foi levado pelo seu tio porque perdeu o pai, e quando o Pereira de Almeida faliu, ele vai para a firma do Richard Carruthers. Esta passagem do Mauá envolve muito do que falei anteriormente, das relações pessoais num mercado que na prática não é capitalista. E cuidado com esses “capitalistas ingleses”, pois, principalmente depois de 1850, foi que verificamos uma articulação muito mais capitalista no sentido moderno da palavra para essas firmas inglesas. É interessante, porque as pessoas acham que os ingleses são pragmáticos, objetivos… Toda a historiografia sobre os ingleses no Brasil destaca o quanto eles eram modernos e os portugueses o oposto, ou seja, arcaicos. Não é nada disso, os grandes negociantes portugueses tinham as suas letras assinadas e recebidas nas praças européias. É bom chamar a atenção disto para parar um pouco com essa idéia pejorativa do português “tamancão”, desculpe usar essa palavra, e o inglês, o moderno. Não tinha nada disso, as relações dos ingleses com seus agentes envolviam relações pessoais, familiares.

No tocante ao mito do Mauá, é uma coisa interessante, porque, na verdade, não foi construído pelo próprio Mauá. O Mauá é autor de um livro intitulado “Autobiografia.. Exposição aos Credores”, onde explica o porquê da falência, da quebra do seu banco. Ele está expondo não é para todos, está expondo ao público dele. Agora, quem é o público dele? É a sociedade imperial e, principalmente, a Associação Comercial do Rio de Janeiro.

O problema é que o Mauá foi sendo apropriado, eu falo isso em um texto da Revista de História da Biblioteca Nacional daqui do Rio de Janeiro [edição nº4, outubro de 2005], que o Mauá foi sendo apropriado, tanto por uma esquerda, quanto por uma direita, desculpe-me usar essa demarcação ideológica-política, para justamente ou privilegiar o liberal, o empreendedor que teve um Estado opressor, aí é uma visão à direita, dos liberais, ou então alguém, um brasileiro que competindo contra os estrangeiros, principalmente contra o poderio inglês, precisou do apoio do Estado, porém o Estado negou. É a leitura da esquerda nacionalista velha e datada. Na verdade, não é nada disso.

O Mauá, como já chamei a atenção, com o retorno do Richard Carruhthers para a Inglaterra em 1837, ele vai ser o diretor da firma inglesa Carruthers & Company, e na década de 1840, a firma inglesa vai estar ligada ao tráfico negreiro, como destacam o Robert Conrad e o Luis Henrique Tavares, este último no livro “O comércio proibido de escravos”, quando estes trabalharam com a documentação inglesa do Public Record Office. Eles utilizam, principalmente, as correspondências consulares dos cônsules ingleses no Brasil. Lá estão os cônsules dizendo que várias firmas inglesas estão ligadas ao tráfico, jogando seus produtos para financiar o tráfico negreiro. A Carruthers & Company estava ligada ao grande negreiro Manuel Pinto da Fonseca. Eu achei o Manuel Pinto da Fonseca como sócio da Sociedade Bancária Mauá, MacGregor, e olha que ele foi expulso do Brasil em 1852 por causa do contrabando e, tinha como um dos testamenteiros um sócio e amigo pessoal do Mauá, o José Antonio de Figueiredo Júnior, pai do futuro Visconde de Figueiredo, que no final do Império, foi o organizador do Banco Nacional. O pai do Visconde de Figueiredo e o futuro Barão de Mauá estavam vinculados a um dos negócios mais lucrativos, que era o comércio de carne humana, como diziam os negreiros. E não só o Mauá estava ligado ao tráfico negreiro, mas várias firmas inglesas também, até mesmo os agentes dos Rothschilds no Brasil.

O Mauá teve vários bancos, mas nunca organizou uma holding, ao contrário do que alguns biógrafos dizem. Mauá organizou seu último banco, o Mauá & Cia, em 1867, e nesse banco foi transportado todo os passivos dos seus negócios. Não foi à toa que deu no que deu, ou seja, quando estourou uma crise na Praça do Comércio, como a de 1875, o banco quebrou. É importante salientar que o Banco Mauá & Cia não era o Banco Mauá, MacGregor, que foi o segundo banco organizado pelo Mauá, já que o primeiro banco foi o Banco de Brasil de 1851. Aliás, o primeiro Banco com o nome de Mauá & Cia foi organizado na década de 1850 (em 1856), e se constituiu no principal banco e emissor de notas (moeda) no Uruguai, com “filiais” na Argentina e no porto do Rio Grande na Província do Rio Grande do Sul. Olha o barão de Mauá e a política externa do Império. Paulino Soares de Souza, o Visconde de Uruguai, coladinho com Mauá, que é um mito também no Uruguai, e existe uma praça Mauá em Montevidéu.

O que Mauá estava fazendo lá? Estava lá porque era empreendedor? Mauá estava coladinho com o projeto de expansão do Império brasileiro na Região do Rio da Prata. Quando se pagavam as tropas do Brasil na Guerra do Paraguai era o Banco Mauá que fazia.

Outro grande problema do mito do Mauá é aquela associação dele como industrial, pois isto na verdade não aconteceu. O Mauá organizou algumas empresas, mas tiveram curta duração. O Estaleiro Mauá, por exemplo, que seria uma referência de estaleiro moderno, tem que ter cuidado. Era um conjunto de oficinas, tinha muitos escravos. Ora, cadê o maior abolicionista que os biógrafos e que o filme fala? Não tem nada de abolicionista! O Mauá industrial? Que indústrias ele teve? O Estaleiro Mauá, curta duração. A Luz Esteárica, curta duração. E mais, com muita subvenção do governo imperial. Mas o Mauá sempre foi, como esta lá no registro de matriculas do Tribunal do Comércio do Código Comercial, negociante de grosso, e depois, quando ele organizou os bancos, banqueiro. É o negócio dele, o negócio dele foi o comércio. Com o fim do tráfico negreiro, aqueles capitais de origem negreira vão ser direcionados para a atividade comercial do Rio de Janeiro.

Assim, o Mauá é um mito tanto para a direita, quanto para a esquerda, ou seja, para estes, o brasileiro que precisou do apoio do Estado contra a opressão estrangeira. Opressão estrangeira? Ele era colado com os ingleses! Ou então os liberais defendendo o indivíduo que por si só poderia chegar lá, porém o Estado atrasado… Vamos parar com isto! Ele era um homem do Império. Virou mito, principalmente no século XX, por causa do projeto de desenvolvimento nacional (sinônimo de indústria/industrialização), e aí o Mauá serve para tudo. Ele está tanto no comércio, quanto na industria. Em associações comerciais, em vários locais do Brasil, tem uma sala Mauá. Em associações industriais está, por exemplo, na FIRJAN e na FIESP. Então o Mauá serve para o industrial e para o comerciante… Ele é uma figura mítica. Tratá-lo como empresário no estilo moderno é um grande absurdo, e pior ainda é como os nossos alunos, nossos filhos, nossos netos, lendo livros de história do Brasil, falando da segunda metade do século XIX, a “Era Mauá”…. Parece que dentro daquele Império atrasado teve um período moderno…. Pelo amor de Deus! É um grande equivoco, mas mito é isso.

Bem, Mauá ganha bastante destaque a partir da década de 1920, com Alberto Faria, que faz um livro com uma apologia ao Mauá. Nos anos 30, Lídia Besouchet publica “Mauá e o seu tempo”. Um descendente do Mauá, Cláudio Ganns reedita o livro do Mauá, “Autobiografia. Exposição aos Credores”. Repare bem como o mito vai sendo recriado. Depois, Caio Prado Junior, Celso Furtado, o primeiro marxista, e o outro keyneziano estruturalista, também embarcam no mito. No caso do Celso Furtado, ligado ao Plano de Metas de JK, e um dos teóricos do projeto nacional desenvolvimentista, o resgate do Mauá, o Mauá industrial, era importante. Ora, no Rio de Janeiro, a indústria propriamente dita foi criada depois de 1870, como diz Maria Bárbara Levy, Eulália Lobo, Geraldo Beauclair, e vários historiadores econômicos. Não é a “Era Mauá”. A industria no Rio de Janeiro é pós-Mauá.

Assim, o Mauá era um homem do seu tempo, e mais, o tempo do Mauá é o tempo do apogeu do Império. Depois de 1870 já tem outros grupos mercantis que vão se sobrepor ao Mauá. É lógico que com a crise de 1875 ele quebrou por problemas dele e pelo fato do Estado que, via Banco do Brasil, não o apoiou. Um outro banco que pesquiso, o Banco Rural e Hipotecário do Rio de Janeiro, contou com a ajuda do Banco do Brasil, que emprestou mais de 3.000 contos e conseguiu salvar o Banco Rural e Hipotecário. Não fez isso com o Mauá, mas por quê? É a relação de poder, já não era mais o tempo do Mauá e o seu grupo. A situação estava se modificando.

Leia outras entrevistas concedidas à Revista Tema Livre

Breves considerações a respeito da formação universitária e o mercado de trabalho em informática

Texto de Carlos Campello

INTRODUÇÃO

As transformações dos processos produtivos são, muitas vezes, provocadas pela introdução de novas técnicas e métodos de produção. A partir da metade do século XVIII, com a revolução industrial, acentuou-se a utilização de máquinas que modificaram não só os meios de produção, mas, também, a sociedade, a cultura e a política. Posteriormente, com o advento da energia elétrica houve a agilização dessas transformações e, mais recentemente, com a introdução da microeletrônica, os avanços tornaram-se cada vez mais velozes e freqüentes, ocasionando, em algumas áreas, a redução de postos de trabalho.

Os efeitos dessas mudanças foram sentidos, também, no campo empresarial, onde as grandes corporações da indústria de equipamentos foram gradativamente perdendo, principalmente após a entrada no mercado dos microcomputadores, terreno para as indústrias de programas. Estas organizações passaram a lançar produtos que vieram a facilitar a utilização da informática, não só pelo usuário final, mas, também, por profissionais ligados ao setor, exigindo assim, destes trabalhadores, atualização rápida e permanente do conhecimento.

Portanto, ao se observar o campo da informática, a rapidez da evolução técnica é notória e, se por um lado, possibilita a democratização do acesso à informação e ao conhecimento, por outro lado, pode acarretar formas de exclusão, inclusive, com reflexos no campo econômico e social. Tal evolução vem modificando, permanentemente, as condições do mercado de trabalho, afetando a diversas categorias de trabalhadores, inclusive, as diretamente envolvidas com a área de informática. Exemplo disto são as transformações ocorridas nas atividades ligadas à chamada “produção” de serviços, como as de digitação.

No rastro desse avanço tecnológico, o trâmite de papel é transformado em rede de comunicação, o mundo se comunica pela Internet, enfim, a tecnologia permite diversas aplicações que mudam efetivamente as relações do trabalho e, porque não dizer, da formação dos profissionais das mais diversas áreas. Especificamente na formação do profissional da área de informática, surgem, ainda nos anos 70, os primeiros cursos de graduação, basicamente voltados para o mercado de trabalho e, em sua maioria, com currículos que enfatizam os aspectos tecnológicos.

Assim, o presente artigo apresenta considerações a respeito da trilogia emprego, tecnologia e educação. O texto mostra, de início, o panorama geral sobre a questão do emprego a partir do incremento dos processos informatizados nas organizações, principalmente no setor bancário, prossegue com as transformações ocorridas na área de informática com a conseqüente modificação do perfil do profissional do setor e, discute, na terceira parte, a questão envolvendo os cursos de graduação em informática. Como conclusão, sugere ações para que a Universidade Pública cumpra o seu papel, mesmo em cursos com ênfase tecnológica, na formação completa do profissional.

A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O DESEMPREGO

Em função de um mercado altamente competitivo, as organizações procuram utilizar-se cada vez mais da tecnologia na busca da economia de recursos, da elevação nos níveis de produtividade e do melhor controle dos processos. Tal procura atinge uma quantidade enorme de grandes e pequenas instituições, que atuam nos mais variados ramos de negócio. Analisando este fato e como ele atua sobre as relações de trabalho, Pochmann (2001, p.42) afirma que: “(…) a empresa moderna tende a se apoiar no uso de tecnologias leves (software). Estas, por sua vez, que tendem impactar diretamente as novas tarefas realizadas no interior do posto de trabalho (…).”

Por outro lado, pode-se observar que o avanço tecnológico, especialmente da informática, está transformando sobremaneira os padrões de emprego e comportamento, com o deslocamento de funções entre os trabalhadores. Como exemplo, na área bancária, pode-se citar o trabalho anteriormente realizado pelo digitador (digitação de depósitos, cheques e outros documentos) passou, a partir das transformações tecnológicas, a ser realizado pelo caixa ou até mesmo pelo cliente, através dos “caixas-eletrônicos”. Observa-se, portanto, que cada vez mais as organizações estão investindo em tecnologia e, em função disso, muitas das tarefas rotineiras, antes distribuídas entre diversos trabalhadores, tornam-se mais concentradas, ocasionando, assim, uma redistribuição e, em alguns casos, uma redução da necessidade da mão-de-obra humana.

Fica evidente que a questão da reformulação dos processos de trabalho, através da utilização de novas tecnologias pode tornar irreversível a eliminação de um posto de trabalho. No entanto, não se pode negar à sociedade as facilidades decorrentes dos avanços de tal utilização e, para evitar que a tecnologia contribua para elevar os níveis de desemprego, deve ser buscada a abertura de um novo posto, com a recolocação daquele que foi afastado em decorrência da modernização dos serviços. No entanto, o problema é que a velocidade da eliminação de postos de trabalho, em função da introdução de novas tecnologias, vem sendo mais rápida do que a recolocação do indivíduo.

Dentro do quadro atual de emprego no Brasil, são normalmente apresentadas por diversos estudiosos da questão, duas fórmulas, não necessariamente excludentes, para minimizar os níveis de desemprego causado pela introdução da informática nas organizações: a redução da jornada de trabalho e/ou a requalificação da mão-de-obra.

Tratando da primeira forma, aqueles que a defendem, consideram que a redução da carga horária semanal da mão-de-obra amplia os postos de trabalho, além de permitir um tempo maior para que o trabalhador possa dedicar-se à reciclagem ou, até mesmo, desfrutar mais do lazer. Adotando-se tal procedimento, para Coggiola (2001, p.101): “A informatização não produziria nenhum aumento do desemprego se estivesse acompanhada da diminuição da carga horária semanal. Pelo contrário, ela facilitaria a redistribuição geral das horas de trabalho entre os assalariados ocupados e os desempregados.”

Por outro lado, existem os que consideram que, com a requalificação, o trabalhador consegue nova colocação no mercado de trabalho, com isto passa-se a tratar a questão do emprego como uma relação educação-trabalho. Dentro desta ótica, pode ser elevado o nível de exigência da qualificação profissional, exigindo-se, assim, que o indivíduo ocupe cada vez mais horas de lazer na busca da atualização de conhecimento. Enfim, uma luta constante para conquistar e manter a chamada “empregabilidade”.

Quando se coloca a necessidade da reciclagem constante da mão-de-obra para a conquista de novos postos de trabalho está se transferindo, em última análise, para o indivíduo e para a educação a responsabilidade pela situação do emprego, minimizando-se, assim, o fator econômico como causa primária. Nesta questão, deve-se ter a necessária cautela para não se considerar, simplesmente, que as pessoas estão desempregadas por não estarem preparadas profissionalmente para atender às novas demandas do mercado de trabalho.

A questão envolvendo a relação educação-trabalho é tratada por Silva (1999, p.78), quando afirma que: “As pessoas não estão desempregadas simplesmente porque não estão qualificadas, nem existem empregos vagos simplesmente porque não existem pessoas qualificadas para preenchê-los. A questão é que não existem empregos.”, e por Frigoto (1998, p.46), ao citar que: “Qual o sentido da idéia de educação e formação para a empregabilidade, dentro de uma realidade endêmica de desemprego estrutural(…)?”. Portanto, pode-se observar, a partir das considerações de Silva e Frigoto, que se não houver medidas para a abertura de novos postos de trabalho, será inócuo o investimento no aprimoramento profissional feito pelo indivíduo.

Retomando a questão da influência da informática, passa-se a analisar a questão do emprego no segmento da tecnologia da informação, com funções sendo extintas e outras sofrendo modificações constantes.

O EMPREGO NA ÁREA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Embora seja colocado como mercado profissional promissor, o ramo da informática também é atingido pelas transformações decorrentes do campo econômico e pelo avanço tecnológico, com diversas categorias sofrendo mudanças de atribuições e, até mesmo, com a quase extinção de algumas delas. Por mais paradoxal que possa parecer, a mesma evolução tecnológica que pode desempregar trabalhadores em função do crescimento da utilização da informática nas organizações pode, também, servir para desempregar os trabalhadores do setor informático.

Como exemplo, funções ligadas à chamada área de produção, como digitadores, conferentes e operadores, sofrem com a redução do nível de emprego. Mas não são apenas essas categorias são afetadas com a transformação tecnológica do setor computacional. Outros profissionais, como analistas e programadores, também sofrem as conseqüências das rápidas mudanças que ocorrem no mercado informático. Técnicos experientes são muitas vezes tratados como ultrapassados, visto que o conhecimento tecnológico adquirido durante o tempo de atuação na área, pouco ou nada vale, diante de novos paradigmas ditados pela mutação tecnológica.

Assim, por ser uma atividade laboral intimamente ligada à tecnologia, existe grande dificuldade do profissional de informática acompanhar a velocidade de tais mudanças e, com isso, o processo de atualização permanente torna-se desgastante. Além disso, tal mudança é muitas vezes imposta por aqueles que comandam o processo de pesquisa e produção de tecnologia, decidindo quais as inovações a serem introduzidas no mercado, restando aos que a utilizam aceitá-las.

Mas não é apenas a atualização tecnológica que deve ser o objetivo de preocupação do profissional da área de informática, especialmente do Analista de Sistema. A facilidade de utilização dos recursos computacionais (equipamentos e programas), por parte dos executivos das organizações, fez com que o acesso à tecnologia da informação deixasse de ser exclusivo daqueles que atuam no segmento da computação. Com isso, torna-se importante a interdisciplinaridade entre o campo do conhecimento tecnológico e o de instrumentos de gestão.

A ampliação do conhecimento sobre as questões organizacionais e de técnicas de otimização de processos – independente da utilização da informática -, aliados ao conhecimento dos recursos da tecnologia da informação, permite que o Analista atue como elemento integrador entre os executivos e as soluções existentes, ampliando-se, assim, a possibilidade de implementação de sistemas mais eficazes.

Portanto, diante do exposto anteriormente, torna-se importante que os responsáveis pela grade curricular dos Cursos de Graduação em Informática, passem a estudar a possibilidade de mudanças na estrutura dos cursos, assunto este que é tratado no próximo item.

OS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM INFORMÁTICA

Com denominações variadas, diversas instituições de nível superior oferecem cursos de graduação ligados à tecnologia da informação. Em franca expansão, a maioria deles prepara o aluno para ingressar no mercado de trabalho e muitos possuem uma estrutura curricular basicamente voltada para os aspectos tecnológicos.

Com isso, as inovações introduzidas no mercado da tecnologia da informação, exigem a atualização do conhecimento a respeito dos novos produtos lançados pela indústria. Tal atualização não se exige apenas daqueles que já se formaram e se encontram atuando no mercado, mas, também, daqueles que estão cursando a graduação em informática.

Tendo em conta a velocidade dessas mudanças, o ensino superior, nesta área, costuma estar a reboque daquilo que é estabelecido pelas empresas do setor, criando uma perigosa adequação da educação ao mercado. Embora não se possa desconsiderar os aspectos tecnológicos, deve-se ter a devida atenção na formação mais ampla dos alunos de graduação, papel este de suma importância do setor educacional e, em especial, da Universidade.

A Universidade deve ter toda a atenção na formação do profissional dos cursos de graduação em informática, de forma que não tenha, como objetivo final, apenas a formação tecnológica, visto ser esta apenas uma ferramenta, e o ingresso no mercado de trabalho. Para Gentili (1998, p.80): “Mais do que pensar a integração dos trabalhadores ao mercado de trabalho, o desenho das políticas educacionais deveria orientar-se para garantir a transmissão diferenciada de competências flexíveis que habilitem os indivíduos a lutar nos exigentes mercados laborais pelos poucos empregos disponíveis.”

Para flexibilizar a habilitação dos profissionais dos cursos de graduação em informática, torna-se necessário que as Universidades revisem os seus currículos, através da ampliação do oferecimento de disciplinas que abordem as questões organizacionais, além da inclusão de valores sociais, humanísticos e de entendimento do mundo. Tais valores criam bases para sustentar as movimentações necessárias ao profissional que atua num cenário de mudanças rápidas e constantes. A questão curricular é comentada por Moraes (2000, p. 203), quando afirma que: “Além da definição do profissional a ser formado, (…) o currículo requer a ‘descrição dos grupos de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores éticos e estéticos, fundamentais à formação de profissional`.”

Outro ponto importante é o de se evitar que a Universidade, especialmente as do setor público, transformem-se nos chamados “escolões”. É necessário manter-se o princípio da trilogia: ensino, pesquisa e extensão; procurando-se, assim, não apenas atender a demanda do mercado, mas também e, principalmente, contribuir para a formação profissional ampla e integral do aluno de graduação dos cursos de informática. A Universidade não deve abrir mão, na formação de seus alunos, da observação crítica dos valores sociais e dos princípios da cidadania.

CONCLUSÃO

Sem ter a pretensão de esgotar a discussão, pode-se concluir que:

1) A evolução tecnológica pode ocasionar o desemprego em vários setores. Embora não se deva impedir que a população receba os benefícios facilitadores da utilização da tecnologia da informação, a sociedade deve ter consciência da necessidade de se evitar tal problema. Para isto, a princípio, duas alternativas, não excludentes, se apresentam: a redução da jornada de trabalho e/ou a criação de mecanismos de migração da mão-de-obra dispensada pela utilização da tecnologia.

2) As transformações tecnológicas ocasionam, também, mudanças no perfil de emprego dos profissionais de informática, com funções desaparecendo e outras se modificando permanentemente. Com isso, faz-se necessário que o profissional faça um planejamento que permita a constante reciclagem. Além disso, torna-se necessário o conhecimento sobre gestão empresarial reduzindo, assim, o peso da tecnologia em sua formação, ampliando o leque de oportunidades de colocação no mercado de trabalho.

3) Para atender ao quadro atual, existe a necessidade da reformulação curricular dos cursos de graduação em informática, ampliando-se a formação do aluno nas questões gerenciais, sociais e humanas. A atividade extensionista e de pesquisa deve ser fomentada, permitindo a constante atualização através de cursos de extensão e a identificação de novas tecnologias.

BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 4. ed. São Paulo: Boitempo, 2001.

COGGIOLA, Osvaldo. Universidade e ciência na crise global. São Paulo: Xamã, 2001.

FONTOURA, Helena Amaral da. A formação do professor universitário: considerando propostas de ação. In: CHAVES, Iduina MontAlverne; SILVA, Waldeck Carneiro da: Formação do professor: narrando, refletindo, intervindo. Rio de Janeiro, Quartet, 1999.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento: teorias em conflito. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

GENTILI, Pablo. Educar para o desemprego: a desintegração da promessa integradora. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

MENEZES, Luís Carlos de. Universidade sitiada: a ameaça de liquidação da universidade brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.

MORAES, Silvia E. Currículo, transversalidade e pós-modernidade. In: SANTOS FILHO, José Camilo dos Santos; MORAES, Silvia E. (orgs.). Escola e universidade na pós-modernidade. São Paulo; Mercado das Letras, 2000.

OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. Escola ou empresa? Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

POCHMANN, Marcio. O emprego na globalização: a nova visão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Boitempo, 2001.

SANTOS, Lucíola Licínio de C.P. Saberes escolares e o mundo do trabalho. In: FERRETTI, Celso J.; SILVA JR., João dos Reis; OLIVEIRA, Maria Rita N.S. (orgs.). Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola? São Paulo: Xamã, 1999.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Educação, trabalho e currículo na era do pós-trabalho e da pós-política. In: FERRETTI, Celso J.; SILVA JR., João dos Reis; OLIVEIRA, Maria Rita N.S. (orgs.). Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola? São Paulo: Xamã, 1999.

SOUZA, Donaldo Bello; SANTANA, Marco Aurélio; DELUIZ, Neise. Trabalho e educação: centrais sindicais e reestruturação produtiva no Brasil. Rio de Janeiro: Quartet, 1999.

SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. Temas sempre atuais da educação brasileira. São Paulo: Unimarco, 1995.