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GETÚLIO

Cartaz do filme Getúlio.

Cartaz do filme Getúlio.

Direção: João Jardim/Roteiro: George Moura

Elenco:  Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges, Thiago Justino, Alexandre Nero, Jackson Antunes, Clarice Abujamra, Fernando Eiras e Daniel Dantas.

Coprodução: Globo Filmes, Copacabana Filmes, Fogo Azul Filmes, Midas Filmes.

O filme de João Jardim aborda os últimos dias de vida do presidente Getúlio Vargas (Tony Ramos), com o profundo entrelace entre a vida pessoal do personagem, o seu governo democrático e a História do Brasil. 
A película inicia-se com o famoso atentado a Carlos Lacerda (Alexandre Borges) na rua Tonelero, em Copacabana, que resulta no assassinato de militar da Aeronáutica. Nas próximas horas do filme, o espectador assiste à investigação criminal e, em especial, as consequências na política nacional e para Vargas do crime em questão. Pouco a pouco, vai-se, nesse thriller político e psicológico, desvendando-se um Vargas fragilizado não só politicamente, mas, também, emocionalmente, cansado das intrigas típicas dos jogos de poder. Vai-se, assim, descortinando um personagem que os âmbitos político e pessoal estiveram, por décadas, intrinsecamente ligados. Em seu crepúsculo, seja como homem público, seja como indivíduo, um inocente Vargas descobre paulatinamente o quão perto de si estava o “mar de lama”, expressão utilizada por seus opositores, que a política brasileira e o Catete estavam mergulhados. O filme termina com o já conhecido desfecho trágico da situação, para, em seguida, brindar o público com várias imagens da época.
Brilhantemente, Tony Ramos e Drica Morais interpretam, respectivamente, o personagem título e a sua filha. Mesmo não guardando semelhanças físicas com o presidente em questão, vê-se, em Tony Ramos, Getúlio Vargas. Drica passa ao público o drama de Alzira, filha que vê o declínio político e pessoal de seu pai. Alexandre Borges faz o ferrenho opositor do líder máximo da nação. Jackson Antunes dá vida ao vice, Café Filho, desejoso de poder, mesmo que para isso venha a trair Vargas. Enigmático, Thiago Justino interpreta Gregório Fortunato.
Importante pontuar que as lentes de Jardim captam com maestria a beleza ímpar do Palácio do Catete. Valendo-se do cenário em que os fatos históricos se desenrolaram, o diretor realiza vários takes, que apontam a dramaticidade do momento da História do Brasil e dos Vargas.
Assim, Vargas é uma produção brasileira que traz ao público parte da história republicana em um interessante filme, valorizado, também, pela beleza estética da película, pelos ótimos atores que interpretam com maestria personagens históricos e com roteiro que prende o espectador do início ao fim. Vale muito assistir! 

 

Saiba mais sobre a Era Vargas clicando aqui.

 

Tony Ramos como Vargas.

Tony Ramos como Vargas.

 

 

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O Quinze

Direção/Roteiro: Jurandir de Oliveira
Elenco:  Juan Alba, Karina Barum, Jurandir de Oliveira, Soia Lira e Maria Fernanda
Produção: Brasil, 2004 (1h40min)

o-quinzeO filme é adaptação do romance homônimo de Rachel de Queiroz, que tem como base a seca de 1915, que assolou o sertão cearense. A película é uma oportunidade do espectador entrar em contato com a literatura brasileira, com uma parte da História do Brasil e com a cultura do Nordeste do país – sendo a trama, inclusive, a história dos antepassados de muitos que, hoje, estão em capitais como Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.
A obra cinematográfica mostra momento da história do Ceará repleto de adversidades, quando a seca expulsa uma série de habitantes da região de Quixadá, desestruturando a economia e diversas famílias. Para sobreviver à seca e ter capital para migrar, o vaqueiro Chico Bento desfaz-se de seus bens e sonha com uma vida melhor para os seus, cogitando ir para a Amazônia e viver da borracha. Porém, o personagem está longe de lograr o seu plano de uma vida melhor.
Impossibilitado de abandonar Quixadá pelos caminhos de ferro, Chico, a esposa, Cordulina, a filha adotiva Mocinha e seus quatro meninos partem por terra, enfrentando duro percalço no trajeto, que inclui a fome, o consumo de pouca água, que, a seu turno, é de péssima qualidade, e a dilapidação dos poucos bens que possuem – basicamente uma mula e quantidade ínfima de dinheiro – para sobreviverem nas vias que cortam o sertão do Brasil. No entanto, a mais dura adversidade que Chico enfrenta é ver sua família ser dilacerada. Em função da fome, Josias come mandioca brava, vindo a falecer. Mocinha se separa dos familiares diante de oportunidade de trabalho. Pedro desaparece, acreditando-se que partiu com tropeiros, mas, na verdade, a família que se desfaz pelo interior do Ceará não sabe o que realmente aconteceu com o menino. Manuel (Duquinha) é, em Fortaleza, dado à sua madrinha Conceição.
Por outro lado, o drama de Chico Bento vai além de assistir ao esfacelamento da sua família. Em uma sociedade patriarcal, inserida em um mundo onde a maioria esmagadora busca apenas sobreviver e o pragmatismo das ações é importante estratégia para não morrer, pesa nos ombros de Chico a responsabilidade pelo bem estar da família, prover o sustento dos seus, bem como recai-lhe a tentativa de salvar o filho que, envenenado, agoniza frente aos seus olhos. Também, segundo a película, é sobre Chico que incide a palavra final sobre dar ou não o seu filho Duquinha para Conceição.
Após passar por campo de concentração em Fortaleza para os flagelados, com a ajuda de Conceição, Chico consegue ir para São Paulo. Entretanto, a esta altura, sobra-lhe apenas a mulher e um filho. Partem. Deixam sua terra de origem. Em seguida, vem o fim da seca, oportunidade de recomeço para os que ficam e sobreviveram à seca.

Chatô, o Rei do Brasil

Cartaz do filme "Chatô, o rei do Brasil".

Cartaz do filme “Chatô, o rei do Brasil”.

Direção: Guilherme Fontes/Roteiro: João Emanuel Carneiro, Matthew Robbins e Guilherme Fontes (Baseado em Chatô, o Rei do Brasil, livro de Fernando Morais)

Elenco: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini, Zezé Polessa, Gabriel Braga Nunes, Walmor Chagas, José Lewgoy.

Produção: Guilherme Fontes Filmes/Brasil, 2015, 1h42.

 

O próprio filme já tem história. Em 1995, no contexto do chamado renascimento do cinema nacional, cujo marco é “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, o ator Guilherme Fontes anunciou que realizaria a cinebiografia do empresário Assis Chateaubriand (1892 – 1968), também conhecido como Chatô. A base da obra cinematográfica era o livro homônimo do escritor Fernando Morais. A estreia estava prevista para 1997.

Porém, não foi isto o que aconteceu. A película só estreou 20 anos depois, ou seja, em 2015. O leitor que, eventualmente, não conhece a história envolvendo a produção – que não é o objetivo do presente texto – provavelmente se questionará a razão da demora. Neste longo período, além de não conseguir finalizar o filme ainda na década de 1990, houve uma série de acusações contra Fontes, como a de que este teria empregado mal o dinheiro que recebeu via leis de incentivo fiscal e a polêmica chegou aos tribunais. Muitos disseram que a cinebiografia sequer existia. Finalmente, após idas e vindas na justiça, o filme estreou em 2015 nos cinemas brasileiros e hoje está disponível na Netflix.

Cinelândia e Palácio Pedro Ernesto no centro do Rio: parte da bela reconstituição de época do filme.

Cinelândia e Palácio Pedro Ernesto no centro do Rio: parte da bela reconstituição de época do filme.

Em relação aos seus méritos, pode-se elencar, por exemplo, que em termos quantitativos, a produção incrementou o número de filmes nacionais, gerou empregos e movimentou economicamente a indústria cinematográfica do Brasil. Além disto, trouxe um respeitável time de atores, o filme é bonito no aspecto estético, em suas externas tem bela reconstituição do Rio da época e retoma importantes personagens da história nacional. Também mostra ao público o quão promiscuas podem ser as relações entre empresas privadas e o poder político. Em conjunto com a história de vida do personagem, Fontes perpassa por parte da história do Brasil e dos veículos de comunicação do protagonista, como seus jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Está no filme, dentre outros tópicos, parte da história da TV Tupi, dos Diários Associados, da constituição do acervo do MASP e alianças e conflitos entre Chatô e Getúlio Vargas, bem como com os militares de 64, devido às dificuldades das já combalidas empresas do personagem-título de obterem verbas governamentais, sendo preteridas a favor de grupo empresarial concorrente que, então, colocava no ar sua TV com parte de capital norte-americano – em provável alusão ao caso Time-Life.

Cena que remete à inauguração da tv brasileira, em 1950.

Cena que remete à inauguração da tv brasileira, em 1950.

Sobre os vários problemas da obra, estão uma série de situações mal explicadas ou pseudocômicas, que serão, algumas delas, elencadas. Uma é que a cinebiografia não apresenta ao público em que momento de sua trajetória empresarial Chateaubriand “deu o pulo do gato”, transformando seus veículos de comunicação em empresas extremamente poderosas e influentes na sociedade brasileira de então. Não se sabe o quanto do êxito logrado pelo paraibano foi fruto de seu primeiro casamento ou de suas chantagens a outros empresários ou de suas articulações políticas ou até que parte da história o seu projeto empresarial era viável economicamente.

Igualmente sem explicação, “do nada”, como um flash no meio do filme, mostra-se Chatô contra a construção de Brasília, mas sem dizer o porquê. Teria Chatô um possível perfil udenista? Ou, então, já sabia das alianças de JK com empreiteiras para erguer a nova capital? Os que já conhecem os últimos meses de vida Vargas, conseguem identificar o atentado da Tonelero, porém, Gregório Fortunato vira Terêncio e, em um passe de mágica, Chateaubriand assume o papel de Lacerda, inclusive atacando veementemente Vargas na imprensa – no caso, na TV Tupi.

Personagem que participa do show que o moribundo Chatô vê-se envolvido.

Personagem que participa do show que o moribundo Chatô vê-se envolvido.

O aspecto pseudocômico está em tentativas inócuas de fazer graça com cenas que não possuem comicidade alguma – ou que talvez só façam as crianças do jardim de infância rirem – como a aplicação de uma injeção nas nádegas de Chatô. O tom de caricatura é exagerado, inclusive em várias interpretações, dando-se ao público personagens tão ridículos e caricatos como os das novelas mexicanas e inundando a tela de “canastrice”.

Outro ponto é que o Chateaubriand de Fontes é desnecessariamente devasso. Se Chatô fosse um filme como as pornochanchadas da década de 1970 haveria lógica mostrar as peripécias sexuais do personagem e, quiçá, seus respectivos detalhamentos. Porém, em uma cinebiografia que traz de forma pincelada e sem nexo fatos da vida de um personagem histórico, sem apresentar vários porquês de posicionamentos políticos ou como se concretizaram importantes medidas da trajetória empresarial de Chatô, seria melhor dedicar o tempo do sexo à consistência do filme.

Para completar as oportunidades perdidas para a realização de uma cinematografia nacional de extrema qualidade, está a opção de narrar a trajetória de Chateaubriand no seu leito de morte, quando, em seus devaneios, o protagonista repassa sua vida em um julgamento em uma espécie de programa de auditório tosco. Adota-se tom teatralizado, tons farsescos, podendo até serem interpretados como paródias da vida pública nacional. Talvez o diretor tenha tomado esta via para agradar a um determinado público, que está mais preocupado com o formado do que com o conteúdo.

Depois de quase duas horas, não se sabe se o que foi assistido foi a um filme de história, comédia ou drama. Mas fica a certeza de ter estado diante de um filme “trés chatô”! Em suma, foi perdida a chance de fazer-se algo realmente bom, que prendesse o espectador do início ao fim, agregando à película parte da história do Brasil, bem como o talento dos técnicos e artistas envolvidos no projeto, resultando, assim, em um produto que poderia, inclusive, ter representado o país no Oscar. Mas, não deu. Enquanto isto, perde-se cada vez mais público para os patéticos blockbusters hollywoodianos, para as redes sociais e até mesmo para a invasão de Pokémons.

Marco Ricca e Paulo Betti caracterizados, respectivamente, como Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas.

Marco Ricca e Paulo Betti caracterizados, respectivamente, como Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas.

Nina de Pádua

Nina de Pádua

A atriz carioca Nina de Pádua

Abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva que a atriz Nina de Pádua concedeu à Revista Tema Livre, no último dia 06 de maio, onde ela fala da peça Calabar, de Chico Buarque e Rui Guerra, proibida pela censura em 1973; a influência de Bibi Ferreira na sua formação como atriz; e ainda, do papel do historiador nas novelas de época.

REVISTA TEMA LIVRE – Qual seu nome completo ?

Nina de Pádua – Meu nome completo é Nina de Pádua Andrade

RTL – E o local de nascimento ?

Nina – No Rio de Janeiro, aliais no estado da Guanabara, em Botafogo

RTL – E porque ser atriz ?

Nina – Olha, eu comecei muito novinha, desde cedo, desde seis anos de idade, no colégio, eu já lhe dava com isso. Foi uma coisa meio que natural, não foi uma decisão muito pensada, eu fui começando a trabalhar e a coisa foi acontecendo, eu fui me tornando atriz, quando eu vi, já não dava para voltar atrás.

Asdrúbal Trouxe o Trombone: Perfeito Fortuna, Nina de Pádua, Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Patrícia Travassos e Evandro Mesquita.

Asdrúbal Trouxe o Trombone: Perfeito Fortuna, Nina de Pádua, Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Patrícia Travassos e Evandro Mesquita.

RTL – Profissionalmente, adulta, como você começou, qual foi a sua primeira peça ?

Nina – Olha, então eu vou começar com uma brincadeirinha que eu sempre falo que eu digo que eu não estreei profissionalmente, porque minha primeira peça profissional adulta foi uma peça chamada CALABAR, do CHICO BUARQUE e do RUY GUERRA, que foi proibida pela censura em 1973. Foi um marco no teatro porque era uma peça muito aguardada, muito esperada, era uma peça política, em plena ditadura, e era uma peça que falava sobre traição, sobre um monte de coisas que todo mundo tava na expectativa, e essa peça não aconteceu. Ela já estava pronta para estrear e a polícia federal censurou, então não houve estréia, então esse marco é muito forte, porque eu costumo dizer que minha estreia profissional não aconteceu… Outra coisa muito importante da qual me orgulho e gosto de citar, é que eu fui participante de um grupo chamado ASDRUBAL TROUXE O TROMBONE , do qual saíu essa turma toda aí, Luís Fernando Guimarães, Regina Casé, Evandro Mesquista, Patrícia Travassos, Perfeito Fortuna e eu. Então eu tenho muito orgulho disso, essa é uma delas, mas como tem 31 anos de carreira, eu ia ficar aqui a noite inteira falando.

RTL – Como era fazer teatro com a censura ?

Nina – Na verdade, não só fazer teatro, como viver na ditadura foi muito difícil, era muito complicado, porque não se tem liberdade, e quando você não tem liberdade, eu acho que morre muita coisa, é muito complicado. CALABAR especialmente foi uma marco para a gente porque… inclusive foi assim… se não me engano foi um pré-exílio do CHICO BUARQUE, quer dizer, uma época muito conturbada, muito dificl, quando CALABAR foi proibido, sequer podia sair no jornal a palavra CALABAR, para você ter idéia, quer dizer, os produtores não podiam sequer anunciar que havia sído proibido porque não podia sair CALABAR escrito, então foram anos muito duros, perdemos muitas pessoas importantes, muita gente bacana, eu era menina, mas sem dúvida alguma eu já fazia teatro, e já acompanhava, já sofria na pele. Então houveram pessoas que apanharam da polícia, houveram pessoas que foram presas e houcveram pessoas que foram mortas e que desapareceram. Então foram anos muito tristes e que sem dúvida alguma nos trouxeram toda essa violência que a gente tá vivendo hoje em dia.

Cinema: cena do filme "Me beija" (1984) de Werner Schunemann. Pela sua atuação no longa, Nina de Pádua foi premiada como melhor atriz no 2º Rio Cine Festival.

Cinema: cena do filme “Me beija” (1984) de Werner Schunemann. Pela sua atuação no longa gaúcho, Nina de Pádua foi premiada como melhor atriz no 2º Rio Cine Festival.

RTL – E sobre a sua atuação no Cinema ?

Nina – No cinema eu também fiz muitas coisas bacanas, muitos filmes que eu gostei muito de ter feito e graças a Deus vários deles com muito sucesso, um dos que eu cito, que é um sucesso até hoje, porque ele sempre passa no Canal Brasil e na Bandeirantes que é o “Menino do Rio”, que é um filme que, engraçado, eu acho que não envelheceu, apesar de falar da juventude da década de 80, porque ele é um filme de 1980, ele hoje em dia fala das mesmas coisas que acho que a garotada tá vivendo, então esse é um filme muito bacana que eu gosto de citar.

RTL – E a sua estréia na Televisão ?

Nina – A minha estréia na televisão foi engraçado foi a última coisa que fiz foi televisão, primeiro fiz teatro, e depois cinema e por ultimo fui para televisão. E eu estreei em um programa chamado MALU MULHER (Globo, 1979/1980), que era estrelado pela Regina Duarte, e do qual tive muito orgulho de fazer, foi uma alegria muito grande.

Nina de Pádua e José Mayer: com Deborah Evelyn formavam triangulo amoroso na novela "A Gata Comeu" (1985), de Ivani Ribeiro, dirigida por Herval Rossano. A trama ´-e, até os dias de hoje, a maior audiência das 18h da Rede Globo.

Nina de Pádua e José Mayer: com Deborah Evelyn formavam triangulo amoroso na novela “A Gata Comeu” (1985), de Ivani Ribeiro, dirigida por Herval Rossano. A trama ´-e, até os dias de hoje, a maior audiência das 18h da Rede Globo.

RTL – Qual foi a sua primeira novela ?

Nina – A minha primeira novela foi uma novela chamada “EU PROMETO” (Globo, 1983), foi a última novela da Janete Clair e a primeira da Glória Perez, porque a Janete Clair morreu no meio da novela e a Glória Perez assumiu a continuidade da novela e a levou até o final. Foi uma novela que foi lançada um monte de gente, eu, Cláudia Gimenez, Fernanda Torres, Malu Mader, essa turma toda estreou nessa novela, e foi uma novela bacana que passou no horário das dez.

RTL – E como foi a sua experiência fora da Globo ?

Nina – Eu trabalhei em várias emissoras, fiz

Nina de Pádua em cena da novela "A Gata Comeu" (1985), maior audiência das 18h da Globo até os dias de hoje. Na trama de Ivani Ribeiro, dirigida por Herval Rossano, a atriz interpretou Ivete, filha de Ceição (Dirce Migliaccio) e Seu Oscar (Luís Carlos Arutin) e irmã de Nanato (Sylvio Perrone). Foto do clã.

Cena de “A Gata Comeu”. Na trama, a atriz interpretou Ivete, filha de Ceição (Dirce Migliaccio) e Seu Oscar (Luís Carlos Arutin) e irmã de Nanato (Sylvio Perrone). Foto do clã.

novela no SBT, na MANCHETE, na BANDEIRANTES, que aliais não era TV BANDEIRANTES, era uma produtora independente [TV PLUS], e que era vendida para a Bandeirantes. Foi sempre muito bacana, sempre fui muito feliz nos meus trabalhos em televisão.

RTL – Quais os trabalhos que te deixaram mais saudades ?

Nina – Olha, eu tenho muito carinho pela “GATA COMEU”(Globo, 1985), que é uma novela que vive reprisando e as pessoas adoram, e eu adoro também, tenho muita saudade daquela época, tem um outro trabalho que eu considero muito importante que muitas pessoas também se lembram chamado ” A MÁFIA NO BRASIL”(Globo, 1984), que eu fazia uma delegada, foi uma minissérie, também foi muito bacana, um papel muito legal, e outra que eu tenho o maior carinho, a maior lembrança, que também foi um sucesso estrondoso na Televisão chamava-se Dona Beija (Manchete, 1986), foi uma novela sensacional que eu adorei fazer.

RTL – A “Dona Beija” era uma novela passada no século XIX, então, eu gostaria de te perguntar qual o papel do historiador nas novelas de época ?

Nina – Sem dúvida alguma a importância é imensa, porque é ele que nos dá a diretriz de comportamento, de maneira de andar, de sentar, quais eram os costumes, é ele que orienta não só ao elenco, como também ao próprio autor da novela. Então sem dúvida alguma o papel do historiador é fundamental, não dá para fazer uma novela sem o acompanhamento de um bom historiador.

RTL – Você já foi agredida em função de algum papel ?

Nina – Eu nunca passei por essa coisa de ser agredida, mas eu já fui chamada a atenção, uma determinada ocasião, exatamente porque matei o Reginaldo Faria na novela, a mulher queria me bater no meio da rua (risos).

RTL – Quem te influênciou na sua formação como atriz ?

Nina- Olha, muitas pessoas, muitos grandes atores foram meus ídolos, e tenho a impressão que meu grande ídolo, minha grande “idala” e quem me motivou a talvez a ter ido parar no teatro, em uma analise mais profunda se eu fosse fazer, talvez tivesse sido Bibi Ferreira, vi grandes musicais com Bibi Ferreira quando eu era menina, vi “MY FAIR LADY”, vi “ALO DOLLY”, e aquilo era encantador, porque eram produções de primeiríssima categoria, elencos imensos, maravilhosos, e foi muito bacana ter assistido aquilo com 6/7 anos de idade. Sem dúvida alguma BIBI Ferreira deve ter me influenciado bastante.

Nina de Pádua com Jô Soares: nos anos de 1980 a atriz fez parte do elenco do extinto "Viva o Gordo".

Nina de Pádua com Jô Soares: nos anos de 1980 a atriz fez parte do elenco do extinto “Viva o Gordo”, na Rede Globo.

RTL – Como você analisa o atual momento da teledramaturgia brasileira ?

Nina – Olha… a teledramaturgia é uma coisa assim, que eu nem sei falar muito… porque eu acho que tem novelas extremamente repetitivas, insossas e sem graça, mas ao mesmo tempo você vê trabalhos muito bacanas na televisão, eu não acompanhei essa novela “O CLONE” (Globo, 2001/2002), mas pelo que eu pude perceber parece que foi um trabalho muito legal, muito feliz da Glória, que trata de temas muito atuais e tal. Eu sou muito fã, por exemplo, de Manuel Carlos, todas as novelas dele eu acho sensacionais, ele tem um diálogo espetacular, muito bacana. Existem minisséries sensacionais, a gente vê coisas aí. Então por exemplo, a novela é uma coisa meio massificante, não muito tem como sair daquele rami rami. Mas em coisas excepcionais, como essa novela das oito e algumas miniséries, são sensacionais, temos autores maravilhosos.

RTL – E os “reality shows”?

Nina – (risos) Isso aí, já é mais complicado… é uma coisa nova, mas… eu acho que até já saturou um pouco, porque é novo até a página 3, depois você já sabe o mecanismo do jogo aquilo se torna um tanto repetitivo, e pouco criativo, porque todo mundo sabe que tá sendo filmado., então pouco verdadeiro, eu acho um pouco chato (risos)

RTL – Fala-se da pouca assiduidade do brasileiro no teatro, você concorda com isso ?

Nina – Olha eu acho que não, acho que o brasileiro adora teatro, e adora bom teatro. O problema é que a política do governo em relação a incentivos, tudo isso, é complicado, e aí acaba se tornando um pouco mais caro, quer dizer, é caro para o espectador, mas é muito barato para o produtor, que em geral o preço do ingresso não paga o custo de uma produção. Então isso é muito difícil. Agora eu acho que o público disposto a ver ele sempre está, o bom teatro o público gosta, curte, e nada substituí a presença, a relação direta ator-espectador, como acontece no teatro.

Nina de Pádua em programa da Rede Record, emissora da qual a atriz é contratada.

Nina de Pádua em programa da Rede Record, emissora da qual a atriz é contratada.

RTL – Como você vê o atual quadro cultural do país ?

Nina – Bom… eu acho que a cultura foi um pouco abandonada… esses anos todos, mais ainda nos vinte anos de ditadura que a gente viveu, agora a gente tem um povo muito bacana e muito rico culturalmente, então, com todos os não favorecimentos e os não incentivos que esses governos todos vêm praticando, independente disso a cultura do povo brasileiro é muito forte, ele é muito ligado ao folclore, a arte, a uma série de coisas, e é muiito rico, então é sempre maravilhoso, acxho que nunca vai morrer.

RTL – E para você o Rio de Janeiro ainda é a capital cultural do país ?

Nina – Infelizmente, vou ter que ser um pouco bairrista, dizer que é óbvio que sim, São Paulo está tentando desesperadamente, mas não é fato. Porque as coisas acontecem no Rio de Janeiro, viram moda no Rio de Janeiro, e daqui se espalham para o resto do país.