Não Olhe para Cima

Direção/Roteiro: Adam McKay

Elenco: Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Mark Rylance, Cate Blanchett, Meryl Streep.

Produção: EUA, 2021.

Um dos filmes mais assistidos de toda a história da Netflix, “Não Olhe para Cima” estreou nos últimos dias de 2021 e traz ao público uma tragédia: pesquisadores de uma universidade (vividos por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) descobrem o cometa Dibiasky, que, em poucas semanas, se chocará com a Terra e destruirá a vida no planeta.
Inseridos em uma sociedade frívola, hipnotizada pelo ritmo frenético dos algoritmos da web, das mídias (sociais e tradicionais) e que se interessa pelo mundo das celebridades e da política transformada em circo tragicômico, a destruição da Terra se torna, também, um show e oportunidade para vários personagens e grupos sociais levarem o seu quinhão.
Em Hollywood, há quem lance filme sobre o cometa. Também há quem explore a situação em livro e a preocupação se haverá o Super Bowl. A presidente dos EUA (Meryl Streep), sempre auxiliada por seu filho (Jonah Hill) nas questões políticas e no uso exaustivo das redes sociais, pensa nos benefícios políticos que pode lograr com o Dibiasky. O dono de uma gigante da tecnologia (Mark Rylance), que pela sua fortuna leva os interesses de sua organização para dentro da Casa Branca, se opõe ao projeto da Nasa para o cometa, a ponto de Washington submeter-se ao empresário que quer extrair metais do corpo celeste. Para seduzir a população para o projeto, o CEO argumenta que a riqueza do Dibiasky acabará com a pobreza na Terra. Até mesmo o acadêmico interpretado por Di Caprio cede ao poder da fama. Em determinado trecho do filme, de um acadêmico que pelos cacoetes do ofício tem dificuldade de se comunicar com o grande público, vira estrela midiática, estampando jornais e fazendo peregrinação por vários programas de TV, beneficiando-se, portanto, desse universo.
Além disso, há aqueles que acusam os pesquisadores de marxistas e os que buscam soluções estapafúrdias, como a compra de pás para cavarem buracos para se protegerem do cometa. O que a ciência detectou é, para alguns, um complô, ou seja, o que os pesquisadores levaram à sociedade não passaria de uma grande mentira. Paralelamente, a cada dia o cometa aproxima-se e o risco de extinção da vida na Terra está para chegar.
Porém, o que o filme mostra é que o que vale para uma sociedade anestesiada, embevecida por um mundo superficial e manipulada por oportunistas são os benefícios obtidos via uma tragédia anunciada, que foi politizada e explorada economicamente, mesmo que custe 7 bilhões de almas. Em um contexto de cloroquina, da junção da política com redes sociais, políticos e celebridades toscas, fake news, aquecimento global, dentre outros elementos que caracterizam a atualidade, o filme é uma sátira interessante da sociedade atual.

Spoiler
Não deixe de assistir aos créditos finais, pois em dois trechos surgem cenas importantes. Uma é a dos ricaços, que fugiram, em uma nave, em busca de outro planeta, já que a Terra foi destruída pelo cometa. A outra, é a do único sobrevivente da tragédia, o filho da presidente, que, esquecido pela mãe no nosso planeta, quer pelo seu celular mostrar a nova realidade através das redes sociais.

 

 

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História Contemporânea

Entende-se como o período contemporâneo o posterior a 1789 (Revolução Francesa). Desde acontecimentos históricos recentes, como o 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, até os desdobramentos, na França, da mencionada revolução, com o estabelecimento da República e as execuções de Luís XVI e Maria Antonieta, em 1793, fazem parte do período em questão.
Um importante ponto a destacar-se é a ascensão do militar Napoleão Bonaparte, ainda na década de 1790, que resultou na sua transformação em Imperador dos Franceses. Posteriormente, Bonaparte inicia uma política de expansão territorial, com ações em pontos distintos, como Egito, Rússia e Portugal (inclusive, por esse fator, a família real portuguesa emigrou para o Brasil).
Após a queda de Napoleão Bonaparte, em 1815, no Congresso de Viena, busca-se discutir o futuro europeu, a englobar questões como acordos de paz, delimitação de fronteiras, que foram embaralhadas pelas conquistas de Napoleão, e quem assumiria o comando de países que apoiaram o antigo Imperador. Participaram do Congresso Inglaterra, Rússia, Prússia, Áustria, Suécia, Espanha e Portugal, mas, os grandes condutores das reuniões foram os quatro reinos citados. Apesar de Napoleão, a França atuou em Viena, pois voltou a reinar em Paris a casa de Bourbon – deposta pela Revolução francesa.
Também dentro da variedade de discussões do Congresso, havia a abolição do tráfico de escravos, campanha encabeçada pela Inglaterra. Porém, o fim do desumano comércio não interessava a diversos reinos europeus, como, por exemplo, os ibéricos. Se adotada, a extinção total do tráfico afetaria áreas como o Brasil e Angola, localidades que suas respectivas economias estavam intimamente vinculadas à infame mercantilização de pessoas. Após entendimentos políticos, houve a proibição do tráfico acima da linha do Equador, porém, os grandes portos do Brasil podiam continuar a receber cativos e grande parte da África lusa a exportá-los.
Outro importante fato histórico que abalou a Europa do primeiro quarto do século XIX e refletiu significativamente no Brasil foram os movimentos liberais, que eclodiram em áreas como a Grécia, a Espanha, a Península Itálica e Portugal, com a designada Revolução Liberal do Porto. Em linhas gerais, os revoltosos reivindicavam um parlamento e a elaboração de uma Constituição.
No âmbito econômico, não se pode deixar de mencionar a projeção, em escala global, da Inglaterra.

 

GETÚLIO

Cartaz do filme Getúlio.
Cartaz do filme Getúlio.
Direção: João Jardim/Roteiro: George Moura

Elenco:  Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges, Thiago Justino, Alexandre Nero, Jackson Antunes, Clarice Abujamra, Fernando Eiras e Daniel Dantas.

Coprodução: Globo Filmes, Copacabana Filmes, Fogo Azul Filmes, Midas Filmes.

O filme de João Jardim aborda os últimos dias de vida do presidente Getúlio Vargas (Tony Ramos), com o profundo entrelace entre a vida pessoal do personagem, o seu governo democrático e a História do Brasil. 
A película inicia-se com o famoso atentado a Carlos Lacerda (Alexandre Borges) na rua Tonelero, em Copacabana, que resulta no assassinato de militar da Aeronáutica. Nas próximas horas do filme, o espectador assiste à investigação criminal e, em especial, as consequências na política nacional e para Vargas do crime em questão. Pouco a pouco, vai-se, nesse thriller político e psicológico, desvendando-se um Vargas fragilizado não só politicamente, mas, também, emocionalmente, cansado das intrigas típicas dos jogos de poder. Vai-se, assim, descortinando um personagem que os âmbitos político e pessoal estiveram, por décadas, intrinsecamente ligados. Em seu crepúsculo, seja como homem público, seja como indivíduo, um inocente Vargas descobre paulatinamente o quão perto de si estava o “mar de lama”, expressão utilizada por seus opositores, que a política brasileira e o Catete estavam mergulhados. O filme termina com o já conhecido desfecho trágico da situação, para, em seguida, brindar o público com várias imagens da época.
Brilhantemente, Tony Ramos e Drica Morais interpretam, respectivamente, o personagem título e a sua filha. Mesmo não guardando semelhanças físicas com o presidente em questão, vê-se, em Tony Ramos, Getúlio Vargas. Drica passa ao público o drama de Alzira, filha que vê o declínio político e pessoal de seu pai. Alexandre Borges faz o ferrenho opositor do líder máximo da nação. Jackson Antunes dá vida ao vice, Café Filho, desejoso de poder, mesmo que para isso venha a trair Vargas. Enigmático, Thiago Justino interpreta Gregório Fortunato.
Importante pontuar que as lentes de Jardim captam com maestria a beleza ímpar do Palácio do Catete. Valendo-se do cenário em que os fatos históricos se desenrolaram, o diretor realiza vários takes, que apontam a dramaticidade do momento da História do Brasil e dos Vargas.
Assim, Vargas é uma produção brasileira que traz ao público parte da história republicana em um interessante filme, valorizado, também, pela beleza estética da película, pelos ótimos atores que interpretam com maestria personagens históricos e com roteiro que prende o espectador do início ao fim. Vale muito assistir! 

 

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Tony Ramos como Vargas.
Tony Ramos como Vargas.

 

 

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O Quinze

Direção/Roteiro: Jurandir de Oliveira
Elenco:  Juan Alba, Karina Barum, Jurandir de Oliveira, Soia Lira e Maria Fernanda
Produção: Brasil, 2004 (1h40min)

o-quinzeO filme é adaptação do romance homônimo de Rachel de Queiroz, que tem como base a seca de 1915, que assolou o sertão cearense. A película é uma oportunidade do espectador entrar em contato com a literatura brasileira, com uma parte da História do Brasil e com a cultura do Nordeste do país – sendo a trama, inclusive, a história dos antepassados de muitos que, hoje, estão em capitais como Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.
A obra cinematográfica mostra momento da história do Ceará repleto de adversidades, quando a seca expulsa uma série de habitantes da região de Quixadá, desestruturando a economia e diversas famílias. Para sobreviver à seca e ter capital para migrar, o vaqueiro Chico Bento desfaz-se de seus bens e sonha com uma vida melhor para os seus, cogitando ir para a Amazônia e viver da borracha. Porém, o personagem está longe de lograr o seu plano de uma vida melhor.
Impossibilitado de abandonar Quixadá pelos caminhos de ferro, Chico, a esposa, Cordulina, a filha adotiva Mocinha e seus quatro meninos partem por terra, enfrentando duro percalço no trajeto, que inclui a fome, o consumo de pouca água, que, a seu turno, é de péssima qualidade, e a dilapidação dos poucos bens que possuem – basicamente uma mula e quantidade ínfima de dinheiro – para sobreviverem nas vias que cortam o sertão do Brasil. No entanto, a mais dura adversidade que Chico enfrenta é ver sua família ser dilacerada. Em função da fome, Josias come mandioca brava, vindo a falecer. Mocinha se separa dos familiares diante de oportunidade de trabalho. Pedro desaparece, acreditando-se que partiu com tropeiros, mas, na verdade, a família que se desfaz pelo interior do Ceará não sabe o que realmente aconteceu com o menino. Manuel (Duquinha) é, em Fortaleza, dado à sua madrinha Conceição.
Por outro lado, o drama de Chico Bento vai além de assistir ao esfacelamento da sua família. Em uma sociedade patriarcal, inserida em um mundo onde a maioria esmagadora busca apenas sobreviver e o pragmatismo das ações é importante estratégia para não morrer, pesa nos ombros de Chico a responsabilidade pelo bem estar da família, prover o sustento dos seus, bem como recai-lhe a tentativa de salvar o filho que, envenenado, agoniza frente aos seus olhos. Também, segundo a película, é sobre Chico que incide a palavra final sobre dar ou não o seu filho Duquinha para Conceição.
Após passar por campo de concentração em Fortaleza para os flagelados, com a ajuda de Conceição, Chico consegue ir para São Paulo. Entretanto, a esta altura, sobra-lhe apenas a mulher e um filho. Partem. Deixam sua terra de origem. Em seguida, vem o fim da seca, oportunidade de recomeço para os que ficam e sobreviveram à seca.

História Moderna

Designa-se por Idade Moderna o período que abarca os séculos XV e XVIII, e que assistiu a acontecimentos como o Renascimento, a concentração do poder político nas mãos dos monarcas, a chegada dos europeus às Américas, o questionamento do poder da Igreja Católica, a Reforma Protestante, dentre outros fatos.
A análise da modernidade permite afirmar que o período possuí fatores de continuidade da Idade Média, bem como de rupturas. Conforme pontuado no item referente ao Medievo, foi justamente nos tempos medievais que a sociedade europeia desenvolveu condições de transformações para que se gerasse a Modernidade. Considerado um dos primeiros humanistas, o poeta florentino Petrarca viveu na Florença medieval.
Sobre o termo moderno, de tempos em tempos ele surge no vocabulário ocidental para definir algum período ou momento histórico. O primeiro registro que se tem conhecimento da palavra está em latim, modernus, que, a seu turno, vem de documento eclesiástico do século V d.C., sendo que o seu emprego foi em oposição a determinada situação pretérita, que já havia ocorrido. 
Importante acontecimento dessa fase da História, o Humanismo, observa-se que o seu surgimento não deixa de estar vinculado ao desenvolvimento intelectual do final do medievo, principalmente às universidades criadas na Idade Média. Os humanistas começaram a estudar as línguas locais em detrimento do latim, assim como autores que, por séculos, foram pouco estudados, como Platão, dedicaram-se, também, à retórica, e os seus estudos refletiram na filosofia de então, nas ciências, nas artes, na arquitetura, dentre outros campos da sociedade europeia.
Quando trabalha-se com o Renascimento, comumente são apontadas como as suas características os fatores a seguir (porém, isso não significa que em outras épocas não existissem, muitas das vezes, em menor intensidade, os aspectos que serão apontados): antropocentrismo (o homem como centro, condutor do seu próprio destino e que enaltece o seu próprio destino), racionalismo (valorização do racional como atributo do ser humano, a busca de explicações lógicas a influir no campo científico), naturalismo (estudos sobre a natureza, inclusive a humana e a sua anatomia), o individualismo (várias pessoas buscavam demonstrar suas habilidades, obter o reconhecimento de terceiros, a influir, inclusive, nas artes, com a propagação de retratos), resgate da Antiguidade (busca de que a sociedade moderna fosse continuidade da antiga, bem como esse último período fosse a base para o desenvolvimento da modernidade).
Semelhantemente, quando o tópico de estudo é o Renascimento, aborda-se a Itália, pois foi na região norte dessa que o florescimento daquele foi mais intenso. Atribui-se a isto o alto grau de desenvolvimento do comércio da área, que permitia o intercâmbio com regiões que mantinham algum grau de conhecimento das culturas clássicas. Pode-se pensar, também, na figura do mecenas, em que a prosperidade econômica faz-se necessária para a sua atuação. Agrega-se que quando os turcos conquistam Constantinopla, vários estudiosos das sociedades clássicas fugiram para a região da península itálica, levando, consigo, conhecimento e fontes históricas referentes à cultura greco-romana.
Quando lança-se os olhos para o Renascimento, é comum trazer os nomes como o de Leonardo da Vinci (1452 – 1519), Michelângelo (1475 – 1564) e Maquiavel (1469 – 1527) associados às artes e à literatura, e os de Copérnico (1473 – 1543), Kepler (1571 – 1630) e Galileu (1564 – 1642) à astronomia. Porém, isto não significa que os homens do Renascimento estiveram restritos a um único campo. Da Vinci, por exemplo, com os seus estudos sobre a anatomia humana contribuiu para o conhecimento na área da medicina. Por mais que Maquiavel tenha contribuído, por questões estilísticas, à literatura, o conteúdo de “O Príncipe” foi importante para o pensamento político, gerando o termo maquiavélico, utilizado até o tempo presente.
Em razão do comércio, outras partes da Europa tiveram importante florescimento econômico, que, a seu turno, repercutiu em campos como o das artes e o intelectual. A região dos Países Baixos e Flandres é um exemplo. Ricos comerciantes patrocinaram artistas como Peter Bruegel (1525 – 1569) e Hieronymus Bosch (1450 – 1516).
A Península Ibérica viu florescer, na literatura e no teatro, obras como as de Cervantes (1547 – 1616) e as dos portugueses Gil Vicente (c.1465 – c.1536) e Camões (c.1524 – c.1579/80). Na pintura, o maior expoente foi El Greco (1541 – 1614). Contemporaneamente, na Inglaterra, há as obras literárias de William Shakespeare (1564 – 1616) e de Thomas More (1478 – 1535), que buscava reordenar a sociedade europeia de forma mais justa e cristã. Por fim, e ainda, sem desprender-se do universo religioso, houve o primeiro livro a ser impresso em toda a história por Johannes Gutenberg (c. 1398 – 1468), em Mainz (hoje, Alemanha), em 1456: a Bíblia.
Ainda no tocante à esfera religiosa da sociedade europeia de então, o principal movimento de questionamento ao Catolicismo foi o liderado por Martinho Lutero (1483 – 1546), fruto de divergências políticas e, também, teológicas – por exemplo, dentre várias contestações, criticava-se a venda de indulgências para a absolvição de pecados, ao passo que, biblicamente, o perdão do pecador encontra-se em Deus, através do sacrifício de Jesus, o Cristo, na Cruz. 
Sobre Lutero, no ano de 1517, o religioso católico afixou suas “95 teses”, com vários questionamentos a Roma, na porta da catedral de Wittbemberg. Como resposta, o papa Leão X declarou, em 1520, o posicionamento de Lutero como herético e que esse deveria retratar-se ou seria excomungado. O autor das 95 teses não seguiu a determinação papal, rompendo definitivamente com o Vaticano. Pelo elo de Carlos de Habsburgo (rei do Sacro Império Romano-Germânico e da Espanha) com o Santo Padre, Lutero exilou-se no castelo de Frederico da Saxônia, dedicando-se à tradução da Bíblia para o alemão.
A partir da ação de Lutero, pôs-se termo à unidade eclesiástica europeia ocidental e assim várias denominações surgiram. Como exemplo, há a do francês João Calvino (1509 – 1564), que converteu-se ao protestantismo e, perseguido por suas ideias, refugiou-se na Suíça. Os calvinistas foram designados, na França, como huguenotes (tendo atuado, inclusive, no Brasil, mais especificamente na região da Guanabara à época da invasão francesa da região). Na Escócia, liderados por John Knox (1505 – 1572), foram chamados de presbiterianos. Na Inglaterra, de puritanos. 
Pela repercussão do protestantismo, a Igreja Católica realizou a Contra-Reforma, em que a instituição realizou uma série de ajustes internos. Outra repercussão da reforma, que tirou o movimento do âmbito religioso e o levou para o político, foi a ação dos monarcas e nobres europeus de acordo com os seus interesses pessoais e dos seus respectivos grupos de apoio político. Muitos anelavam obter o espólio católico em seus domínios, como foi o caso de nobres alemães e do rei inglês Henrique VIII, que romperam com Roma. Outros, posicionaram-se como defensores da legitima fé católica, caso do rei de Espanha.

 

O Antigo Regime e o Absolutismo

A partir da Revolução Francesa (1789), o período anterior passou a ser designado como Antigo Regime. Em linhas gerais, uma das características do período é o absolutismo, quando reis governavam sem constituições e sem a divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário. Teoricamente, todo o poder estava concentrado nas mãos dos monarcas.
No entanto, pesquisas históricas recentes questionam o quanto que de fato o poder destes indivíduos era absoluto, pois as sociedades em que eles estavam inseridos era composta por vários atores sociais que também detinham força política, bem como disputavam ampliar o seu poder no campo social que atuavam. Como grupos políticos, que, a seu turno, nem sempre eram um bloco monolítico, compunham estas sociedades religiosos, nobres, grandes comerciantes, camponeses, trabalhadores urbanos, dentre outros.
Sociedade estamental é outro termo constantemente associado ao Antigo Regime, entendendo-se, portanto, que praticamente não havia mobilidade social no referido período. Mercantilismo é outra palavra atrelada a esta época, sendo entendida como uma gama de práticas econômicas comandadas pelo Estado. Sobre esse último, atribui-se que a sua forma moderna surgiu aí, entendendo-se, portanto, que a função de legislar, julgar, coletar impostos, administrar pessoas e instituições recaía no Estado.

 

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Antiguidade Clássica

 

Grécia
A civilização grega surgiu ao sul da península balcânica, no Mediterrâneo. Em função do seu solo pobre, uma saída encontrada pelos gregos foi o comércio marítimo e a expansão para outros territórios, a estender-se, então, por diversas ilhas da região e por pontos litorâneos da Ásia Menor (atual Turquia). Semelhantemente a outras civilizações da antiguidade, o que comumente se chama de Grécia Antiga era composta, grosso modo, por várias cidades-estados, denominadas pólis (singular)/póleis (plural), que começaram a surgir em c.2000 a.C. Cada pólis tinha a sua própria autonomia política, econômica e administrativa. Em comum, tinham a religião, o idioma e a organização familiar e econômica.
Da Grécia Antiga, a sociedade ocidental herdou, no âmbito cultural, a filosofia, que buscava entender o mundo de forma racional, e teve em Sócrates, Platão e Aristóteles os seus principais filósofos. Além disso, destaca-se o teatro, que tinha a função educativa e repercutia fortemente entre a população. À época, os atores eram todos homens e interpretavam com máscaras. Os gêneros teatrais eram a comédia e a tragédia, sendo que várias peças chegaram à atualidade, como Édipo Rei e Antígona, de Sófocles, e Prometeu Acorrentado, de Ésquilo. 

 

A divisão usual da História da Grécia é a que segue-se:

 

 

Período Homérico (Séculos XII a.C. – VIII a.C)
Dá-se tal nome pelo fato das obras de Homero (Ilíada, que narra a guerra de Troia) e a Odisseia (dedicada ao retorno do herói Ulisses para Ítaca, sua ilha de origem) terem servido como importantes fontes históricas para a reconstituição de sua História.

 

 

Arcaico (entre os séculos VIII a.C. – VI a.C.)
Sucintamente, nessa fase houve o surgimento da pólis e a fundação de colônias em partes da atual Itália e Turquia. A aristocracia agrária comandava a política grega e as cidades-estados – chegaram a mais de uma centena, sendo as mais conhecidas as rivais Esparta (na península do Peloponeso e que tinha a especificidade da agricultura ser uma das principais fontes de sua economia. Além disso, era uma sociedade extremamente militarizada) e Atenas (na península balcânica e com economia voltada, também, ao comércio marítimo).

 

 

Clássico (séculos V a.C. – IV a.C.)
A este período costuma-se vincular o apogeu da democracia na Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas. Os cidadãos gozavam de ampla liberdade e o voto era direto e universal para todos. Entretanto, é válido destacar quem os atenienses entendiam por cidadão. Esses eram os homens acima de 18 anos e filhos de pais atenienses e livres – a excluir, portanto, as mulheres e crianças, os escravos e estrangeiros, resultando que, em determinados momentos, em torno de 90% dos habitantes da pólis estavam alijados da participação política.
Concomitantemente, Atenas era o principal centro comercial e cultural grego, tendo, ainda, uma política expansionista, a interferir nos destinos das demais cidades-estados. É desse período a guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.), que foi protagonizada pelas duas principais cidades da Grécia Antiga, Atenas e Esparta. O conflito teve consequências negativas na civilização grega, como o seu enfraquecimento militar.

 

 

Helênico (séculos III a.C. – II a.C.)
Desse período destaca-se a invasão da Macedônia e o enfraquecimento de diversas cidades-estados. É dessa fase a atuação político-militar do macedônico Alexandre, o Grande, que uniu o seu povo e os gregos contra o inimigo que ambos compartilhavam, a Pérsia, liderada por Dario III. Alexandre impôs uma série de derrotas ao seu rival, conquistando a Ásia Menor (libertando, então, os gregos que ali viviam da dominação persa), o Egito (fundando, ali, Alexandria, que, rapidamente, se tornou o principal centro comercial do Mediterrâneo) e, por fim, derrotou os persas na Mesopotâmia, em 331 a.C.
Alexandre, o Grande, foi educado pelo filósofo Aristóteles e, assim, a cultura grega era-lhe familiar, tendo sido importante em sua formação intelectual e forma de interpretar as sociedades do seu tempo. Como estratégia de dominação de áreas tão distantes e distintas entre si, que iam do Mediterrâneo às raias do Himalaia e do rio Indo, o macedônico realizava a fusão das culturas grega com as locais, criando, assim, uma nova manifestação cultural, o helenismo, predominantemente grego, mas com uma gama de aspectos orientais.
Com o falecimento de Alexandre em 323 a.C., o seu Império foi dividido, e a Grécia viu-se separada do Egito, da Mesopotâmia e da Ásia Menor. O grande Império que passou a destacar-se com o fim do da Macedônia foi o Romano.

 

 

Roma Antiga
Primeiramente, a cidade de Roma foi a sede do maior império da Antiguidade. Em sua extensão máxima, o Império Romano chegou a ter, aproximadamente, 6.500.000 km2 (comparando-se a territórios da atualidade, o brasileiro tem 8.515.767,049 Km² e o da União Europeia 4.324.782 Km²). Detecta-se, então, que áreas tão distantes entre si como a Península Ibérica e a Palestina estiveram sob o controle romano. Em termos populacionais, o Império Romano chegou a ter 88.000.000 de almas (comparativamente, o Vietnã, 14º país mais populoso do mundo tem, aproximadamente, 90.549.390 habitantes. A Alemanha, 15º, 81.471.834. O Brasil, em 5º lugar, já ultrapassou a marca de 200.000.000, sendo que a região Sudeste traz números próximos ao do referido Império em seu auge populacional: 81.565.983).
Dos romanos, a sociedade ocidental contemporânea recebeu uma série de influências, como no campo do direito, no universo religioso, com o cristianismo, no âmbito linguístico (além dos idiomas neolatinos, do qual o português faz parte, línguas como o inglês e o alemão receberam influência do latim falado, escrito e propagado por Roma) e na organização política (apesar das diferentes releituras que cada sociedade fez de instituições e termos romanos ao longo do tempo, como senado, república, ditadura, plebiscito, etc).
Ainda no campo das releituras, mesmo séculos após o fim de Roma, em vários períodos históricos, são buscadas referências à referida sociedade. Movimentos intelectuais, como o Renascimento, tiveram a Roma Antiga como importante referencial. O fascismo de Mussolini utilizou-se desta civilização do passado, tratando, equivocadamente, a Itália fascista como uma espécie de sucessora do Império Romano.
Uma vez tendo exposto nos parágrafos anteriores aspectos introdutórios referentes a Roma Antiga, as próximas linhas serão dedicadas à divisão mais usual da História política Romana.

 

A ocupação da península itálica
Primeiramente, a ocupação da região data de, aproximadamente, 2.000 a.C. Os primeiros habitantes eram os italiotas (latinos, sabinos, samnitas, dentre outros) e, depois, após processo migratório, foram para a península etruscos (Norte) e gregos (Sul). Roma teria nascido como ponto estratégico para a proteção de povoações dos latinos situados na parte central da península. 

 

Monarquia (753 – 509 a.C.)
Pouco se sabe deste período, porém, é dele que surge a lenda de Rômulo e Remo, os dois irmãos que, abandonados, ainda bebês, foram amamentados por uma loba e, em sua fase adulta, protagonizaram a mítica história de fundação da cidade.
Acredita-se que Rômulo foi o seu primeiro rei. Posteriormente, vieram seis reis, uns de origem latina, outros, etruscas e, ainda, teria havido aqueles que eram sabinos. O rei de Roma tinha seu poder dividido com o legislativo, composto pelo Senado, que, a seu turno, congregava os patrícios mais destacados. Havia, também, a Assembleia Curiata, ou Cúria, que deveria ratificar ou não as decisões do Senado, sendo formada, semelhantemente, por patrícios.
Após o exposto, é válido perguntar-se, quem foram os referidos patrícios? Qual sua posição na hierarquia social da monarquia romana? Além da política, a que mais dedicavam-se nesta sociedade do passado? Resumidamente, estes indivíduos eram membros da aristocracia rural e estavam no topo da pirâmide social. Além deste grupo, a sociedade romana era composta por plebeus, que se dedicavam ao comércio, à agricultura, ao artesanato, ao pastoreio, e eram o grupamento mais numeroso de então. Os clientes viviam debaixo das redes de proteção de um patrício e, em troca, ofereciam serviços como militares e administrativos. Por fim, na base da pirâmide social, estavam os escravos, provenientes de guerras ou de plebeus endividados.
Em 509 a.C., o rei de Roma era de origem etrusca, porém, em um contexto em que a península itálica assistia à decadência do Império Etrusco. Aproveitando-se de fatores internos e externos a Roma, os senadores conseguiram depor o monarca e, através de um golpe, estabeleceram a República. O poder político já não precisava ser compartilhado com o rei e os patrícios fortaleceram-se ainda mais. 

 

República (509 – 27 a.C.)
República, do latim, res publica, ou seja, coisa pública. O Senado era a sua principal instituição, legislando e decidindo os rumos internos e externos de Roma. As Assembleias votavam projetos, tratavam de assuntos religiosos e eram responsáveis pela nomeação de representantes de cargos públicos – como os magistrados (compostos, por exemplo, por cônsules, que estavam à frente do Senado e da Assembleia, pretores, vinculados à administração da justiça e censores, conectados ao censo, à contagem da população, e definidoras de critérios que mensuravam a renda dos romanos).
Neste período, o poder dos patrícios era significativamente forte e estes tinham importante participação nas instituições políticas de Roma. As desigualdades entre o mencionado grupamento social e os plebeus resultaram em convulsões político-sociais, que resultaram em benefícios de indivíduos pertencentes à plebe na sociedade romana. Como exemplo houve a participação no Senado, a possibilidade de realização de casamentos entre patrícios e plebeus (Lei Canuleia, 445 a.C.), o fim da escravidão por dívidas (Leis Licínias, 367 a.C.), entre outros.
Ao longo dos séculos que compuseram a República, a plebe logrou direitos na sociedade romana e algumas possibilidades de ascensão social. Agrega-se que, nesta fase, Roma conquistou toda a península itálica, a Ibérica, Grécia, partes do atual Oriente Médio e ocorreram as Guerras Púnicas (em função da expansão e consequentes conflitos com os cartagineses, de origem fenícia).
Sucintamente, a referida expansão implicou em uma série de mudanças na sociedade romana. O aumento do número de escravos levou ao desemprego em diversos setores. Habitantes de várias cidades migraram em direção ao interior. O comércio entre o centro do Império e as províncias fez surgir abastados negociantes interessados em participar da definição dos rumos políticos de Roma, o que não interessava aos patrícios. Estas transformações associadas à desigualdade social, ao crescimento desordenado das cidades e à ausência de terras para os cidadãos contribuíram enormemente para o aumento da tensão social e houve o consequente enfraquecimento da República. 
Concomitantemente, em razão das diversas conquistas de Roma, os militares ganharam destaque nessa sociedade. O prestígio desse segmento social levou-o a intervir mais fortemente na política e, na década de 80 a.C., o general Sila tornou-se Ditador. Após sua saída do poder, novas convulsões políticas, até que, em 60 a.C., uma junta militar composta por Júlio César, Pompeu e Crasso, conhecida como o Primeiro Triunvirato, passou a controlar a República. No entanto, a estabilidade não foi duradoura.
Crasso faleceu em 53 a.C. e, em seguida, Júlio César e Pompeu passaram a disputar o poder, até que César proclamou-se, em 46 a.C., Ditador Vitalício, no entanto, neste contexto de instabilidade, seu governo não foi duradouro. O Senado opunha-se à concentração de poder nas mãos do ditador e, então, houve a conspiração em que Brutus e Cássio assassinaram Júlio César nas escadarias da instituição.
Pensando, com o citado plano, que retomaria o controle da República, o assassinato elaborado pelo Senado teve efeito oposto. A morte de Júlio César causou comoção em Roma, o que levou os seus partidários ao poder, através da criação do Segundo Triunvirato. Seus membros eram Marco Antônio, Otávio e Lépido. Porém, um novo governo não significou estabilidade política.
Lépido foi afastado do poder. Marco Antônio tornou-se responsabilidade pela parte Oriental de Roma. Otávio, da Ocidental. Entretanto, a divisão não impediu conflitos entre os membros do Segundo Triunvirato. Marco Antônio, aliado de Cleópatra VII, rompeu com Otávio. O resultado foi favorável a este que acabou por receber, do Senado, os títulos de príncipe e de imperador. A partir daí, Otávio intitulou-se Augusto, o divino. Iniciava-se, assim, o Império Romano.  

 

Império (27 a.C. – 476 a.C.)
Este período é subdivido em Alto Império (século I a.C. – III d.C.) e Baixo Império (século III – V d.C.). Na primeira fase, a expansão territorial romana prosseguiu e houve o desenvolvimento econômico, o comércio prosperou com a construção/aperfeiçoamento de portos e estradas e houve importante desenvolvimento intelectual, que, como exemplo, podem ser citadas as obras do poeta Virgílio, do escritor Horácio e do historiador Tito Lívio.
Durante o governo de Otávio Augusto (27 a.C. – 14 d.C.), personagem tido como o primeiro imperador de Roma, houve, na Palestina, o nascimento de Jesus Cristo, personagem entendido pelos cristãos como o messias, a segunda pessoa da Trindade, o Deus que se fez homem para, na Cruz, expurgar os pecados da humanidade, salvando, então, aqueles que, pela fé, o reconhecerem como Senhor de suas vidas, e, ainda, o Cristo que, ao terceiro dia, ressuscitou e hoje (e para sempre) reina no topo de toda “hierarquia” espiritual e terrena. Afora aspectos doutrinários, ressalta-se a importância do credo – mesmo que, muitas das vezes, modificado ao longo dos séculos – para a formação da sociedade Ocidental.
Ainda no que refere-se ao cristianismo, no Alto Império houve o governo de Nero (54 d.C. – 68 d.C.), o último imperador da dinastia julio-claudiana, que, em torno de 64 d.C., iniciou implacável perseguição aos cristão pelo fato do grupo adorar somente a um único Deus (trino, formado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo) e, assim, não aderir aos deuses romanos. Séculos depois, o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império. 
Comumente, quando trata-se desse período, ainda aborda-se a importância da mão-de-obra escrava para a economia imperial, veicula-o à política do “pão e circo” e, também, à utilização do latim como língua oficial do Império, com o objetivo de unificar terras tão distintas e distantes entre si. A centralização político-administrativa é, igualmente, tida como uma das características desta fase.
Em relação à decadência do Império Romano, esse processo não deixa de estar associado a fatores como a sua própria expansão. Para a manutenção dos custos de efetivos militares em áreas tão vastas, eram necessários vultuosos recursos financeiros. Concomitantemente, houve a redução no número de pessoas escravizadas, diminuindo a sua oferta e havendo a elevação de seu preço. O trabalho livre tornou-se mais barato e, pouco a pouco, os mais pobres foram substituindo os cativos. Muitos destes homens mais desfavorecidos encontravam-se em áreas rurais e trabalhavam em troca de proteção e sobrevivência, não podendo abandonar as terras, sendo que essa dramática situação acabou por tornar-se hereditária.
A crise atingiu a produção de alimentos, com consequente aumento dos preços e inflação, queda do consumo, o abandono, por parte de significativos contingentes demográficos, das cidades em direção ao campo e, por fim, parte dos recursos financeiros restantes foram canalizados para a parte oriental do Império, onde eram obtidas mercadorias daquela região.
Se por um lado os romanos viam-se obrigados a enfrentarem sérias adversidades econômicas, por outro havia uma crise política, com conflitos entre os setores sociais que controlavam o Império, a saber-se, os senadores e os chefes militares. A movimentação de tropas levou que fronteiras ficassem desguarnecidas, contribuindo para que os povos classificados como bárbaros pelos romanos gerassem distúrbios nas raias do Império.
Além disso, buscando atender aos interesses de diversos atores políticos e amenizar a crise, o imperador Diocleciano (284 – 305) criou a Tetrarquia, dividindo o Império entre quatros generais, minimizando substancialmente o poder do Senado. O imperador ficou responsável pela administração da parte Oriental e Maximiano da Ocidental, sendo que cada um deles tinha o auxilio de um general, designado césar. O império passou a ter, então, dois augustos e dois césares.
Esta primeira divisão não foi duradoura. O imperador Constantino pôs termo à Tetrarquia, passando a reinar sozinho, anulou, em 313, a perseguição aos cristãos, permitindo-lhes a liberdade religiosa e, ainda, levou, em 330, a capital do Império para a região mais rica, o Oriente, com a criação de Constantinopla (atual Istambul).
Paralelamente, a parte ocidental esfacelava-se e os bárbaros adentravam territórios de Roma. Buscando conter o processo de decadência romana, o imperador Teodósio transformou o cristianismo na religião oficial do Império, em 391, bem como o dividiu novamente em duas partes. A ocidental com capital em Roma e a oriental em Constantinopla. O Império do Ocidente durou até 476, quando os bárbaros conquistaram a sua capital. O do Oriente teve vida mais duradoura, até o século XV, sob o nome de Império Bizantino.

Antiguidade Oriental

Antiguidade Oriental
Como já apontado, nesse recorte estão inseridas uma série de sociedades. No entanto, pela vastidão e complexidade do tema, na presente seção serão apresentadas algumas delas, tendo como critério de seleção aquelas que são mais difundidas junto à sociedade contemporânea e, usualmente, são mais abordadas em livros, teses e dissertações.

 

Egito
Normalmente, o que é designado como Egito Antigo pode ser dividido em vários períodos, devido às características de cada uma de suas fases, dispensando, consequentemente, um entendimento monolítico de todas as fases da História desta sociedade do passado. A seguir, uma divisão da História do Egito Antigo proposta pelo egiptologista J. Martin Plumley, da Universidade de Cambridge:


Baixo Egito e Alto Egito
Unificação: 3.200 – 2.800 a.C.

Período Arcaico 
(c.3.100 – 2.700 a.C.)

Reino Antigo: Mênfins 
(c. 2.700 – 2.500 a.C.)

Reino Médio: Tebas
(c.2.134 – 1786 a.C.)

Reino Novo (c.1575 – 1087 a.C.)

Período Tardio (c.1087 – 332 a.C.)

Nova divisão
Alto e Baixo Império

Conquista pelo exército da Pérsia (525 a.C.)

Alexandre o Grande (332 a.C.)/Ptolomeu (322 a.C.)/Província Romana (30 a.C.)

A princípio, mais do que datas, nomes e decorar as capitais de cada fase da História do Egito, o importante é entender, a partir desse caso, que cada fase vai guardar particularidades, mas, também, semelhanças uma entre as outras. Além disso, que as sociedades não são monolíticas e que, com o passar do tempo, mesmo com fatores de continuidade, existem os de ruptura, que caracterizam, assim, cada época.
Resumidamente, o Egito desenvolveu-se ao longo do Nilo, que servia como meio de transporte, lingando o Alto e o Baixo Egito, grosso modo, Norte e Sul, permitindo a extensão da fronteira sul até o atual Sudão – de onde os egípcios chegaram a extrair ouro. Em virtude do rio, os egípcios desenvolveram a irrigação para incrementar a agricultura, diques para conter suas cheias e reservatórios de água. No âmbito externo, tinham contato e transações comerciais com povos que habitavam a região do atual Oriente Médio.
Agrega-se que o Egito teve mais de trinta dinastias, faraós (reis com caráter divino, que recebiam a adoração dos seus súditos e, ao mesmo tempo, eram sumo sacerdotes), sendo este indivíduo considerado o próprio Estado, que, a seu turno, era teocrático. No topo da pirâmide social estavam, além dos faraós, os sacerdotes, a aristocracia guerreira e os escribas. Em uma economia agraria e pastoril, a base era formada por artífices, camponeses e escravos.
Por fim, sobre o Egito Antigo é correto afirmar que, neste período histórico, havia significativo conhecimento da medicina (comparativamente a outros povos da época) em virtude do processo de mumificação (que envolvia aspectos religiosos) e consequente contato com o corpo humano; foram construídas as conhecidas pirâmides de Gizé (que são templos funerários e pela necessidade de fazer obra de tão alto porte em curto período, a construção impactou negativamente a economia); o emprego da matemática para a construção das pirâmides; e até mesmo indícios de atividades de proteção/amparo que alguns autores fazem analogia com atividades securitárias da atualidade, pois pedreiros contribuíram para uma espécie de fundo coletivo, a fim de ajudá-los em casos de “acidentes de trabalho”, como os que recorrentemente ocorriam nas obras das pirâmides.

 

 

Mesopotâmia

Sobre a Mesopotâmia menciona-se, primeiramente, que o termo é proveniente do grego, significando, em português, entre rios. Neste caso, refere-se à área entre o Tigre e o Eufrates – os mesmos rios que estão presentes na narrativa bíblica (Genesis 2), sendo esta a região da localização do Jardim do Éden de acordo com o livro sagrado cristão. Na atualidade, a Mesopotâmia antiga confunde-se com parte do território do Iraque.
Grosso modo, a Mesopotâmia foi ocupada por vários povos. Os mais citados são os sumérios, acádios, amoritas, assírios e caldeus, que desenvolveram, por vários séculos, atividades mercantis, culturais (como a escrita e a literatura) e político-administrativas, como as diversas teocracias espalhadas pela região.
Em torno de 2.000 a.C., a cidade da Babilônia iniciou um significativo processo de desenvolvimento e, ainda, exerceu influência nas urbes em seu entorno. Porém, foi no período do reinado do amorita Hamurábi (c.1792 – 1750 a.C.), que o poderio babilônico expandiu-se ao longo da Mesopotâmia.
Sobre o referido rei, este é conhecido pelo Código do Hamurábi, encontrado em 1901, em Susa, no atual Irã, por arqueólogos franceses, sendo, hoje, parte do acervo do museu do Louvre, em Paris. Entendido como o principal legado mesopotâmico em termos de lei, com 282 artigos, que versavam sobre aspectos relativos à medicina de então, questões familiares, como o divórcio (podendo este ser, inclusive, demandado pela mulher), econômicas (com a previsão de que participantes de um empreendimento comercial, como mercadores, se associassem para ressarcir aquele que sofresse alguma avaria em suas viagens comerciais) e políticas, contendo as obrigações do líder máximo da Babilônia para com os seus súditos.
Ainda sobre o Código, com esse o rei agia no sentido de promover a unidade jurídica dos seus domínios, bem como este conjunto de leis tinha como princípio a leio de Talião (palavra derivada do latim talionis, que significa “como tal”, “idêntico”), ou seja, “Olho por olho, dentre por dente”. Assim, a punição baseava-se na reciprocidade do crime e da pena.
Também durante o seu reinado, Hamurábi teve como princípios políticos-administrativos a organização do Estado, a burocracia centralizada e o objetivo de recompor economicamente os seus domínios. Concomitantemente, o rei esteve envolvido em vários conflitos pelo controle da Mesopotâmia, sendo que, após a morte de Hamurábi, a Babilônia entrou em decadência.
Entre os séculos IX e VIII a.C. os assírios dominaram regiões da Babilônia, bem como da Síria, Palestina e Egito. Ao mesmo tempo associado por parte da historiografia relativa à Antiguidade à extrema violência de suas ações militares, o Império Assírio teve em Nínive uma grande biblioteca, cujo acervo estava escrito em tabletes de argila – fato, inclusive, que permitiu que parte de suas obras chegasse à atualidade.
Com o óbito do rei assírio Assurbanipal (690 – 627 a.C.), o caldeu Nabopolossar (625 – 605 a.C.) liderou, juntamente com outros povos da Mesopotâmia, levante contra o domínio dos assírios. Nínive foi destruída e Nabopolossar migrou para a Babilônia e transformou a cidade na capital do segundo Império da Babilônia, também designado como Neobabilônico. Nessa época houve, no período de 605 – 562 a.C., o reinado de Nabucodonosor II (c.634 – 532 a.C.) – personagem que também consta da narrativa bíblica – sendo uns dos agentes responsáveis pelo exílio do povo hebreu na Babilônia.
O Império Neobabilônico contribuiu para o conhecimento científico de então. Em virtude dos credos religiosos vinculados aos astros, na Babilônia de Nabucodonosor II desenvolveram-se estudos sobre os corpos celestes. Assim, a partir de questões vinculadas ao universo religioso, houve o desenvolvimento da astronomia e da matemática. Ampliou-se, igualmente, nestes tempos, os saberes relacionados à medicina e à farmacologia.
A cidade da Babilônia chegou a ter mais de 200.000 habitantes – aproximadamente o mesmo número de almas que municípios brasileiros como Cabo Frio (RJ), Passo Fundo (RS) e Chapecó (SC) abrigam e, na Europa, Cascais (Portugal), Bourdeaux (França) e Pádua (Itália) possuem. Apesar do alto número de habitantes para a época e do desenvolvimento intelectual que a Babilônia logrou, o segundo Império teve duração efêmera. Em 539 a.C. foi invadido pelos persas, liderados por Ciro e, a partir de 330 a.C., a região caiu sob o jugo grego. 

 

 

 

Hebreus

Também originários da região da Mesopotâmia, mais precisamente de Ur, na Caldeia, estão os hebreus. Não é a única, mas uma importante fonte (e de fácil acesso à sociedade ocidental contemporânea) para a reconstituição de parte da história deste povo é a Bíblia. Encontra-se, no Velho Testamento, mais especificamente no livro de Gênesis, o surgimento dos hebreus, com o patriarca Abraão (c. 1.800 a.C.) – sendo o personagem bíblico contemporâneo ao amorita Hamurábi, trabalhado anteriormente.
Abraão estava inserido em uma cultura politeísta e, conforme relatado em Gênesis, YHWH (Javé/Jeová/Em hebraico, יהוה‎) revelou-se ao patriarca como o único Deus, sendo, à altura, o monoteísmo algo extremamente novo e uma especificidade do povo que estava a ser formado a partir do caldeu. Na aparição, Deus prometeu a Abraão e à sua descendência as terras da Palestina, bem como criar, a partir deles, um povo numeroso, incontável como as estrelas do céu.
Uma vez na terra prometida, Abrãao e seus descendentes viviam da agricultura e do pastoreio, até que, em torno de 1.700 a.C., em um contexto de adversidades, estes emigraram para o Egito, onde terminaram sendo escravizados pelos faraós por aproximadamente 400 anos.
Por volta de 1.300 a.C., segundo a tradição judaico-cristã, Deus escolheu Moisés como libertador dos hebreus. Na fuga do Egito e da perseguição das tropas de Faraó, de acordo com o livro de Gênesis, Deus abriu o mar Vermelho para os hebreus fugirem do cativeiro egípcio. No deserto, deu-lhes os Dez Mandamentos. A partir deste código de conduta, os hebreus ganhavam regras religiosas, como cultuar, adorar e servir somente ao único e verdadeiro Deus, YHWH, que havia revelado-se séculos antes a Abraão, e, também, normas morais, como não matar, não furtar, não adulterar e não cobiçar o que é do próximo.
Após a morte de Moisés, seu sucessor, Josué, liderou os hebreus na missão em direção à Terra Prometida. O livro de Josué narra estes adventos, encontrando-se aí episódios como a destruição das muralhas de Jericó (tida como a mais antiga cidade da História, tendo surgido na Palestina em torno de 9.000 a.C.) e a conquista da terra que Deus prometera séculos antes ao patriarca Abraão.
Uma vez estabelecidos na Terra Prometida, os hebreus foram governados por Juízes (uma teocracia que durou aproximadamente 450 anos) e, posteriormente, pelos reis Saul (c.1020 a.C), Davi (1004 – 965 a.C.) e Salomão (965 – 930 a.C.). Esses reinados duraram cerca de 100 anos, perpassando os séculos XI e X a.C. Segundo a tradição bíblica, Salomão é o homem mais rico de toda a Terra até os dias de hoje. O reinado de Davi foi um período de apogeu dos hebreus – inclusive a bandeira do atual Estado de Israel faz menção ao referido monarca, com sua estrela gravada. Também foi nos tempos deste rei que Jerusalém tornou-se a capital do reino de Davi.
Segundo os relatos bíblicos, Davi errou inúmeras vezes, porém, o seu verdadeiro arrependimento e a sua intensa busca a YHWH acabaram por fazer-lhe um homem segundo o coração de Deus. Desse modo, surgiu a promessa divina de levantar da descendência de Davi o Messias (II Samuel 7:12), o redentor de Israel e da humanidade, o Cristo – para os cristãos, esse descendente é Jesus, o primogênito de José e Maria (ambos descendentes de Davi), o Deus que encarnou e nasceu da virgem para salvar o homem de suas misérias terrenas e espirituais, bem como para dar a salvação eterna a todo aquele que crer que Ele seja o Messias  (Mateus 1:1, Lucas 3:23-38, Atos 2:29-30, 2 Timóteo 2:8). O Jesus dos cristãos ainda foi definido por João Batista como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”(João 1:29).
Retomando os tempos de Salomão, mais especificamente à questão da sucessão ao trono de Israel, pode-se afirmar que este foi um processo turbulento, que culminou na divisão do antigo reino de Davi em dois: o do norte, Israel, com capital em Samaria, tendo como rei Jeroboão, e o do sul, Judá, sendo Jerusalém a sua capital, e Roboão, filho de Salomão, o seu rei. As tramas envolvendo a cisão de Israel e os aspectos políticos e militares desse tema da História estão no Antigo Testamento, mais especificamente em I Reis.
Na década de 720 a.C., a expansão dos assírios levou-os a conquistar Israel, levando consigo vários dos seus habitantes para a Assíria. Em 586 a.C., durante o reinado de Nabucodonosor II, o Império Neobabilônico conquistou Judá, destruiu Jerusalém e levou para o exílio boa parte da população hebreia. Só permaneceram na região os mais pobres. Os mencionados acontecimentos estão em II Reis, bem como nos livros bíblicos de diversos profetas, que, segundo a tradição judaico-cristã, foram usados por YHWH para advertir aos hebreus que os seus maus caminhos, contrários aos padrões espirituais e morais divinos, culminariam na sua subjugação aos seus inimigos. Assim, Amós e Oseias profetizaram para Israel e Joel, Isaias, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias trouxeram revelações divinas aos habitantes e lideres políticos de Judá.
No exílio babilônico surgiram conhecidos personagens da tradição judaico-cristã, como, por exemplo, o profeta Daniel, que por ser de família abastada de Jerusalém fez parte da corte de Nabucodonosor II; seu contemporâneo Ezequiel, que, no exílio, profetizou o retorno dos cativos à sua terra de origem; e Esdras e Neemias, que estiveram envolvidos no retorno dos exilados a Jerusalém – após decreto do rei da Pérsia, Ciro, de c. 538 a.C., que permitiu o retorno dos judeus à cidade santa.
A região da Palestina ainda passou pelos domínios persa (450 – 333 a.C.), macedônico (333 – 323 a.C.), egípcio (323 – 198 a.C.), sírio (198 – 166 a.C.) e romano (a partir de 63 a.C.).

 

 


Fenícios

Comumente, sobre os fenícios, esses estabeleceram-se, em aproximadamente 3.000 a.C., na área que abarca partes do que hoje é o Líbano e a Síria. Sua organização política dava-se através de cidades-estados, que, muitas das vezes, rivalizavam entre si. Economicamente, em função de ocuparem uma estreita faixa de terra do atual Oriente Médio e terem significativo território banhado pelo Mediterrâneo, a opção marítima foi adotada por este povo, que destacou-se pela atividade mercantil, estabelecendo uma série de colônias em áreas do norte da África e do sul da Europa.
Observa-se, então, que os fenícios chegaram a realizar intercâmbios comerciais com áreas tão distantes entre si como a Península Ibérica e o Reino de Israel. Além disto, entre os fenícios havia os trabalhos livre e escravo.
No que refere-se às principais cidades, podem ser mencionadas Biblos (2.500 a.C.), Sidon (1.500 – 1.300 a.C.) e Tiro (do século XII ao VI a.C.), que tiveram seu auge em função das atividades comerciais marítimas nos períodos apresentados. Por demandas da atividade mercantil, em substituição aos hieróglifos, os fenícios desenvolveram uma escrita própria, com 22 letras, que, posteriormente, foi adotado por gregos e romanos, resultando, em período bastante posterior, no alfabeto da língua portuguesa e, igualmente, de tantos outros idiomas do Ocidente.
A decadência de Tiro deu-se em função da concorrência de comerciantes gregos e de Cartago – fundada pelos fenícios no norte da África. Os cartagineses acabaram por conquistar diversas colônias fenícias em solos europeu e africano. Igualmente, a região ocupada pelos fenícios no atual Oriente Médio foi invadida por persas, macedônios e por Alexandre, o Grande.

 

 

Pérsia
De uma maneira geral, quando fala-se da Pérsia, faz-se analogia com o atual Irã, país que abriga parte importante dos vestígios da referida civilização antiga. No século VI a.C., tendo o imperador Ciro à frente, os persas estenderam-se em direção à Ásia Menor e à Babilônia. Cambises e Dario I, sucessores de Ciro e, respectivamente, seu filho e neto, expandiram a fronteira até o norte da África e alcançaram as margens do Danúbio, na Europa, e do Indo, na Ásia Central. Por outro lado, malograram no intento de conquistar a Grécia.
Resumidamente, a estratégia de dominação persa consistiu em negociações políticas com os elementos provenientes das áreas conquistadas, permitindo, assim, que diversos atores locais comandassem as regiões subjugadas e mantivessem suas tradições. Porém, não pode-se ignorar que os invasores estabeleciam exigências aos povos conquistados. Esses deveriam pagar tributos obrigatórios ao Imperador persa e, ainda, conviviam com a coerção militar.
Como os demais impérios e reinos tratados nos tópicos anteriores, o Persa também sucumbiu frente a uma nova força que surgia no mundo antigo: o Império Macedônico, em 330 a.C..

História Medieval

Vista geral do Castelo de Vila da Feira: construção medieval em Portugal.
Vista geral do Castelo de Vila da Feira: construção medieval em Portugal.

476 d.C. e 1453 d.C.. Estes anos são, usualmente, os mais aceitos como o início e o fim do período designado como Idade Média. O marco inicial deve-se à deposição do último imperador romano, Rômulo Augusto, aquando da invasão da cidade pelos povos comumente definidos como bárbaros. O corte temporal final, à queda de Constantinopla (atual Istambul).
Juntos, esses séculos ganharam a nomenclatura Idade Média no século XV, quando os indivíduos da Europa da Idade Moderna (1453 – 1789) passaram a tratar os últimos mil anos da História monoliticamente, como um longo período de atraso e de pífio desenvolvimento econômico, cultural e social. Observa-se, inclusive, que, ainda hoje, muitas das vezes, designar algo como Medieval significa dar-lhe conotação negativa e/ou pejorativa, bem como o termo Idade das Trevas acaba, equivocadamente, por ser definidor desse longo período histórico.
Identifica-se, então, que o referido entendimento para praticamente mil anos de História é simplista, ignorando as diversas dinâmicas sociais que ocorreram no período e as múltiplas realidades existentes no âmbito europeu – basta uma breve comparação entre a península Ibérica Islâmica, de cidades italianas como Gênova, Florença e Veneza e do Império Carolíngio. Observa-se, também, que o viés da Idade Moderna de interpretação do medievo ignora os elementos de continuidade da Antiguidade que permaneceram – ou ganharam ressignificação – na Idade Média. 
De igual modo, é-se esquecido que durante este período ocorreram invenções de novas técnicas para trabalhar a terra, como os Moinhos de vento, além do astrolábio árabe, importante para a navegação, ser outro invento medieval. Os primeiros estados nacionais surgiram neste período, como é o caso de Portugal. Além disso, em determinados períodos da Idade Média e em localidades da Europa houve significativo comércio e atividades financeiras – há até mesmo autores, como Gilberto Freyre, por exemplo, que afirmam que nesta época já existiam atividades securitárias. 
Por fim, a interpretação proposta pela Modernidade esquece-se de que foi justamente nesta era de suposto atraso e retrocesso que foram fornecidos aos indivíduos do século XV as condições intelectuais, econômicas e políticas para eles serem “modernos”.

 

Geralmente, o referido período é dividido em dois blocos: 
 

 

Alta Idade Média (séculos V ao X)
Com as invasões bárbaras e queda do Império Romano do Ocidente, houve, como uma das múltiplas consequências, a fragmentação dessa unidade político-administrativa. As diversas regiões que a compunham tiveram a redução drástica de contatos e comunicações entre si e com a península itálica. Inúmeros são os casos em que diversas regiões ou antigas províncias romanas passaram a caminhar por vias distintas, tendo destinos, por vezes, antagônicos. Como exemplo, no medievo, em 711, iniciou-se a dominação islâmica da península Ibérica, ao passo que outras partes do antigo Império, como o Reino Franco, era importante baluarte do catolicismo da Idade Média.
Em linhas gerais, ao período aqui estudado pode-se associar, também, a ruralização da Europa, o surgimento dos feudos, o decréscimo das atividades comerciais, a queda demográfica das áreas urbanas e o aumento do poderio da Igreja Católica. Ressalta-se, no entanto, que esta não foi a realidade de todo o período medieval ou da totalidade dos territórios que compunham o antigo Império Romano. Concomitantemente, desenvolviam-se as civilizações bizantina e mulçumana.

 

Baixa Idade Média (séculos XI ao XV)
Se ao período anterior pode-se vincular o desenvolvimento bizantino, por outro lado, a esse associa-se a decadência de Bizâncio. O marco mais aceito como o final da Baixa Idade Média – e da Idade Média em geral – é justamente a queda de Constantinopla, a capital do Império Bizantino, quando esta sucumbiu ao Império Otomano, liderado por Maomé II.
Na parcela que compunha a parte ocidental do Império Romano, houve a criação dos primeiros Estados Nacionais, a centralização monárquica, a organização das cruzadas, a expansão das atividades comerciais e as crises do feudalismo e da Igreja Católica.
Como exemplo de acontecimentos da Baixa Idade Média pontua-se a crescente atuação comercial de Veneza no Mediterrâneo, a controlar rotas e a acelerar as trocas entre ocidentais e orientais. Também salienta-se a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453) entre a França e a Inglaterra. Menciona-se, ainda, a peste negra, que impactou profundamente a demografia europeia de então, pois dizimou entre 25 e 35% de sua população, sendo os mais atingidos os habitantes das áreas urbanas, inclusive pelas cidades serem propensas à disseminação de doenças, por fatores como a ausência de saneamento básico.
No campo intelectual, destaca-se que foi neste período que houve o surgimento das universidades e, ainda, não podem-se ser esquecidos personagens como Tomás de Aquino (1225 – 1274), que colaborou para o desenvolvimento do saber nos campos teológico e filosófico e os poetas Boccaccio (1313-1375), cuja obra-prima é "Decameron", e Danti Alighieri (1265 – 1321), de Florença, que escreveu sua principal obra, a Divina Comédia, em sua língua local, a abandonar, portanto, o latim.

 

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História Antiga

Antiguidade

Em relação a esse período, normalmente, o seu corte temporal é do surgimento da escrita à queda de Roma, em 476, com a deposição de Rômulo Augusto, último imperador do Império Romano do Ocidente. A designação vem dos iluministas do século XVIII, inicialmente abarcando Grécia e Roma e, posteriormente, o Egito e o Oriente Médio. Atualmente, inclui-se nesta fase da História da humanidade, por exemplo, a África negra, os americanos Incas, Astecas e Maias, além da China e da Índia. Por fim, a temporalidade ora estudada pode ser dividida entre Antiguidade Oriental e Clássica.

a)   Oriental

      Egito
      Mesopotâmia
      Fenícia
      Israel


b)  Clássica
     Grécia
     Roma

 

 

 

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Próximo texto (continuação): Idade Média

 

 

Chatô, o Rei do Brasil

Cartaz do filme "Chatô, o rei do Brasil".
Cartaz do filme “Chatô, o rei do Brasil”.

Direção: Guilherme Fontes/Roteiro: João Emanuel Carneiro, Matthew Robbins e Guilherme Fontes (Baseado em Chatô, o Rei do Brasil, livro de Fernando Morais)

Elenco: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini, Zezé Polessa, Gabriel Braga Nunes, Walmor Chagas, José Lewgoy.

Produção: Guilherme Fontes Filmes/Brasil, 2015, 1h42.

 

O próprio filme já tem história. Em 1995, no contexto do chamado renascimento do cinema nacional, cujo marco é “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, o ator Guilherme Fontes anunciou que realizaria a cinebiografia do empresário Assis Chateaubriand (1892 – 1968), também conhecido como Chatô. A base da obra cinematográfica era o livro homônimo do escritor Fernando Morais. A estreia estava prevista para 1997.

Porém, não foi isto o que aconteceu. A película só estreou 20 anos depois, ou seja, em 2015. O leitor que, eventualmente, não conhece a história envolvendo a produção – que não é o objetivo do presente texto – provavelmente se questionará a razão da demora. Neste longo período, além de não conseguir finalizar o filme ainda na década de 1990, houve uma série de acusações contra Fontes, como a de que este teria empregado mal o dinheiro que recebeu via leis de incentivo fiscal e a polêmica chegou aos tribunais. Muitos disseram que a cinebiografia sequer existia. Finalmente, após idas e vindas na justiça, o filme estreou em 2015 nos cinemas brasileiros e hoje está disponível na Netflix.

Cinelândia e Palácio Pedro Ernesto no centro do Rio: parte da bela reconstituição de época do filme.
Cinelândia e Palácio Pedro Ernesto no centro do Rio: parte da bela reconstituição de época do filme.

Em relação aos seus méritos, pode-se elencar, por exemplo, que em termos quantitativos, a produção incrementou o número de filmes nacionais, gerou empregos e movimentou economicamente a indústria cinematográfica do Brasil. Além disto, trouxe um respeitável time de atores, o filme é bonito no aspecto estético, em suas externas tem bela reconstituição do Rio da época e retoma importantes personagens da história nacional. Também mostra ao público o quão promiscuas podem ser as relações entre empresas privadas e o poder político. Em conjunto com a história de vida do personagem, Fontes perpassa por parte da história do Brasil e dos veículos de comunicação do protagonista, como seus jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Está no filme, dentre outros tópicos, parte da história da TV Tupi, dos Diários Associados, da constituição do acervo do MASP e alianças e conflitos entre Chatô e Getúlio Vargas, bem como com os militares de 64, devido às dificuldades das já combalidas empresas do personagem-título de obterem verbas governamentais, sendo preteridas a favor de grupo empresarial concorrente que, então, colocava no ar sua TV com parte de capital norte-americano – em provável alusão ao caso Time-Life.

Cena que remete à inauguração da tv brasileira, em 1950.
Cena que remete à inauguração da tv brasileira, em 1950.

Sobre os vários problemas da obra, estão uma série de situações mal explicadas ou pseudocômicas, que serão, algumas delas, elencadas. Uma é que a cinebiografia não apresenta ao público em que momento de sua trajetória empresarial Chateaubriand “deu o pulo do gato”, transformando seus veículos de comunicação em empresas extremamente poderosas e influentes na sociedade brasileira de então. Não se sabe o quanto do êxito logrado pelo paraibano foi fruto de seu primeiro casamento ou de suas chantagens a outros empresários ou de suas articulações políticas ou até que parte da história o seu projeto empresarial era viável economicamente.

Igualmente sem explicação, “do nada”, como um flash no meio do filme, mostra-se Chatô contra a construção de Brasília, mas sem dizer o porquê. Teria Chatô um possível perfil udenista? Ou, então, já sabia das alianças de JK com empreiteiras para erguer a nova capital? Os que já conhecem os últimos meses de vida Vargas, conseguem identificar o atentado da Tonelero, porém, Gregório Fortunato vira Terêncio e, em um passe de mágica, Chateaubriand assume o papel de Lacerda, inclusive atacando veementemente Vargas na imprensa – no caso, na TV Tupi.

Personagem que participa do show que o moribundo Chatô vê-se envolvido.
Personagem que participa do show que o moribundo Chatô vê-se envolvido.

O aspecto pseudocômico está em tentativas inócuas de fazer graça com cenas que não possuem comicidade alguma – ou que talvez só façam as crianças do jardim de infância rirem – como a aplicação de uma injeção nas nádegas de Chatô. O tom de caricatura é exagerado, inclusive em várias interpretações, dando-se ao público personagens tão ridículos e caricatos como os das novelas mexicanas e inundando a tela de “canastrice”.

Outro ponto é que o Chateaubriand de Fontes é desnecessariamente devasso. Se Chatô fosse um filme como as pornochanchadas da década de 1970 haveria lógica mostrar as peripécias sexuais do personagem e, quiçá, seus respectivos detalhamentos. Porém, em uma cinebiografia que traz de forma pincelada e sem nexo fatos da vida de um personagem histórico, sem apresentar vários porquês de posicionamentos políticos ou como se concretizaram importantes medidas da trajetória empresarial de Chatô, seria melhor dedicar o tempo do sexo à consistência do filme.

Para completar as oportunidades perdidas para a realização de uma cinematografia nacional de extrema qualidade, está a opção de narrar a trajetória de Chateaubriand no seu leito de morte, quando, em seus devaneios, o protagonista repassa sua vida em um julgamento em uma espécie de programa de auditório tosco. Adota-se tom teatralizado, tons farsescos, podendo até serem interpretados como paródias da vida pública nacional. Talvez o diretor tenha tomado esta via para agradar a um determinado público, que está mais preocupado com o formado do que com o conteúdo.

Depois de quase duas horas, não se sabe se o que foi assistido foi a um filme de história, comédia ou drama. Mas fica a certeza de ter estado diante de um filme “trés chatô”! Em suma, foi perdida a chance de fazer-se algo realmente bom, que prendesse o espectador do início ao fim, agregando à película parte da história do Brasil, bem como o talento dos técnicos e artistas envolvidos no projeto, resultando, assim, em um produto que poderia, inclusive, ter representado o país no Oscar. Mas, não deu. Enquanto isto, perde-se cada vez mais público para os patéticos blockbusters hollywoodianos, para as redes sociais e até mesmo para a invasão de Pokémons.

Marco Ricca e Paulo Betti caracterizados, respectivamente, como Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas.
Marco Ricca e Paulo Betti caracterizados, respectivamente, como Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas.