Tag Archives: Edição 03

Apresentação: edição 03

Revista Tema Livre
No ar desde 23 de Abril de 2002

Edição nº 03 – Niterói, Rio de Janeiro, 22 de Outubro de 2002.

A Revista Tema Livre , mais uma vez, a objetivar a difusão cultural, chega ao seu terceiro número e traz novos textos nas seções História e Tema Livre , uma nova Entrevista, além da inauguração da seção Fotos.

Na seção História, o texto “A Presença Luso-Brasileira na Região do Rio da Prata: 1808-1822.”, aborda brevemente as pretensões luso-brasileiras no Prata à época joanina. O texto apresenta informações referentes ao período colonial, como a fundação da Colônia do Sacramento (no atual Uruguai), em frente a Buenos Aires, pelos portugueses, em 1680; mostra as pretensões de D. Carlota Joaquina, já no século XIX, em criar na região do Prata uma monarquia sob o seu controle, no que ficou chamado de projeto Carlotista; e, ainda, aborda as incursões realizadas por D. João no atual Uruguai e os conflitos com o caudilho Artigas, que culminam na anexação desse país ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, mais tarde, com a independência do Brasil, torna-se uma província do Império brasileiro.

Na seção Tema Livre, o tema “A Importância da Visão Sistêmica para a Introdução dos Sistemas Informatizados nas Organizações” aborda a importância da informação para a tomada de decisão; mostra a empresa como um sistema aberto e a necessidade da visão sistêmica no desenvolvimento dos sistemas de informação, especialmente os gerenciais e demonstra os cuidados necessários para a implementação, com sucesso, dos sistemas informatizados nas organizações.

Na seção Entrevista, o entrevistado dessa edição é o professor do departamento de História e diretor do departamento de extensão da UERJ e presidente da ANPUH regional, Francisco Carlos Palomanes Martinho. Na entrevista, realizada durante o X Encontro Regional de História, o professor Martinho faz sua analise do evento, fala da regulamentação da profissão de historiador e, ainda, da utilização, por parte da TV e do cinema de personagens e fatos históricos.

Nessa terceira edição, inaugura-se a seção Fotos, com a exposição virtual “Crepúsculo Niteroiense”, com fotos de vários pontos da cidade de Niterói ao entardecer, como, por exemplo, o Museu de Arte Contemporânea, uma das sete maravilhas do mundo moderno, projetado por Oscar Niemayer e símbolo da cidade; e a Ilha da Boa Viagem, sítio de grande beleza e que abriga construções do período colonial.

Assim, a Revista Tema Livre chega ao seu terceiro número, a divulgar cultura e conhecimento para todos aqueles que lêem o idioma de Camões, e acessam o nosso sítio ao redor do mundo.

Fábio Ferreira.

Prof. Dr. Francisco Carlos Palomanes Martinho (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ)

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Revista Tema Livre pelo professor Francisco Carlos Palomanes Martinho, presidente da ANPUH regional, no dia 14 de Outubro de 2002, durante a realização do X encontro regional de história, no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Na entrevista, o Professor Martinho faz sua analise do evento, fala da regulamentação da profissão de historiador e, ainda, da utilização, por parte da TV e do cinema de personagens e fatos históricos.

Revista Tema Livre – Primeiramente, o que é a ANPUH regional ?

Francisco Carlos Palomanes Martinho – ANPUH regional é a seção do Rio de Janeiro, a organização no âmbito do estado, da Associação Nacional de História. A Associação Nacional de História é uma entidade civil, criada em 1961, que congrega professores universitários de história, e que tem como finalidade mais importante a difusão de trabalhos acadêmicos dos professores afiliados a entidade.

RTL – Qual a sua analise do evento ?

Martinho – É uma analise muito positiva. Na verdade, ao contrário da maioria das outras associações acadêmicas, a ANPUH prefere fazer encontros dentro de universidades, no próprio campus universitário, ao invés de um hotel ou coisa que o valha, como a maioria das outras associações. E nós procuramos trazer para a participação da ANPUH o número maior possível de alunos tanto de graduação quanto de pós-graduação. Quer dizer, é um evento relativamente grande, relativamente oneroso, mas muito positivo. Ao final do encontro, os trabalhos aqui entregues são publicados nos anais do encontro, o que seria a última atividade da atual gestão da ANPUH. Outra coisa positiva desse encontro e que eu acho que vai dar um salto qualitativo para a associação é o fato de que nós que tínhamos uma dificuldade logística muito grande, dessa vez conseguimos uma sede própria para a ANPUH. A ANPUH agora vai ter uma sala localizada no arquivo público do Estado do Rio de Janeiro, que é o lugar ideal para uma associação de historiadores, e o nome da sala vai ser Sérgio Buarque de Holanda, em homenagem ao centenário do Sérgio Buarque. A obtenção dessa sala vai facilitar a organização da entidade, a distribuição de material junto aos associados, e o seu funcionamento naturalmente será mais eficaz do que vem sendo até hoje.

RTL – Existem planos para estender aos alunos da graduação a possibilidade de vir a filiarem-se à ANPUH para terem acesso a publicações da associação ?

Martinho – Na verdade o planejamento foi em um sentido contrário, quer dizer, o termo original ANPUH, a sigla, significava Associação Nacional de Professores Universitários de História, depois ela mudou, manteve a sigla ANPUH mas passou para Associação Nacional de História, na qual podem se filiar não só professores universitários, mas professores do ensino médio e fundamental. Nos anos 80, alunos de graduação podiam participar das comunicações coordenadas e demais comunicações, hoje, já não podem mais, uma vez que, em primeiro lugar há fóruns para os alunos de graduação participarem, nomeadamente as semanas de iniciação científica, as universidades e etc e essa é uma associação que apesar de não ser mais, ou de não se chamar mais uma associação de professores universitários é uma associação de profissionais, então ela não deve ser confundida com outro tipo de associação. Há uma reivindicação que está em aberto que é em relação à participação dos alunos que tem bolsa de iniciação cientifica, porque o CNPQ cobra desses alunos a participação em eventos acadêmicos. Alguns professores consideram ruim a ANPUH vetar a participação dos seus próprios alunos de história em um evento organizado para a difusão cientifica da história e para a difusão de trabalhos acadêmicos na área de história, quer dizer, seria ir contra o espirito da bolsa de iniciação cientifica. Então essa é uma reivindicação que vai ser posta em questão em assembléia (A assembléia, realizada após a entrevista, decidiu permitir a participação do aluno de graduação desde que tenha a orientação de um professor).

RTL – No atual contexto brasileiro, qual o papel do historiador ?

Martinho – Quer dizer, todo profissional tem uma importância muito grande. O historiador não deve, naturalmente, superdimensionar o seu papel, nem subdimensionar. O papel do historiador é importante como difusor de conhecimento e como propagador do pensamento crítico. Quer dizer, a rigor, ao contrário do que se pensou muito nos anos 70, não é exatamente o papel do historiador fazer um trabalho de intervenção. O trabalho de intervenção cabe ao político. É natural que um historiador como um cidadão é um ser político também, mas o trabalho dele será tanto melhor quanto mais critico for e quanto mais abrangente for na sua critica, quer dizer, o papel do historiador não é o papel do militante social, embora muitas vezes possam existir pontos de interseção entre um e outro.

RTL – E sobre a regulamentação da profissão, na sua opinião, isso seria algo importante ou desnecessário para o historiador?

Martinho – Esse também é um tema aberto na associação. Há colegas associados que são favoráveis e há colegas associados que são contrários, quer dizer, no encontro de Florianópolis, em 99, que foi o encontro nacional da ANPUH, essa questão foi discutida, sendo ponto de polêmica e de indagação, havendo uma tendência predominante a aceitação ao apoio da regulamentação. Eu pessoalmente sou contra, acho que há um exagero nesse bacharelismo, na necessidade de determinar, quando, na prática, você tem no Brasil um número muito grande de excelentes historiadores que não tem o diploma de história. Como você teve e tem cada vez menos, infelizmente, um número muito grande de excelentes jornalistas que não tem o diploma de jornalismo. Aliás, depois que houve a regulamentação da profissão de jornalista, os jornais se empobreceram. Claro que essa não é a única relação, mas esse é um fato. Hoje, por exemplo, figuras como João Saldanha e como Sandro Moreira não poderiam ser jornalistas, assim como figuras como Caio Prado Júnior ou Jacob Gorender não poderiam ser historiadores, embora não tenham o diploma de historiador, e são excelentes historiadores. O Gorender, aliás, não tem nem o diploma de nível superior, então essa amarra é, ao meu juízo, muito perigosa. Agora, essa é uma opinião minha, individual, como cidadão que tem opinião sobre as coisas. A Associação, de uma maneira geral, tende a ser favorável a regulamentação.

RTL – Qual o seu ponto de vista sobre a utilização por parte da TV de fatos e personagens históricos, como recentemente, houve uma série que colocou uma figura um tanto quanto polêmica do D. João, da Dona Carlota e de toda a família real?

Martinho – Olha, eu acho que aí essa questão da relação entre a arte e a história, seja literatura, seja o cinema, seja a tv, ela é sempre polêmica e provocadora de tensões. Não cabe a nós censurar o trabalho do artista, o trabalho do artista é um trabalho livre, toda criação é livre, e você pode fazer dela o que você quiser. O problema é quando essa obra literária ou artística pretende ser uma obra interpretativa de um determinado período histórico. Quer dizer, quando para além da criação artística ela tem uma visão histórica e pretende fazer opinião a partir da visão histórica que ela tem. Aí eu acho que é justo que o historiador critique o conteúdo daquilo que está sendo feito, daquilo que está sendo elaborado. Tanto nesse episódio da minissérie da Rede Globo, quanto no filme da Carla Camurati, Carlota Joaquina, que são os dois mais recentes e que causaram mais polêmica, o grande problema é que a figura do D. João foi colocada de maneira muito caricaturada, quer dizer, de maneira muito empobrecida, enquanto na verdade ele foi um grande estadista. Para o bem ou para o mal é D. João um dos responsáveis diretos pela manutenção da América Portuguesa unificada, enquanto a América Espanhola é toda retalhada em pequenas repúblicas. A América Portuguesa se manteve unificada em decorrência do papel desempenhado pelo D. João nas relações políticas, nas relações internacionais à época. Então, eu acho que é justo que o historiador critique o conteúdo, na medida em que esse conteúdo pretende de certa maneira reconstituir a história passada.

RTL – Quais são os futuros eventos que a ANPUH regional pretende realizar?

Martinho – Bom, a ANPUH realiza encontros de dois em dois anos de âmbito regional e encontros de âmbito nacional também de dois em dois anos não coincidindo os anos, então, nos anos pares, são os encontros regionais e, nos anos ímpares, são os encontros nacionais. Agora, nesse encontro, na assembléia da associação, vai ser definido o tema do próximo encontro, pois cada encontro tem um tema especifico, onde as conferências e as mesas redondas obedecem a um tema, e o desse ano é história e biografia, mas no próximo encontro vai ser outro. Agora, para além disso, nós temos vários grupos de trabalho vinculados à ANPUH, vários GTs, que pegam temas dos mais variados, desde os GTs de gênero, por exemplo, como o GT de história da ciência, GT de história agrária e esses GTS têm a obrigação, têm a função de, ao longo desses dois anos, funcionarem, quer dizer, promoverem um conjunto de atividades que não dependem desses encontros bianuais da associação. Então, a associação se mantém viva através desses grupos de trabalho, dessas pesquisas congregadas de historiadores das várias universidades daqui do Rio.

RTL – Finalizando, para associar-se a ANPUH?

Martinho – Para se associar a ANPUH tem que procurar a direção regional, se associando aqui está automaticamente associado a ANPUH nacional e a ANPUH como um todo. A obrigação do associado é pagar a anuidade, estar em dia com a mesma e, pagando a anuidade, o associado tem o direito a receber a Revista Brasileira de História, publicada pela ANPUH nacional. Então, o certo é procurar a direção da ANPUH regional. Esse ano como o encontro foi na UERJ, a direção é da UERJ, o próximo encontro provavelmente será na UFRJ, então o futuro presidente da ANPUH provavelmente será um professor do Departamento de História da UFRJ (Após a entrevista, a presidência da ANPUH-RJ passou a ser ocupada pelo professor Manuel Salgado Guimarães – UFRJ/UERJ -, tendo como vice a professora Tânia Bessone – UERJ).

A importância da visão sistêmica para a introdução dos sistemas informatizados nas organizações

Por Carlos Campello (UFF)

Introdução

Nos dias atuais existe a necessidade de constantes modificações das estratégias organizacionais, adequando-as às rápidas transformações dos cenários, face ao ambiente cada vez mais inconstante e globalizado. Dentro dessa perspectiva, os sistemas de informação são importantíssimos, pois aquilo que é gerado por eles, ou seja, a informação, passa a ser um fundamental ativo para a gestão das organizações. Vale ressaltar que, quando se fala sobre sistemas de informação, não está se referindo apenas aos sistemas informatizados, mas sim, a todo e qualquer processo que gere informação para a tomada de decisão.

Para acompanhar a velocidade de tais mudanças, as organizações devem ser cada vez mais flexíveis, revisando permanentemente seus processos. No entanto, para que se tenha sucesso nessa revisão, é imprescindível a visão e o conhecimento da empresa como um todo, o que permite a identificação dos diversos sistemas e subsistemas da instituição, bem como a respectiva interdependência e inter-relação entre eles. Além disso, devem ser levados em consideração outros fatores, como a missão e cultura da organização.

O presente artigo aborda, inicialmente, a importância da informação para a tomada de decisão alertando, no entanto, para a utilização de diversas fontes, não só aquelas provenientes dos sistemas internos. Posteriormente, é mostrada a empresa como um sistema aberto e a necessidade da visão sistêmica no desenvolvimento dos sistemas de informação, especialmente os gerenciais e, a seguir, são demonstrados os cuidados necessários para a implementação, com sucesso, dos sistemas informatizados nas organizações.

A Informação

Tarapanoff (1995, p.14) cita Drucker que afirma: "a informação é a ferramenta do Administrador". Partindo desta afirmação, pode-se considerar que a necessidade da informação nas organizações é inquestionável. Pode-se assim dizer, sem medo de errar, que sem informação não existe Administração eficaz.

Mas, afinal, o que é informação? Diversas são as definições, com algumas, inclusive, mostrando a diferença entre dado e informação. Para Cautela e Polloni (1982) informação é a transformação do conhecimento. Stair (1998) já define dados como os fatos em sua forma primária e informação como os organizados de uma maneira significativa. Gil (1992), por sua vez, considera dado como matéria-prima e informação como produto final.

Resumindo, dados são os itens básicos de informação, antes de serem transformados, enquanto que informações são os resultados. Assim, os dados (entrada) são transformados (processamento) e geram resultados (saída). Os dados alimentam, dão entrada no sistema e as informações são produzidas, saem do sistema. Ressalta-se que a informação de determinado sistema pode servir de dado para outro.

Para que sejam utilizadas de forma eficaz pelo tomador de decisão e possam ser consideradas como um recurso estratégico, as informações devem ser geradas a partir das necessidades do usuário e serem comparativas, confiáveis, econômicas, com periodicidade certa e detalhamento adequado. Cassarro (1988, p. 38), afirma: "tanto mais dinâmica será uma empresa quanto melhores e mais adequadas forem as informações de que os gerentes dispõem para as suas tomadas de decisão".

Fica claro que o gestor necessita cada vez mais de informações. No entanto, vale alertar que, para ampliar a possibilidade de acerto, o tomador de decisão não pode se prender apenas àquelas geradas internamente, deve, também, observar os cenários externos, através da pesquisa de outras fontes, como jornais, revistas, internet. Porém, o administrador deve selecionar e analisar a qualidade da informação recebida, principalmente as oriundas do ambiente fora da organização. Os Sistemas de Informação para Tomada de Decisão Não se pode discorrer sobre o assunto sem que se destaque as diversas, porém convergentes, definições de autores a respeito do significado do termo sistema:

"Sistema é um conjunto de partes coordenadas para realizar um conjunto de finalidades." (CHURCHMAN, 1972, p.50)

"Sistema é um conjunto de partes e componentes, logicamente estruturados, com a finalidade de atender a um dado objetivo." (CASSARRO, 1988, p. 27).

"Uma rede de componentes interdependentes que trabalham em conjunto para tentar realizar um objetivo." (DEMING, 1997, p.41)

Vale acrescentar aos conceitos acima, que os sistemas sofrem permanente influência do ambiente externo conforme cita Tarapanoff (1995, p.14): "(…) têm características de grande interação com seu meio ambiente, que inclui o ambiente geral, de tarefa e institucional."

Tal fato ocorre em virtude que as organizações são consideradas um sistema aberto, sendo afetadas pela mudança das condições do meio ambiente como: o clima, a cultura, a tecnologia, a política, a legislação e a economia. Por isto, para sobreviverem, necessitam das seguintes características básicas:

. interagir permanentemente com o ambiente externo.

. reformular suas ações para atendimento ao novo ordenamento do meio ambiente.

. alterar procedimentos internos, adequando-os à nova realidade.

. produzir bens e serviços para o meio ambiente.

. viver em constante mutação, revendo a estrutura organizacional, reformulando a política de recursos humanos e investindo em tecnologia.

A partir das citações anteriores, pode-se definir sistemas de informação como um conjunto de partes coordenadas para atingir-se a determinado objetivo, com elevado grau de inter-relacionamento e interdependência, necessitando de constante adequação às mudanças, sejam elas provenientes das ações internas ou oriundas do ambiente externo, contendo três fases básicas entrada (dado) processamento e saída (informação). A seguir (figura 1) são demonstradas as etapas de um sistema e a relação com o meio ambiente:

 

image001

Figura 1

 

internamente, as organizações são divididas em sistemas. Além desta divisão, os sistemas podem ser divididos em partes menores denominadas subsistemas e, estes, em rotinas, sub-rotinas e aí por diante (figura 2) buscando atingir determinado objetivo. A questão é abordada por Cautela e Polloni (1982) quando afirmam que qualquer sistema pode ser encarado como subsistema de um sistema maior, sendo isto denominado hierarquia de sistemas.

 

 

image002

Figura 2

 

Ressalta-se que toda esta divisão mantém a interdependência e inter-relação, sofre a influência do ambiente externo e possui as fases de entrada, processamento e saída. Nakagawa (1993, p.23) afirma: "devido ao fato de que os subsistemas, em graus variáveis, são interdependentes, as modificações ocorridas em um subsistema, provavelmente, afetam o comportamento dos outros subsistemas."

A visão da empresa como um todo e a identificação de seus sistemas com respectivos desdobramentos, auxilia na implementação dos sistemas de informação, sejam eles informatizados ou não, pois permite a observação das interações, o estabelecimento de prioridades e otimiza a distribuição das equipes de desenvolvimento.

Autores destacam a importância dos sistemas de informação para a tomada de decisão. Luporini e Pinto (1985, p.46) afirmam: "(…) sistema é um processo ou um esquema de trabalho estruturado para orientar a tomada de decisão empresarial, em vista de propósitos preestabelecidos e, sempre, da melhor maneira possível." Por sua vez, Araújo (2001, p.154) cita: "O objetivo dos sistemas de informação é apresentar os fluxos de informação e estabelecer vinculações com o processo decisório na organização."

Mas é preciso ter muito cuidado na definição dos sistemas de informações gerenciais, face ao risco de produzir-se informações inadequadas, além de enviá-las a pessoas que não as necessitam. Por isso, é fundamental a identificação do grau de agregação informacional necessário aos diversos níveis organizacionais (estratégico, tático e operacional).

O processo decisório de nível estratégico tem por fim a fixação dos objetivos globais da organização, a partir do estabelecimento da missão, visão, pontos fracos e fortes, enfim, trata-se de uma abordagem mais ampla e de longo prazo. Por sua vez, o de nível tático possui dois fatores preponderantes: o caráter mais normativo e metas quantificadas de médio prazo. A partir dos processos decisórios acima, são estabelecidas as ações operacionais e determinados os níveis de agregação das informações.

Cassarro e Bio tecem considerações a respeito das informações operativas e gerenciais. Cassarro (1988, p.44) afirma que: "as informações operativas praticamente independem das pessoas, enquanto as gerenciais são muito influenciadas pelas pessoas que ocupam posições gerencias." Bio (p.120) cita: "uma informação operacional gerada por um sistema qualquer tem por finalidade simplesmente permitir que determinadas operações continuem acontecendo dentro do ciclo operacional da empresa". Sobre as de nível gerencial, afirma o autor: "as informações de natureza gerencial destinam-se a ´alimentar` processos de tomada de decisão".

A informação gerencial deve ser uma ferramenta que permita o controle do planejamento estabelecido, a medição e avaliação dos resultados alcançados, propiciando a adoção rápida dos ajustes necessários à melhoria das ações da organização.

Sobre o Sistema de Informação Gerencial Tarapanoff (1995, p.17) cita:

"O Sistema de Informação Gerencial auxilia os administradores a consolidar o tripé básico de sustentação organizacional: qualidade, produtividade e participação. Pode ser definido como o processo de transformação de dados em informação que são utilizadas na estrutura decisória da empresa, bem como proporciona a sustentação administrativa para otimizar os resultados esperados (OLIVEIRA, 1993, p.44-45)."

Embora não exista a obrigatoriedade da utilização dos recursos da computação para a implementação dos sistemas de informação, é inegável que o avanço da informática vem auxiliando as organizações nesse sentido, agilizando o fluxo da informação dentro das empresas e facilitando ao tomador de decisão.

No entanto, a pura e simples utilização da tecnologia da informação não garante o sucesso dos sistemas, inclusive, o desconhecimento e a falta de entendimento sobre a visão sistêmica, fizeram com que diversos projetos de informatização fossem implementados de forma segmentada, ocasionando o fracionamento das informações dificultando a ação gerencial do tomador de decisão.

A introdução da tecnologia nas organizações implica, ainda, em modificações importantes nas instituições, interferindo, por conseguinte, no relacionamento das pessoas entre si, nas técnicas e métodos de trabalho, na cultura, na relação de poder e no domínio da informação. A questão é abordada por Bio (1985, p.23): "é possível interpretar qualquer processo de mudança quanto ao seu impacto no todo, por exemplo, a introdução de um computador na empresa não é vista simplesmente como uma questão de instalação física ou de programação. Ao contrário, existem reflexos no sistema organizacional." e por Cury (2000, p.119): "(…) as organizações criam e desenvolvem seu próprio caráter, sua própria cultura ou clima, com suas normas, seus tabus, costumes e crenças."

Durante a década de 90 acontece a expansão dos Sistemas de Informações Gerenciais e a entrada no mercado dos Sistemas Integrados de Gestão Empresarial – chamados de ERP, sigla que representa Enterprise Resource Planning – que são, normalmente, pacotes de software que buscam integrar, através de uma cadeia, todas as informações da organização, sejam elas contábeis, financeiras, logísticas, recursos humanos, clientes, dentre outras.

Sobre o sucesso na introdução dos sistemas ERP, as opiniões são divergentes, com casos de sucesso e outros nem tanto, com empresas, inclusive, implementando apenas módulos e outras abandonando completamente o projeto, principalmente em função dos custos e do impacto das mudanças na cultura da organização. Giurlani. relata, em artigo, a experiência de Carlos Alberto Barros da Costa, gerente de Tecnologia da Informação da Peixoto :

"(…) a maior dificuldade refere-se à mudança de cultura que o ERP está imprimindo na empresa. Muitos usuários têm se queixado de perda de produtividade no trabalho. ´Eles estavam habituados com o antigo sistema e agora precisam navegar muito mais para obter as mesmas informações`, explica o gerente. Na sua avaliação, o ERP trará muitos benefícios para a empresa, mas nem sempre os funcionários têm essa percepção porque o redesenho dos processos causa muitos impactos na forma de trabalhar."

Fica evidente que a principal causa do fracasso na utilização da informática nas organizações está na priorização do investimento em recursos tecnológicos, em detrimento do estudo dos processos, do conhecimento social, cultural e político da organização e do atendimento ao desejo do cliente, seja ele interno ou externo.

Conclusão

Concluindo o presente artigo, são apresentados pontos importantes a serem observados na introdução de sistemas informatizados nas organizações, principalmente aqueles que têm como principal objetivo, o de fornecer informações ao tomador de decisões.

Inicialmente, vale ressaltar que, embora não seja a única forma, é inegável a importância da utilização dos recursos computacionais na agilização do fluxo de informação mas, no entanto, a pura e simples introdução de software e equipamentos não garante a eficácia se forem aplicados em processos ultrapassados, gerando a informatização do caos. Por isso, as organizações não devem privilegiar a informática em seu projeto de modernização, mas colocá-la no mesmo nível das demais técnicas organizacionais, além disso, a tecnologia somente deve ser utilizada após a exaustiva reformulação dos processos de trabalho.

Outro aspecto importante é que os projetos de informatização devem visualizar o contexto sistêmico da organização, com a identificação dos diversos sistemas, subsistemas e demais desdobramentos. Tal identificação pode ser feita a partir do conhecimento da estrutura e das atribuições das áreas da empresa. Com isto, passa-se a ter a visão da empresa como um todo.

Para quem? como? por que? quando? e onde? são indagações básicas na definição das informações de um sistema. Além disso, devem ser observadas as interdependências e inter-relações entre elas, buscando, sempre, agrega-las de forma a atender aos níveis estratégico, tático e operacional da organização.

Necessário, também, é ter em mente que as organizações são um sistema aberto, sendo afetadas pela mudança das condições do meio ambiente como: o clima, a cultura, a tecnologia, a política, a legislação e a economia. Por isso, os sistemas devem ser flexíveis, adequando-se permanentemente às alterações decorrentes das mudanças do ambiente externo.

Finalizando, para que tenham possibilidade de sucesso, os projetos de informatização não devem deixar de considerar os aspectos social, cultural e político da organização, além do atendimento ao desejo do cliente, seja ele interno ou externo.

Bibliografia

ARAÚJO, Luis César G. de. Organização, sistemas e métodos: e as modernas ferramentas de gestão organizacional. São Paulo: Atlas, 2001.

BALLESTERO-ALVAREZ, Maria Esmeralda. Manual de organização, sistemas e métodos: abordagem teórica e prática da engenharia da informação. São Paulo: Atlas, 1997.

BIO, Sérgio Rodrigues. Sistemas de Informação : um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1996.

CASSARRO, Antonio Carlos. Sistemas de informações para tomada de decisões. São Paulo: Pioneira, 1988.

CAUTELA, Alciney Lourenço; POLLONI, Enrico Giulio Franco. Sistemas de informação. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 1982.

CHINELATO FILHO, João. O&M Integrado à Informática. Rio de Janeiro: LTC, 1998.

CHURCHMAN, C. West. Introdução à Teoria dos Sistemas. Petrópolis:Vozes, 1972.

CURY, Antonio. Orga nização & Métodos: uma visão holística. São Paulo, Atlas, 2000.

DEMING, Edward W. A nova economia para a indústria, o governo e a educação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.

GIL, Antonio de Loureiro. Sistemas de informações contábil / financeiros. São Paulo: Atlas, 1992.

KATZ, Daniel; KAHAN, Robert. Psicologia Social das Organizações. São Paulo: Atlas, 1970.

LUPORINI, Carlos Eduardo Mori e PINTO, Nelson Martins. Sistemas administrativos: uma abordagem moderna de O&M. São Paulo: Atlas, 1985.

MAÑAS, Antonio Vico. Administração de sistemas de informação. São Paulo: Érica, 1999.

NAKAGAWA, Masayuki. Introdução à controladoria: conceitos, sistemas, implementação. São Paulo: Atlas, 1993.

RIBEIRO, Carlos Campello. Abordagem estrutural: uma metodologia para organização, sistemas e métodos. Cadernos Técnicos de O&M, n. 10. São Paulo: CENADEM, 1985.

________. Sistemas de Informação, o Papel de O&M. Anais do 3º Congresso Brasileiro de Organização, Sistemas e Métodos. São Paulo: CENADEM, 1986.

STAIR, Ralph M. Princípios de Sistemas de Informação: uma abordagem gerencial. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1998.

TARAPANOFF, Kira. Técnicas para tomada de decisão nos sistemas de informação. Brasília: Thesaurus, 1995.

A Presença Luso-Brasileira na Região do Rio da Prata: 1808-1822

Por Fábio Ferreira

 

1. Introdução 

D. João de Bragança

D. João de Bragança

O presente trabalho propõe abordar brevemente as pretensões luso-brasileiras na região do Rio da Prata à época joanina, porém, para compreender melhor as incursões do então príncipe regente D. João nessa região, é necessário um retorno ao período colonial, quando Portugal funda no Prata a Colônia do Sacramento.

Em virtude de tal necessidade, o próximo item do trabalho trata desde a fundação da já citada Colônia do Sacramento, até os primeiros anos do século XIX, passando pelos inúmeros conflitos sobre a posse da margem esquerda do Prata, ora em mãos lusitanas, ora castelhanas.

O terceiro item é dedicado a chegada da corte ao Rio de Janeiro, e as pretensões da esposa do príncipe regente, Dona Carlota, em estabelecer uma monarquia no Prata sob seu domínio.

No item seguinte, é a vez das incursões que Dom João realiza na Banda Oriental, atual Uruguai, que, em 1816, culmina com uma ocupação um pouco mais duradoura da Coroa portuguesa nessa região.

Ainda nesse item, é abordada as atividades do caudilho Artigas nessa área, além da anexação ao Brasil em 1821, que faz com que, mesmo após a independência brasileira face a Portugal, o que hoje é o Uruguai, tenha sido por alguns anos uma província brasileira.

Assim, nas linhas que se seguem, serão encontrados alguns pontos a respeito das pretensões luso-brasileiras na região do Prata, e, mais especificamente, no território uruguaio.

2. Fundação da Colônia do Sacramento e a Presença Portuguesa no Prata

Mapa da bacia do Prata com a divisão político-administrativa atual.

Mapa da bacia do Prata com a divisão político-administrativa atual.

O interesse luso na região do Rio da Prata pode ser constatado através de várias atitudes portuguesas, como, por exemplo, a fundação da Colônia do Sacramento na parte em frente a Buenos Aires no território que hoje é a República Oriental do Uruguai, em 1º de Janeiro de 16801.

Entretanto, a fundação da Colônia do Sacramento não é o único fato que evidencia os objetivos de Portugal nessa região. Outras atitudes da metrópole lusa demonstram o seu interesse na região platina, como, por exemplo, o ato da Santa Sé2 de, em 1671, colocar sob a jurisdição espiritual da Diocese do Rio de Janeiro essa região, e mais, essa mesma região ter sido concedida como sesmaria a membros da família Corrêa de Sá, no ano de 1676.

Sobre o local onde a Colônia foi fundada, pode-se dizer que, segundo Carvalho (1998), era mal escondido, o que dificultava a defesa da área; além de ficar a apenas oito léguas de Buenos Aires e, assim, o melhor local teria sido Maldonado para o empreendimento lusitano.

O objetivo de tal fundação, segundo o mesmo autor, era colocar um ponto português na região, e com isso, desagregar o domínio espanhol nessa parte da América, o que culminaria em territórios hispânicos sem ligação.

Outra razão que levou Portugal a fundar tal colônia no Rio da Prata foi de ordem econômica, já que havia relações comercias com Buenos Aires, sendo que tais relações forneciam “(…) ao Brasil, carente de prata, a obtenção mais ou menos abundante deste metal, através dos ‘peruleiros’ que desciam do Alto Peru, trocando sua cobiçada mercadoria pelo não menos desejado escravo negro de suma utilidade ao trabalho crescente das minas do altiplano.”3

Sobre a circulação da prata peruana na América Portuguesa, mais precisamente no Rio de Janeiro e as relações comercias com o Prata, Muller e Lima (1999) mostram que

“(…) os comerciantes sediados no Rio de Janeiro compravam as mercadorias portuguesas para depois revendê-las na América espanhola. Dessa forma, os reales de prata do Peru afluíam ao Rio de Janeiro (…)

A entrada de reales de prata no Rio de Janeiro deve-se também ao fato de que os navios que saiam do Prata (…) passaram a abastecer-se no Rio de Janeiro, onde compravam pau-brasil e mercadorias (…) necessárias para alimentar a tripulação durante a travessia do Atlântico.”

Tal contato não fica restrito ao Rio de Janeiro. Em outro trabalho4, Muller e Lima observam que “(…) no extremo sul, na área onde atualmente se localiza o estado do Rio Grande do Sul, circulavam indistintamente moedas brasileiras e dos países vizinhos.”, o que também evidencia a relação existente entre o Brasil e a região do Prata.

É igualmente válido ressaltar que o número de portugueses em Buenos Aires era grande, e que, durante a União Ibérica, o contrabando ocorria com a conivência castelhana. No entanto, a partir de 1640, com a separação de Portugal da Espanha, os súditos da monarquia lusa que viviam em Buenos Aires passaram a sofrer as duras leis fiscais impostas pelos espanhóis. Assim, a Câmara do Rio sugere a fundação de um estabelecimento luso na margem esquerda do Prata5.

No que diz respeito aos argumentos utilizados por Portugal para justificar a sua presença na região platina, um deles era terem sido os lusitanos os descobridores desse rio e, o outro, era o de que eles estavam a buscar os limites naturais da América portuguesa.6

Entretanto, tal discurso não impediu que o governador de Buenos Aires atacasse a Colônia do Sacramento que, já em Agosto de 1680, estava nas mãos dos espanhóis, tendo sido restituída a Portugal no início de 1683, e, em 1701, Felipe V, novo rei da Espanha, renunciou aos seus direitos sobre a já citada colônia.

Porém, devido às alianças feitas por Portugal na Europa, a Guerra de Sucessão espanhola tem seus reflexos na América: Entre 1701 e 1705, Buenos Aires ataca mais uma vez a Colônia do Sacramento, que fica nas mãos dos súditos de Castela até o Tratado de Utrecht, realizado em 1715 e, assim, Portugal volta a ter a posse da colônia.

Voltando a ser uma possessão lusa, o governador da Colônia do Sacramento começa a competir com o de Buenos Aires, ambos visando fundar novas povoações à esquerda do Prata. Nesse contexto, o representante da monarquia espanhola funda, em 1726, a atual capital do Uruguai, Montevidéu.

Pode-se interpretar essa fundação como prejudicial a Portugal, já que a criação de Montevidéu acarretou em dificuldades de comunicação entre a Colônia e o Rio de Janeiro, e, na criação pelos portenhos, da Banda Oriental.

Em 1735, mais um novo ataque de Buenos Aires à Colônia do Sacramento, tendo sido resistido por 23 meses pelos que ali estavam. Em 1737 há entendimento entre as duas potências, Portugal continua com a possessão que fora atacada por Buenos Aires, e, nesse mesmo ano é criada, como posto português no sul do atual Brasil, a Colônia do Rio Grande de São Pedro.7

Alguns anos depois, mais precisamente no dia 13 de Janeiro de 1750, devido às mudanças territoriais ocorridas desde o estabelecimento da linha de Tordesilhas, um novo acordo é celebrado entre Portugal e Espanha, o tratado de Madrid, que anula as decisões anteriores sobre os limites territoriais, e, assim, a Colônia do Sacramento é trocada pelos Sete Povos das Missões.

Entretanto, esse tratado batizado com o nome da capital espanhola gerou insatisfações, tanto em Pombal, ministro de D. José I, quanto em Carlos III, novo soberano espanhol, e então, em 1761, o tratado de Madrid é anulado pelo de El Pardo.

Vale observar que mesmo com a anulação de um tratado e a realização de um novo, esses atos não impediram novos ataques portenhos à Colônia do Sacramento: um devido à guerra dos sete anos, contabilizando a quarta investida contra essa região, sendo que de tal ataque nem mesmo o Rio Grande do Sul ficou livre; e um outro, após 1776, ano em que Portugal recuperou tais domínios, mas que não impediu nova investida espanhola – dessa vez com 13.000 homens – contra a Ilha de Santa Catarina, a Colônia do Sacramento, e o Rio Grande, tendo somente malogrado o intento castelhano de atacar o último.

A Ilha de Santa Catarina é devolvida a Portugal em 1777, pelo Tratado de San Ildefonso assinado pela herdeira de D. José I, D. Maria, porém, a Colônia do Sacramento, assim como os Sete Povos das Missões, ficaram sob o domínio espanhol.

Um novo tratado é realizado em Badajoz no ano de 1801, no entanto, sem invalidar o de San Ildefonso. Assim, nesse ano, Portugal recupera os Sete Povos das Missões e fixa-se definitivamente no arroio Chuí.

Tais conflitos e disputas não findam-se nesse momento, havendo ainda mais investidas luso-brasileiras no território do atual Uruguai, além das pretensões da esposa do príncipe regente português em constituir uma monarquia no Rio da Prata. Entretanto, entendendo a complexidade dessas questões, elas serão estudadas nos próximos itens do presente trabalho.

3. A Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro e o Carlotismo

“Chegada da família real de Portugal em 7 de março de 1808″: Óleo sobre tela de Geoff Hount, que retratou, em 1822, a transmigração da Corte.

“Chegada da família real de Portugal em 7 de março de 1808″: óleo sobre tela de Geoff Hount, que retratou, em 1822, a transmigração da Corte.

Devido à invasão de Napoleão a Portugal8, a família real chega ao Rio de Janeiro no dia 8 de março de 18089 e, ao contrário do que alguns autores, ou até mesmos filmes e séries de tv, tentam atribuir ao fato ocorrido nos primeiros anos do século XIX como um ato de covardia de um monarca fraco e débil, Lima (1996) mostra o contrário.

O autor evidencia que o príncipe regente tendo vindo para a América, evitava as humilhações pelas quais passaram os seus parentes castelhanos; perdia o reino, mas ficava com as colônias, em sua totalidade muito mais ricas do que a metrópole; não perdeu seus direitos como soberano, e mantinha as suas pretensões e esperanças políticas, por exemplo; além de ser uma ameaça viva ao sistema napoleônico; e mais, a atitude de vir para a colônia não foi algo impensado, irrefletido, tendo sido já discutido por figuras como o padre António Vieira e o Marquês de Pombal.

Ainda sobre a vinda da família real para a América, vale extrair do texto de Lima (1996, p.43) o seguinte trecho: ” (…) é muito mais justo considerar a trasladação da corte para o Rio de Janeiro como uma inteligente e feliz manobra política do que como uma deserção covarde.”

Assim, por ter vindo para a América, o príncipe regente D. João10 pôde continuar a agir como um monarca, sendo através dos benefícios realizados na cidade do Rio de Janeiro – basta lembrar da Biblioteca Nacional e do Jardim Botânico – sendo através de atitudes como a anexação de Caiena em 180911 e as intervenções efetuadas na Banda Oriental.

À época da transferência da Corte portuguesa para o Brasil, a Região do Prata estava a ferver, o que fez com que D. João ansiasse reaver o território que já fora perdido quatro vezes pela Coroa portuguesa. Sobre tais desejos, Acevedo (1933, p.71) narra que “Procuró desde el primer momento la Corte portuguesa apoderarse del Río de la Plata.”

Em 1808, a esposa do príncipe regente português, Dona Carlota Joaquina12 demonstra os mesmos interesses que o seu marido no Prata, e procura legitimá-lo por ser filha de Carlos IV e irmã de Fernando VII, assim, a manifestar os seus desejos de governar em nome dos seus, que neste momento, na Europa, Napoleão mantinha-os em cativeiro.

Assim, segundo Lima (1996), Carlota, mesmo tendo perdido os seus direitos como infanta espanhola devido ao casamento, mantém intensa correspondência com pessoas influentes e autoridades de Buenos Aires, mas também, de Montevidéu, Chile, Peru e México, sempre a usar o pretexto de que estava a zelar os interesses de seus parentes.

Segundo Carvalho (1998), de início, D. João ficou de acordo com os planos de sua esposa em estabelecer uma monarquia no Rio da Prata que ficaria sob o domínio da espanhola, e que teria como herdeiros do trono os filhos do casal, e assim, mais tarde, formando no continente sul-americano um grande império luso-espanhol, além da ida de Carlota para o Prata ser uma maneira de D. João ver-se livre da esposa.

Lima (1996, p.191) também aborda como o príncipe regente encarou tal situação, que pode ser observado através dos seguintes fragmentos: “É fora de dúvida que Dom João VI esteve a começo de acordo com o projeto que teria dupla vantagem de livra-lo da presença nefasta da mulher, enxotando-a com todas as honras para Buenos Aires (…) e ao mesmo tempo estender com essa parceria distante a sua importância dinástica (…)” e “(…) Dom João VI [ao] favonear os desejos régios da consorte, satisfazia ambos os sentimentos em conflito íntimo: o prosaico, libertando-se da megera que o atormentava, e o idealista, realizando um velho sonho real português, o de reunir as descobertas debaixo do mesmo cetro.”

A Inglaterra, também em um primeiro momento13, coloca-se a favor das pretensões de Dona Carlota, pois via nos planos da princesa uma maneira de impor a hegemonia do comércio britânico no Prata, e, para alguns portenhos, tal idéia não era de todo mal, ao contrário, era um meio de obter a independência face a Espanha.

Sobre como os objetivos de Carlota Joaquina foram recebidos no Prata, Carvalho (1998, p.53) mostra que “No vice-reinado em revolução não era mal recebido o plano, pois Belgrano, Pueyrredon, Mariano Moreno e outros próceres acolhiam a idéia de obedecer a uma Infanta da casa de Espanha.”

Lima (1996) cita alguns dos motivos que levaram esses homens a apoiarem os planos da princesa: o desligamento do Prata da metrópole sem sacrifícios; o novo estado criar uma relação pessoal com o seu soberano, de forma diferente que fora na época da colônia; a preferência em seguir alguém ligado à casa que legitimamente, na opinião desses homens, tinha direito de reinar no Prata, e não serem governados por estrangeiros

Nesse período, o Rio de Janeiro foi palco da atuação de argentinos partidários da princesa que articulavam a favor dela, como Saturnino Rodríguez Peña, que escreveu a seguinte missiva a Carlota, onde fica claro o seu apoio, e o desejo da presença da esposa de D. João no Prata, conforme o trecho a seguir:

“Los Americanos en la forma más solemne que por ahora les es posible, se dirigen à S.A.R. la Señora Doña Carlota Joaquina, Princesa de Portugal e Infanta de España, y la suplican les dispense la mayor gracia, y prueba de su generosidad dignandose trasladarse al Río de la Plata, donde la aclamaran por su Regenta en los términos que sean compatibles con la dignidad de la una, y livertad de los otros.”14

Assim como o Rio assistiu a ação de partidários da princesa, Buenos Aires foi espectadora da atuação do agente secreto britânico James F. Burke, enviado pelo secretário de guerra Castlereagh, para proteger os interesses do comércio do Reino Unido na região platina, e, assim, esse agente vinculou-se ao grupo carlotista, como também aos membros do governo e seu circulo.15

Frente ao projeto carlotista não era clara a política do gabinete britânico: O almirante Sidney Smith16, chefe da esquadra inglesa, colocava-se ao lado da princesa, tendo inclusive preparado a sua frota para leva-la até Montevidéu; já Lord Strangford era opositor aos planos de Carlota, sendo que Londres fica ao lado do último, e Smith é substituído pelo almirante De Courcy.

Sobre tais eventos, Carvalho (1998, p.54) mostra que

“Apesar dos numerosos e influentess partidários de D. Carlota Joaquina, a execução do plano falhou por causa da oposição britânica, manifestada por Lord Strangford. À Grã-Bretanha convinha a libertação completa das colônias espanholas, porque o sistema de comércio adotado pela Espanha impunha um monopólio para a metrópole e isto constituía um obstáculo à política inglesa.”

O mesmo autor ainda explicita que à Inglaterra não era conveniente a expansão lusa na América, já que, assim poderia criar-se um “bloco latino forte e coeso” (Carvalho, 1998, p.54), o que poderia ter como resultado o comprometimento das vantagens que os britânicos tiravam de Portugal.

O posicionamento de D. João também muda em relação às pretensões de sua esposa. Segundo Carvalho (1998), o príncipe regente não confiava na princesa, que poderia vir a conspirar contra ele quando chegasse ao poder, pois ela já tramara contra ele antes, e, então, D. João, que inicialmente viu com bons olhos tais planos, muda de opinião à respeito de vê-la em um trono platino.

Vale também citar que, segundo Lima (1996) a persuasão de Lord Strangford, que seguia o posicionamento do gabinete inglês e as aspirações do comércio britânico; e as intrigas dos protegidos do príncipe regente contra Carlota, também influíram na decisão de D. João de retirar a permissão para a esposa embarcar para o rio da Prata.

4. As Ações Luso-Brasileiras na Banda Oriental: 1811 e 1816

Aquarela de Debret: “Embarquement des troupes a Prahia Grande pour I'Expedition contra Monte Video”.

Aquarela de Debret: “Embarquement des troupes a Prahia Grande pour I’Expedition contra Monte Video”.

Como foi mostrado anteriormente, as pretensões de Dona Carlota Joaquina na região platina malogram, e a independência de Buenos Aires ocorre em maio de 1810, criando-se assim as Províncias Unidas do Rio da Prata, que desejavam fazer um novo país que geograficamente se assemelhasse ao antigo Vice-Reinado17.

Para tal anseio, se fazia necessário atrair o Alto-Peru, atual Bolívia, e o Paraguai, além do que hoje é o Uruguai. Entretanto, o plano portenho de atrair os dois primeiros malogra, restando somente Montevidéu, ainda em mãos espanholas.

Em virtude da manutenção de tal poder europeu na Banda Oriental, Buenos Aires apoia os uruguaios partidários da independência desse país, entretanto, segundo Padoin (2001), os criollos de Montevidéu posicionaram-se contra a revolução de maio de 1810, pois competiam com os portenhos no comércio na bacia do Prata. Assim, os já citados criollos ficam ao lado do representante espanhol, Javier Elío.

Esses acontecimentos acarretaram diversas turbulências na Banda Oriental, tendo como conseqüência guerrilhas que chegaram, inclusive, a perturbar a fronteira com o Rio Grande.

Então, sobre tais incursões joaninas na região platina, a primeira delas foi realizada em 1811, com os pretextos de resolver essa já citada contenda, além de garantir esse território aos Bourbon, que, como já foi dito, era a casa cuja qual vinha D. Carlota Joaquina, esposa de D. João, e que nesse momento, devido ao fato da Espanha estar ocupada por Napoleão, essa família estava sem o trono espanhol, ocupado por um irmão do líder francês. Entretanto, no ano seguinte, após um armistício, Portugal retira-se da Banda Oriental.

Soma-se ainda a incursão de 1811 o fato de que, segundo Padoin (2001), as tropas de Buenos Aires e de Artigas18 cercaram Montevidéu, que recorreu à ajuda lusa, tendo o Rio de Janeiro enviado 4 mil soldados para apoiar tal cidade. A conseqüência de tal ato foi o recuo dos portenhos, que deixaram de apoiar Artigas e prometeram não mais pelejar com Elío.

Nos anos seguintes, seguem-se agitações nessa região que a pouco estava dominada por forças lusas, e as pretensões de Buenos Aires em anexar tal área continuam: Buenos Aires ocupa Montevidéu em junho de 181419 e, no ano seguinte, é a vez das forças artiguistas dominarem tal região.

Uma vez no poder, ainda segundo Padoin (2001), Artigas expropria terras e gados daqueles que foram seus inimigos, distribuindo-as àqueles que o apoiaram, na forma de pequenas propriedades. Os beneficiados foram, na sua maioria, gaúchos, escravos libertos, indígenas, enfim, pessoas que não gozavam de boas condições na sociedade de então, porém, eles deviam cultivar as terras que receberam e/ou recuperar o rebanho, senão o fizesse, havia o risco do bem converter-se a favor do Estado que estava a formar-se.

Com tal atitude, Artigas punia seus inimigos, visava recuperar a economia local, e assegurava efetivos para as lutas armadas. O caudilho também procurou recuperar o comércio dos portos de Montevidéu, Maldonado e Colônia; e também, controlar o contrabando.

Entretanto, as violações ao território brasileiro continuam, o que tem como conseqüência nova invasão lusitana à Banda Oriental, dessa vez em 1816, sendo que as hostes portuguesas que marcharam sobre esse território eram possuidoras de 12.000 homens20, considerados a elite do exército lusitano, veteranos das guerras napoleônicas, e mais, tal ocupação fora planejada detalhadamente, segundo Padoin (2001), desde 1815.

As atividades de Artigas nessa área serviram como justificativa para tal invasão, que foi interpretada pela corte portuguesa localizada no Rio de Janeiro – muito conveniente para si, já que as pretensões lusas na área já eram anteriores a esse momento – como se a região estivesse mergulhada em uma profunda crise política e social e, então, a ocupação significaria colocar ordem na “anarquia” que a região atravessava.

Vale observar que segundo Carvalho (1998) o argumento de proteger os direitos dos Bourbons nesse momento já não tinha mais razão, pois desde 1815 os parentes da Casa Real portuguesa voltaram a ocupar o trono de Espanha, e que, na verdade, havia preocupações por parte da monarquia sediada no Rio de Janeiro de ver o estuário do Rio da Prata tornar-se um bloco político espanhol.

Porém, em Carneiro (1946), pode-se ler que Artigas intentava construir um estado independente, cujo território seria o Uruguai, as províncias argentinas de Entre Rios, Corrientes e Missões, e a província brasileira do Rio Grande do Sul.

Então, são utilizadas como justificativa as pretensões de Artigas, a quem as tropas luso-brasileiras, lideradas pelo general Carlos Frederico Lecor (mais tarde visconde de Laguna)21, impõem várias derrotas, e assim, o militar chega a Montevidéu no dia 20 de janeiro de 1817: “O cabildo… saiu a recebe-lo solenemente e Lecor entrou na praça sob luzes e no meio de aclamações entusiastas tal era o estado a que Artigas e seus sequazes havia traído o espírito de seus compatriotas.” (BERRA, 1874, p. 73)22

Tendo tal fato ocorrido, é instalado um novo governo na Banda Oriental, que tem como chefe Lecor. Entretanto, segundo Carvalho (1998), as atividades de guerrilhas lideradas por Artigas continuam no interior da Banda, tendo o caudilho sido derrotado somente em 1822.

Sobre tais atividades guerrilheiras no interior e a ocupação de Montevidéu, destacam-se os seguintes trechos de Lima (1996, p.391 e p.392): “(…) Lecor estava senhor de Montevidéu, mas não da campanha, a qual continuava percorrida, dominada e assolada pelos rebeldes, só podendo os portugueses comunicar-se com o Brasil por mar.” e que o general estava em tal situação por “(…) apenas conta[r] [com] uma brigada acampada a alguma distância da cidade, e não era possível então, com a insurreição no norte [Pernambuco], enviar-lhe reforços, que por outro lado o velho reino só muito constrangido consentia em prestar.”

O já citado autor ainda explicita que tal postura do governo sediado no Rio de Janeiro devia-se ao alto custo das expedições, e que as finanças do reino não iam nada bem, sendo que os oficiais do exército não recebiam os seus soldos há oito meses, e os oficiais da esquadra, há onze.

Porém, mesmo Lecor tendo ocupado primeiramente Montevidéu e ter “sido senhor” – reproduzindo aqui as palavras de Oliveira Lima – desta cidade, a capital da Banda Oriental estava longe de ser um sítio aonde reinava a paz: havia ações de partidários de Artigas; agentes de Buenos Aires; e ainda, espanhóis, militares e civis, que visavam a restauração do antigo domínio da sua coroa.

Entretanto, em 1817, segundo o mesmo autor, tanto no Rio, quanto em Montevidéu, era sabido que Artigas não estava bem de saúde, daí entregando-se à bebida, que por sua vez tinha como resultado a piora do seu estado, e, paralelamente, sua popularidade caía, tanto que, já em meados de 1818, locais como a antiga Colônia do Sacramento, Maldonado, e o curso do rio Uruguai já estavam em mãos lusas.

À medida que a autoridade de Artigas ia sendo enfraquecida, a população local ia mostrando-se simpática a ocupação portuguesa que Lecor soube tirar proveito, dando armas à população e organizando-os em guerrilhas.

Rivera e Andresito, companheiros de Artigas, como pode ser constatado em Padoin (2001), foram derrotados. O primeiro, em 1819, deixa de apoiar Artigas, tornando-se Coronel do Exército português, e recebendo o título de Barão do Império do Brasil, enquanto que o segundo não é possuidor de tal sorte: é preso e levado para o Rio de Janeiro.

Ainda segundo a mesma autora, por volta de 1820, vários líderes artiguistas passaram a apoiar os portugueses, outros buscaram o exílio, enquanto que um terceiro grupo, caudilhos das províncias de Entre Rios e de Santa Fé, entraram em acordo com Buenos Aires, abandonando a causa de Artigas e a Banda Oriental.

Artigas, não aceitando os fatos reage, mas é derrotado pelo caudilho de Entre Rios, Ramirez, o que tem como conseqüência o seu exílio no Paraguai.

Alguns anos após a ocupação liderada por Lecor, o mesmo cria o governo da Província Cisplatina, que é incorporada ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve no ano de 1821. Sobre tal anexação, o uruguaio Felde (1919, p.87) escreve que

O Congresso reunido por Lecor, sancionando a anexação da Banda Oriental ao Império português é a expressão de uma fatalidade. O país já não tem vida própria; sem população, sem gado, sem agricultura, sem comércio, sem rendas, sem exércitos, a incorporação é um imperativo. (…) [O país] perdera todas as condições materiais de um país independente. Reconhecendo os fatos, e adotando uma atitude de sentido prático os deputados votam a incorporação

O autor uruguaio ainda evidencia que era necessário uma força para recolocar o país em ordem, já que ele estava mergulhado em uma crise, e que Buenos Aires nesse momento estava a debater-se anarquicamente entre ‘federales’ e ‘unitarios’, logo, era incapaz de oferecer essas garantias que a Banda Oriental necessitava.

Sobre a situação dessa nova parte do Império Português, Padoin (2001, p.58) observa que “A guerra afetara tanto a riqueza monetária das cidades, dificultando o comércio, quanto a zona rural com a escassez do gado vacum e cavalar.”

Com esta atitude do Congresso em relação à incorporação, segundo Felde (1919), é a chance de converter a Banda Oriental em uma parte integrante do Império, e assim, ela passava a ter a chance de desfrutar dos benefícios que o Império podia dar, gozando dos mesmos direitos que as outras províncias gozavam. Os habitantes orientais deixariam de ser rebeldes, para serem cidadãos do Império, podendo, inclusive, exercer funções no governo.

 

Bandeira da República Oriental do Uruguai.

Bandeira da República Oriental do Uruguai.

Felde (1919) ainda evidência que essa dominação lusa não teve nenhuma influência aportuguesadora no Uruguai, já que para tal é necessário escolas, professores, industria, artes, enfim, benefícios materiais e intelectuais, no entanto, a ocupação portuguesa fora estritamente militar.

Em 1822, com a Independência do Brasil, a antiga Banda Oriental é anexada ao novo país com o nome de Província Cisplatina, no entanto, tal comunhão não é duradoura: em 1828, tal província torna-se um país independente, a República Oriental do Uruguai.

5. Conclusão

Assim sendo, a região do atual Uruguai, por diversos momentos da história, foi parte do Império Português, e mais tarde, com a Independência do Brasil, uma província brasileira, sendo a única que conseguiu tornar-se um estado independente, pois outros intentos separatistas no Brasil malograram, como, por exemplo, o de Pernambuco, em 1817, ou, ainda, os que ocorreram durante as rebeliões regenciais.

Sobre a região do Prata, pode-se dizer que, segundo Padoin (2001, p.60), foi uma área “(…) que se caracterizou pela clara luta de poder entre Estados decadentes (Espanha e Portugal), Estados em ascensão (Inglaterra e França) e entre futuros Estados nacionais (Argentina, Brasil, Uruguai) e, dentro dessa moldura, pela disputa intra e entre elites locais e regionais, bem como alianças entre as mesmas.”

Vale ainda observar que, para a mesma autora, o Prata foi uma região de comunicação, seja através de idéias, riquezas materiais, e pessoas, fatos que contribuíram para, aí, formar uma sociedade semelhante, seja na parte brasileira, argentina ou uruguaia. Aí formou-se, até fins do século XIX, uma sociedade centrada na propriedade da terra e do gado, além das relações caudilhescas.

Também é valido ressaltar que, com o pequeno contato com a historiografia uruguaia, portuguesa e argentina, vários personagens, como, por exemplo, D. João, Dona Carlota Joaquina, e Artigas, são abordados de maneira diferente da brasileira. Pode-se notar que, Artigas, por exemplo, é realmente tratado como um herói nacional pela historiografia uruguaia, colocando-o sempre como o homem que visava obter a independência de sua terra face a Espanha, Argentina, Portugal e Brasil, e que, para essa mesma historiografia, a anexação luso-brasileira é sempre rechaçada, ou, no mínimo, vista com certa antipatia.

Para chegar a reflexões mais profundas sobre as intenções luso-brasileiras no Prata durante as primeiras décadas do século XIX é mister um estudo mais profundo do assunto, através do confronto sobre tal questão entre a historiografia uruguaia, argentina, brasileira e portuguesa, além de um estudo feito com uma série de documentos da época. Assim como para as pretensões de Carlota Joaquina de criar um reino para si na região do Prata, é igualmente necessário o conflito entre autores luso-brasileiros e espanhóis, portenhos e uruguaios.

6. Notas

1 – Disponível em: http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc002.htm.

2 – Tal atitude da Santa Sé beneficia Portugal, sendo que na história portuguesa essa não é a primeira vez que a Igreja Católica toma atitudes a favor desse país. Basta lembrar à época da formação de Portugal, ainda na Idade Média, os conflitos entre os arcebispos de Braga (Portugal) e Toledo (Espanha), e que a restauração da metrópole de Braga estava ligada à independência portuguesa. Maiores detalhes ver FERREIRA, Fábio. O Condado Portucalense e as relações de poder no Portugal de D. Henrique: Séculos XI/XII. Revista Tema Livre, ed.01. Disponível em: http://www.revistatemalivre.com

3 – Disponível em: http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc002.htm.

4 – MULLER, Elisa e LIMA, Fernando Carlos Cerqueira. Moeda e Crédito no Brasil: breves reflexões sobre o primeiro Banco do Brasil (1808-1829). Revista Tema Livre, ed. 01. Disponível em: http://www.revistatemalivre.com

5 – CARVALHO, Carlos Delgado de. História Diplomática do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1998, p. 53.

6 – Disponível em: http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc002.htm.

7 – op. cit.

8 – A França invade Portugal por esse país não ter fechado os seus portos aos navios ingleses. Assim, Napoleão faz um tratado com a Espanha no dia 27 de outubro de 1807, em Fontainebleau, que dividia Portugal em três estados. Para por em pratica tal tratado, Napoleão manda tropas lideradas por Junot para invadir o reino, tendo os franceses chegado a Lisboa no dia 30 de Novembro, sendo que a família real tinha embarcado para o Brasil no dia anterior. Disponível em: http://www.arqnet.pt/dicionario/joao6.html.

9 – LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 65.

10 – O príncipe nasceu em 13 de maio de 1767, em Lisboa, e, em 1788, devido ao falecimento do seu irmão, D. José, é declarado herdeiro do trono. D. João, devido à doença de sua mãe, D. Maria, dirigia o reino desde 1º de fevereiro de 1792. Assume a regência oficialmente no dia 14 de julho de 1799, quando foram perdidas as esperanças de D. Maria restabelecer-se de sua doença. Sua mãe vem a falecer em 1816, mais precisamente no dia 16 de março, e assim, o príncipe D. João é aclamado e coroado no dia 6 de fevereiro 1818, tornando-se rei do Reino Unido, e ganha o título de D. João VI. Após passar alguns anos no Brasil devido a invasão de Napoleão a Portugal, volta ao seu país de origem, adentrando o Tejo no dia 3 de julho de 1821, e jura a Constituição no dia 1º de outubro de 1822. Sua esposa, aliada com o seu filho D. Miguel, realizam inúmeras tentativas de usurpar-lhe o trono, o que culmina com o exílio do filho – conselho dos embaixadores inglês e francês – e, em uma nova revolta, a prisão da esposa. Pelo decreto de 6 de Março de 1826, D. João VI nomeia uma Junta de Regência, presidida pela sua filha D. Isabel Maria. D. João VI, O Clemente, 27º rei de Portugal, falece em Lisboa, a 10 de Março de 1826. Disponível em: http://www.arqnet.pt/dicionario/joao6.html.

11 – Disponível em: http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc003.htm.

12 – Filha primogênita do rei espanhol Carlos IV, nasceu em Aranjuez no dia 25 de abril de 1775, tendo se casado com o príncipe D. João em 8 de maio de 1785. É comum encontrar muitos autores definindo-a como alguém de temperamento forte, ambiciosa e violenta, além de atribuir a princesa planos para usurpar o governo do seu marido, já em 1805. A partir daí, Dom João e Dona Carlota passam a viver separadamente, ele em Mafra, ela em Queluz, sendo que tal distanciamento também ocorreu no Rio de Janeiro, com o príncipe vivendo em São Cristóvão, e a princesa em outras localidades, como Botafogo, por exemplo. Retornando a Portugal, em 1821, Carlota coloca-se a favor do absolutismo, e aliada com o seu filho, D. Miguel, inúmeras vezes tenta tirar D. João VI do poder. No dia 30 de Abril de 1824, D. Miguel obriga seu pai a abdicar, no que ficou conhecido como a Abrilada, entretanto, D. João VI acaba por mandar o filho dele com Carlota para o exílio. Mesmo sem o filho em Portugal, a princesa continua envolvida em conspirações contra o marido, o que tem como conseqüência, nesse mesmo ano de 1824, a prisão de Carlota Joaquina em Queluz, falecendo lá no dia 07 de janeiro de 1830. Disponíveis em: http://www.arqnet.pt/dicionario/carlotajoaquina.html e http://www.arqnet.pt/dicionario/joao6.html.

13 – Disponível em: http://www.argentina-rree.com/2/2-012.htm.

14 – Documento Nº 70, carta de Saturnino Rodríguez Peña, Río de Janeiro, 4 de octubre de 1808. Disponível em: http://www.argentina-rree.com/2/2-012.htm.

15 – Disponível em: http://www.argentina-rree.com/2/2-012.htm.

16 – O almirante inglês era um intimo amigo de Carlota e auxiliou a transladação da família real para o Brasil. Devido a este serviço, ganhou do príncipe regente pelo uma chácara perto da Armação, atual Ponta da Areia, em Niterói. (LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p.705).

17 – O Vice-Reinado do Prata foi constituído em 1º de Agosto de 1776. Uma das razões que levaram a Espanha a criar o Vice-Reinado foi defender esse território dos ataques luso. Traduzido do Espanhol e disponível em: http://comunidad.ciudad.com.ar/ciudadanos/candido/virreinato.htm.

18 – José Gervasio Artigas, nascido em Montevidéu em 1764, é considerado pelos uruguaios como um herói nacional, tendo – postumamente – estampado notas de pesos desse país, e também, tendo o seu nome sido dado a uma cidade e a uma província no noroeste do Uruguai, localizada entre o Brasil e a Argentina. Despertou admiradores e seguidores, como também detratores. Defendeu a autonomia do seu país contra os espanhóis, contra os interesses centralistas dos portenhos – sendo que em ambos os casos obtivera vitória – e também, defendeu-o contra a investida lusa, nesse caso, não tendo sucesso. Disponíveis em: http://www.clarin.com/diario/especiales/9julio/htm/biogra/artigas.htm e http://www.contenidos.com/historia/historia-latina/artigas/artigas.htm.

19 – PADOIN, Maria Medianeira. Federalismo Gaúcho: fronteira platina, direito e revolução. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001, p.53.

20 – Disponível em http://www.ufpel.tche.br/fae/siteshospedados/A17TAMBARA.htm.

21 – LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p.374.

22 – Disponível em http://www.ufpel.tche.br/fae/siteshospedados/A17TAMBARA.htm.

7. Bibliografia e Sítios Consultados

ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de História Colonial (1500-1800). Brasília: Senado Federal, 1998.

ACEVEDO, Eduardo. Anales Históricos Del Uruguay. Montevideo: Casa A. Barreiro y Ramos, 1933.

ALMANAQUE Abril. São Paulo: Abril, 1995.

ATLAS Geográfico. Rio de Janeiro: MEC, 1990.

CARNEIRO, David. História da Guerra Cisplatina. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1946.

CARVALHO, Carlos Delgado de. História Diplomática do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1998.

DICIONÁRIO Histórico, corográfico, heráldico, biográfico, bibliográfico, numismático e artístico. v. III. Portugal: João Romano Torres, 1904-1915. Disponível em: http://www.arqnet.pt/dicionario.html

FELDE, Alberto Zum. Proceso Histórico Del Uruguay. Montevideo: Maximino Garcia, 1919.

FERREIRA, Fábio. O Condado Portucalense e as relações de poder no Portugal de D. Henrique: Séculos XI/XII. Revista Tema Livre, ed.01. Disponível em: http://www.revistatemalivre.com

JORGE, A. G. de Araújo. Rio Branco e as fronteiras do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1999.

LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.

MULLER, Elisa.e LIMA, Fernando Carlos Cerqueira. A Circulação Monetária no Rio de Janeiro nos Tempos Coloniais. In: 4ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, ABPHE, 1999, Curitiba. Anais.

____________ Moeda e Crédito no Brasil: breves reflexões sobre o primeiro Banco do Brasil (1808-1829). Revista Tema Livre, ed. 01. Disponível em: http://www.revistatemalivre.com

NOVO Atlas Universal. São Paulo: DCL, [s/d]

PADOIN, Maria Medianeira. Federalismo Gaúcho: fronteira platina, direito e revolução. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001 PESAVENTO, Sandra Jatahy. A revolução farroupilha. Disponível em: http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=1

http://comunidad.ciudad.com.ar/ciudadanos/candido/virreinato.htm

http://www.archivo.gov.ar

http://www.argentina-rree.com/2/2-012.htm

http://www.clarin.com/diario/especiales/9julio/htm/biogra/artigas.htm

http://www.clarin.com/diario/especiales/9julio/htm/9julio/monrqu.htm

http://www.contenidos.com/historia/historia-latina/artigas/artigas.htm

http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc002.htm

http://www.mre.gov.br/acs/diplomacia/portg/h_diplom/lc003.htm

http://www.regioncomechingones.com.ar/apuntes/regenta.htm

http://www.ufpel.tche.br/fae/siteshospedados/A17TAMBARA.htm

Fotografia – Crepúsculo Niteroiense: parte I

Crespúsculo Niteroiense – parte I
Niterói au Soleil Couchant – part I
Niterói´s Sunset – part I

 

Estrada Fróes - Icaraí, Niterói. Ao fundo, a cidade do Rio de Janeiro.

Estrada Fróes – Icaraí, Niterói. Ao fundo, Rio de Janeiro./"Estrada Fróes" – Icaraí, Niterói. Au fond, la ville Rio de Janeiro./Froes' Road – Icaraí, Niterói. In the back, Rio de Janeiro city.

 

 

Ilha da Boa Viagem, no bairro da Boa Viagem, na cidade de Niterói.  Île de Bon Voyage - Bon Voyage, Niterói.

Ilha da Boa Viagem, no bairro da Boa Viagem, na cidade de Niterói./Íle de Bon Voyage, Niterói./"Boa Viagem" Island – Niterói.

 

 

 

Mirante do Parque da Cidade/Parc-Belvédère de la Ville de Niterói/Niterói's Park.

Mirante do Parque da Cidade/Parc-Belvédère de la Ville de Niterói/Niterói's Park.

 

 

Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Simbolo da cidade, o MAC, projetado por Oscar Niemayer, é considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno.  Musée d´Arts Contemporain de Niterói (MAC), symbole de la ville. Projeté par Oscar Niemayer, le MAC est devenu l´une des sept merveilles contemporaines.  Art Contemporary Museum of Niterói (MAC). City´s symbol, MAC, was projected by Oscar Niemayer, it´s considered one of the seven modern world londer´s.

Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC): projetado por Oscar Niemayer, o símbolo da cidade é considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno./Musée d´Arts Contemporain de Niterói, symbole de la ville et projeté par Oscar Niemayer, le musée est devenu l´une des sept merveilles contemporaines./Art Contemporary Museum of Niterói:.the city's symbol was projected by Oscar Niemayer and it's considered one of the seven modern world londer's.

 

 

Praia de Icaraí - Icaraí, Niterói.  Plage de Icaraí au soleil couchant - Icaraí, Niterói.  Icaraí Beach - Icaraí, Niterói.

Praia de Icaraí – Icaraí, Niterói./Plage de Icaraí au soleil couchant – Icaraí, Niterói./Icaraí Beach – Icaraí, Niterói.

 

 

A seção fotos foi inaugurada na edição 03 da Revista Tema Livre com a presente exposição.

 

 

GALERIAS DE OUTRAS EDIÇÕES

Lisboa – 1ª parte (edição 12

TN_torrebelemsilhueta12

 

 

Concelho de Feira (edição 11)

TN_casteloextgeral11

 

 

Porto (edição 10)

TN_ponteporto0210

 

 

Barcelos (edição 09)

TN_barcelos0909

 

 

Mar português (edição 08)

TN_caboroca0108

 

 

Conimbriga, vestígios de Roma (edição 07)

TN_conimbriga0207

 

 

Aveiro, a Veneza portuguesa (edição 06)

TN_aveiro406

 

 

Palácio de Queluz (edição 05)

TN_embqueluz05

nauguração da exposição "Imagens de Portugal"

 

 

Veja, também, belíssimas fotos do Brasil:


Crepúsculo Niteroiense: 2ª parte

TN_mac03

 

 

Voltar à Edição