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UFRJ é a melhor universidade federal do Brasil, avalia ranking britânico

QS Latin America 2022 avaliou as 416 melhores universidades da América Latina 

A UFRJ é a melhor universidade federal do país. A avaliação é do QS Latin America 2022, um dos mais respeitados rankings acadêmicos. O estudo, publicado no dia 25/8, foi produzido pela consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS). Nessa 11ª edição do ranking, 416 instituições da América Latina foram avaliadas. Na região latino-americana, a UFRJ ficou em nono lugar pela quarta vez consecutiva.

 

Segundo a reitora Denise Pires de Carvalho, é preciso mais investimento do governo federal na UFRJ para avanço da instituição.

 

“Foi com muita satisfação que recebi a notícia de que nós nos mantivemos neste ranking como a primeira universidade federal do Brasil em qualidade, e isso apesar dos cortes orçamentários que as universidades federais vêm sofrendo. Considerando todo o enfrentamento dessa crise sanitária – que, por enquanto, é a maior deste século –, mantermo-nos nesta posição no ranking é uma boa notícia, embora o que nós todos desejamos seja que possamos avançar: melhorar e ficar entre as primeiras da América Latina. As universidades federais brasileiras têm essa capacidade, têm essa pujança. Se o orçamento for recomposto, nós conseguiremos continuar nesse projeto de desenvolvimento do Brasil, que foi, nos últimos anos, estancado pelos cortes orçamentários, pela crise econômica, que não preservou essas instituições de Estado que deveriam ser preservadas de cortes orçamentários, porque, na verdade, o investimento em educação garante a maior geração de emprego e renda para todos os países que investem nessa área. Aguardamos a recomposição orçamentária, esperamos o respeito e o fortalecimento das nossas instituições para que possamos avançar nos rankings e ficar entre as primeiras da América Latina. Esse é um sonho que precisa se tornar realidade”, destaca.

 

A média da UFRJ na pesquisa foi de 91 pontos, de um total de 100. Ao todo, oito quesitos foram avaliados:

 

  • rede de pesquisa internacional;
  • publicações por faculdade;
  • quantidade de professores com doutorado;
  • impacto na internet;
  • citações por artigo;
  • artigos por faculdade;
  • reputação acadêmica;
  • reputação entre empregadores.

 

A Universidade teve nota máxima em dois indicadores: impacto na internet e quantidade de professores com doutorado.

 

Entre as 95 universidades brasileiras classificadas, três aparecem entre as dez melhores da América Latina − além da UFRJ, a Universidade de São Paulo (USP), que ficou na segunda posição, atrás apenas da Pontifícia Universidade Católica do Chile, e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que ficou em sétimo lugar.

 

A UFRJ

 

Foto aérea do campus Praia Vermelha em perspectiva com o Pão-de-Açúcar
Na foto aérea, o histórico campus da UFRJ na Praia Vermelha | Foto: Gabriela d’Araujo (Acervo Coordcom/UFRJ)

 

 

Maior universidade federal do Brasil, a UFRJ é a primeira instituição oficial de ensino superior do país, com atividade desde 1792 (Escola Politécnica, a sétima escola de Engenharia do mundo e a mais antiga das Américas) e organizada como universidade em 1920. Presença registrada nas 15 melhores posições dos mais diversos rankings acadêmicos na América Latina, a instituição conta, hoje, com 172 cursos presenciais de graduação, 4 de graduação a distância, 315 de especialização e 224 programas de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado).

 

Segundo o Ranking Universitário Folha, a UFRJ é a universidade mais inovadora do país, o que também se deve à sua pluralidade: seu corpo social é composto por mais de 65 mil estudantes (anualmente, 5 mil se formam todo ano na graduação e 2,6 mil dissertações e teses são produzidas), 4 mil docentes (9 em cada 10 têm doutorado), 3,7 mil técnicos-administrativos atuantes nos hospitais da UFRJ e 5,6 mil nas demais unidades.

 

A Universidade tem estrutura similar à de um município de médio porte. Antes da pandemia de  COVID-19, a Cidade Universitária, campus principal, tinha circulação diária de cerca de 100 mil pessoas. Compatível com o seu grau de relevância estratégica para o desenvolvimento do país, a UFRJ formou uma sucessão de ex-alunos notáveis, como Osvaldo Aranha, indicado ao Prêmio Nobel da Paz; os escritores Jorge Amado e Clarice Lispector; o arquiteto Oscar Niemeyer; os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; os jornalistas Fátima Bernardes e Ali Kamel e o matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, oferecida a matemáticos com até 40 anos e equivalente ao Prêmio Nobel. Quarta instituição que mais produz ciência no Brasil, a UFRJ possui dois campi fora da capital fluminense: um em Macaé e outro em Duque de Caxias. Com projetos de ponta nas áreas científica e cultural, a antiga Universidade do Brasil tem sob seu escopo 9 hospitais universitários, 13 museus, 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas e um Parque Tecnológico de 350 mil metros quadrados, com startups e empresas de protagonismo nacional e internacional.

 

Texto: Victor França.

Fonte: ufrj.br

 

A Pesquisa no Brasil

Assista ao bate-papo ente os Profs. Drs. Fábio Ferreira (UFF) e Pedro Demo (Emérito da UnB) sobre a pesquisa no Brasil e suas implicações na sociedade brasileira contemporânea. 

 

 

 

 

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UFF é a Federal brasileira com maior número de alunos

Niterói, 07 de janeiro de 2019.

Da Redação.

 

Foi divulgado, no final de 2018, o censo universitário brasileiro referente ao ano anterior, ou seja, 2017. A pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) coletou dados de 2.448 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que 296 (12,1%) pertencem à rede pública, a incluir, nesses números, universidades federais, estaduais e municipais, bem como os CEFETs e os Institutos Federais. O censo permite a realização de uma multiplicidade de análises referentes ao ensino superior nacional, como a quantidade de professores doutores em cada Instituição de Ensino Superior, o percentual dos cursos de Educação a Distância (EaD) em território nacional e o número de graduandos de cada universidade, item que, entre as federais, a Universidade Federal Fluminense (UFF) é líder no ranking.

A UFF tem, segundo o censo, 47.254 alunos, em um universo de 1.120.804 estudantes de graduação nas 63 federais brasileiras, tendo uma fatia de 4,2% dos alunos. Em seguida, vem a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 4,0%, e, logo depois, a Universidade Federal do Pará (UFPA), com 3,5%. Em relação ao preenchimento das vagas oferecidas, a UFF tem a marca de 93%, acompanhando a média da rede pública federal, cujo índice é de 91%. Contrastando os números, o preenchimento das vagas da rede privada é de 32% e a nacional é de 36%. Quando o quesito é a relação candidatos por vaga, a UFF tem 15,9, proporção próxima das demais federais, que, juntas, tem 15,3 aspirantes aos cursos de graduação oferecidos. Esses números distanciam-se da média nacional, que é de 2,1 indivíduos que buscam vaga no ensino superior. A relação nas instituições privadas é de 1,2 candidatos por vaga. Já as federais que mais diplomaram na graduação estão, em primeiro lugar, a UFPA e, em seguida, a UFF e a UFRJ.

 

UFF e UFRJ estão entre as mil melhores universidades do mundo

Ainda no que refere-se às Federais, pesquisa de 2018 do Center for World University Rankings (CWUR), que avaliou 18 mil universidades em todo o mundo, aponta que a UFF e a UFRJ estão entre as mil melhores IES do globo. A instituição sediada em Niterói ocupa a 889ª posição. Já a situada na cidade do Rio, o 298º lugar. No mesmo ranking, o pódio é ocupado por universidades norte-americanas: Harvard, Stanford e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). No âmbito nacional, em listagem entre as vinte melhores listadas pelos critérios do CWUR, a UFRJ ocupa a 2ª posição e a UFF a 17ª.

Sobre o corpo docente, o censo do IPEA também trouxe dados concernentes aos professores. As Federais têm 72,2% de seus docentes com doutorado (69.126), sendo que, nesse universo, a UFF tem 78,4% (2.835) dos seus professores com a máxima titulação acadêmica. A média de doutores no ensino superior brasileiro é de 41% (160.827) e a da rede privada é de 24,1% (51.223).

 

Aspectos considerados pela pesquisa do Center for World University Rankings (CWUR/2018) para avaliação das universidades:

1- Qualidade da Educação (15% da nota): número de ex-alunos que ganharam prêmios internacionais e medalhas (proporcional ao tamanho da universidade).

2- Empregabilidade de ex-alunos (15% da nota): número de ex-alunos que ocuparam cargos de CEO nas maiores empresas do mundo (semelhantemente, é proporcional ao tamanho da universidade).

3- Qualidade do corpo docente (15% da nota): número de professores que ganharam prêmios internacionais e medalhas (também é proporcional ao tamanho da universidade).

4- Número de pesquisas (15% da nota): mensuração feita através do total de trabalhos de pesquisa publicados.

5- Qualidade da pesquisa (15% da nota): quantidade de trabalhos de pesquisa que foram publicados em periódicos de primeira linha.

6- Influência (15% da nota): trabalhos de pesquisa que aparecem em periódicos altamente influentes.

7- Citações (10% da nota): artigos de pesquisa que são altamente citados como referências de outros artigos.

 

Veja a lista mundial: 

https://cwur.org/2018-19.php

 

Veja a lista brasileira:

https://cwur.org/2018-19/brazil.php

 

Abaixo, imagem do prédio da Reitoria da UFF e um pouco de sua história:

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Jogo de luzes no Prédio da Reitoria da Universidade Federal Fluminense: Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, Niterói, RJ. Um dos poucos prédios em art déco da cidade, funcionou aí, até a proibição do jogo no Brasil pelo presidente Dutra (1946), o Hotel Cassino Icaraí, que chegou a rivalizar com o famoso Cassino da Urca, instalado na então capital Federal (Rio de Janeiro). Até a década de 1960 funcionou no edifício o hotel e seu restaurante. No mesmo decênio, o prédio tornou-se propriedade da UFF. Atualmente, além da Reitoria, no prédio funciona funciona o Centro de Artes UFF, importante centro cultural da cidade e adjacências. Por fim, nos constantes rankings internacionais, a UFF sempre consta da listagem como uma das melhores universidades do Brasil. – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – Building of the Rectory of Universidade Federal Fluminense (UFF): Niterói city – Rio de Janeiro – Brasil One of the few buildings in art deco of the city, in that place, until the ban gambling in Brazil (1946), there was the Hotel Casino Icaraí. Until the 1960s worked on the building the hotel and the restaurant. In the same decade, the building became property of the UFF. Currently, besides the Dean, works in the building an Art Center, important cultural place of the city and its vicinity. Finally, in the constants international rankings, the UFF always appears in the list as one of the best universities in Brazil. #cidadelindademais #nictheroy #papagoiaba #universidadefederal #buildings_gf #universidadefederalfluminense #architecture_hunters #arquitetosrj #architecturalphotograph #citiesofinstagram #nightshotsofcities #históriadobrasil #ppgh #historiadorio #arquiteturaRJ #arquiteturacarioca #artdecó #riodejaneiro2016 #niteróirj #cidadesorriso #cidadeabençoada #niteroiprajesus #lagoinhaniterói #arthistorystudent #niteroihostel #rioolimpicgames #rioolympics2016 #historicalplacestovisit #buildinglover_gf #buildingproject

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Profª. Drª. Marieta de Morais Ferreira (CPDOC/UFRJ)

A seguir, a entrevista concedida pela Profª. Drª. Marieta de Morais Ferreira à Revista Tema Livre, realizada no CPDOC, em 28 de dezembro último. Na entrevista, a historiadora fala da sua formação acadêmica, da instalação do curso de história no Rio de Janeiro e da utilização da História Oral, entre outras questões.

Revista Tema Livre – Primeiramente, conte-nos a sua trajetória acadêmica.

Marieta de Morais Ferreira – Bom, eu fiz o curso de graduação em História na UFF e dei seguimento à minha formação acadêmica no programa de Pós-Graduação em história, também na UFF. Primeiro o mestrado e, depois, alguns anos mais tarde, o doutorado, na primeira turma.

Além disto, no começo da minha carreira, trabalhei como praticamente todos os meus colegas na época, na rede pública municipal. Logo que me formei fiz concurso, comecei a dar aula no ensino médio e fiquei alguns anos fazendo isso, mas, logo depois, eu tive a oportunidade de fazer um concurso para ser pesquisadora da Casa de Rui Barbosa, no centro de pesquisa em história, onde eu comecei a trabalhar com a primeira república, história empresarial… Neste período também comecei a dar aula na Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, em Nova Friburgo, para onde levei vários colegas da UFF, e reestruturamos o Departamento de História. Depois, já em 1979, eu vim trabalhar no CPDOC, ficando difícil conciliar essas várias atividades. Saí da Casa de Rui Barbosa, também deixei a Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia e o ensino médio na rede pública. Então, aqui no CPDOC, eu fiquei trabalhando com dedicação exclusiva, me dedicando à História Política, que é uma área de pesquisa do CPDOC, com a história do século XX e até a história mais recente.

A minha tese de mestrado tinha sido sobre os Comissários de Café na Província Fluminense, século XIX. Quando eu vim para o CPDOC passei a me interessar mais, até por uma questão de que a instituição me levava a isso, a trabalhar com a História Política. Então, esta passou a ser uma área que se tornou um alvo por excelência da minha atuação. Coordenei um grupo de pesquisa sobre História Política do antigo Estado do Rio de Janeiro, fundei uma linha de pesquisa sobre História Política do Rio de Janeiro e, então, desenvolvi muitos trabalhos nesta área, sempre juntando História Política, História da República e História do Rio de Janeiro.

Passados alguns anos, eu me tornei Coordenadora do programa de História Oral do CPDOC. Aí abriu-se também outra área de trabalho, que era uma coisa que até então eu tinha feito de forma eventual, trabalhar com algumas entrevistas, mas sem ter uma sistemática maior. Quando me tornei Coordenadora, comecei a fazer um investimento grande nesse campo, de discutir as questões da memória, da História Oral, da História do Tempo Presente e, então, essa minha área de trabalho se ampliou, incorporando essas novas temáticas.

Ao lado de ser pesquisadora do CPDOC, também sou professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde eu ingressei em 1986. Desde então eu tenho sido professora lá, trabalhando na Graduação, no Mestrado e no Doutorado.

RTL – A Sra. pode falar da influência francesa na sua atuação acadêmica?

Marieta – Em relação a essa influência da França na minha carreira, eu acho que, efetivamente, a historiografia francesa tem uma presença muito importante aqui no Brasil, e acho que os historiadores franceses possuem uma produção muito interessante, muito inovadora e que realmente têm contribuído para uma atualização, renovação, da historiografia brasileira.

Mas, além disso, tive também uma possibilidade de ter um contato muito interessante quando eu fui para a França fazer o pós-doutorado. Passei um ano lá, na École des Hautes Etudes en Science Sociales, fazendo uma investigação sobre as missões francesas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, para a criação dos cursos de história. Já há um conhecimento bastante razoável sobre essas missões no caso da USP, que tem figuras destacadas que vieram para colaborar na fundação do curso de História. Mas, para o Rio de Janeiro, havia muito pouca coisa. Fiz uma investigação interessante, destacando o papel de alguns professores franceses como Henri Hauser, Victor Tapié, Albertini, que eram grandes profissionais e que vieram para fundar o curso de História na Universidade do Distrito Federal. Depois, mais tarde, outros vieram para fundar o curso de História na Universidade do Brasil, que antecede a UFRJ. Essa foi também uma experiência bastante interessante.

RTL – E como foi a instalação do curso de história aqui no Rio de Janeiro?

Marieta – Isso ocorreu em 1935, quando, aqui no Distrito Federal, o prefeito Pedro Ernesto, juntamente com Anísio Teixeira, que tinha o papel de algo como secretário da educação, o nome não era exatamente este, criam então a chamada UDF, Universidade do Distrito Federal. Ela era uma Universidade com características muito inovadoras, preocupada em implementar o ensino laico e em formar professores. Então, o Anísio Teixeira vai negociar na França, com a embaixada francesa aqui no Rio, com o Ministério da Educação Nacional na França, a vinda de uma missão para o Rio de Janeiro, que era composta por vários professores, não só para o curso de História, mas também para as outras áreas, como Literatura, Filosofia, Matemática… Enfim, são vários especialistas que vêm, mas eu não me detive em estudar todas as áreas, me fixei fundamentalmente na de História. E foi interessante, porque eu acompanhei a trajetória de alguns professores. Então, são profissionais que não só vão dar aulas, mas também vão orientar sobre a carga horária, quantas horas deve ter cada curso, como deve ser o programa, enfim, é bastante interessante a maneira como isso é formatado.

RTL – Fale-nos sobre o papel do CPDOC como instituição de preservação e divulgação da história, bem como sobre a composição do seu acervo.

Marieta – Bom, o CPDOC é uma instituição que tem 30 anos e foi fundado para receber os chamados arquivos pessoais de homens públicos. Os primeiros arquivos que recebemos foi o de Getúlio Vargas, depois fomos recebendo vários outros arquivos pessoais de figuras que atuaram na chamada Era Vargas. Ministros, parlamentares, secretários de governo… pessoas como, por exemplo, Oswaldo Aranha, Anísio Teixeira, Sousa Costa, José Maria Victer, enfim, todas aquelas figuras que atuaram no período começaram a doar os seus arquivos para cá. E, então, hoje temos aqui um grande acervo, são cerca de dois milhões de documentos que são recebidos a partir da constituição destes arquivos pessoais. A partir da década de 80 o acervo do CPDOC começou a se ampliar e a receber também outros tipos de documentos. Continuava sendo de homens públicos, enfim, é até uma linha que a gente mantém, mas o foco da Era Vargas se ampliou, o Regime Militar de 64 passou a ser também um outro ponto temático para catalisar acervos para serem doados. Então, dentro desta linha, um acervo importante é o do presidente Geisel, também há de outros militares, como Cordeiro de Farias, Muricica, e outras figuras políticas, como Tancredo Neves e Ulisses Guimarães. Depois, mais tarde, recebemos o do Lysâneas Maciel, e acabamos de receber o do Franco Montoro… Então, quer dizer, na verdade, atualmente esse acervo do CPDOC tem cerca de 190 arquivos, que são mais ou menos uns dois milhões de documentos. Esse material é recebido, organizado, catalogado, informatizado e disponibilizado para que o público possa consultá-lo livremente.

RTL – Hoje vive-se o ressurgimento da História Política. A Sra. pode falar, grosso modo, das razões desse ressurgimento e o que corresponde a essa nova História Política?

Marieta – Olha, sobre a História Política, algumas pessoas acham que ela nunca deixou de ter importância ou que ela sempre continuou existindo. Eu já escrevi vários artigos sobre isto, chamando a atenção para esse renascimento, vamos dizer assim, essa renovação, acho que, talvez, a palavra renovação seja mais adequada até que renascimento. Porque, na verdade, ela nunca deixou de ser feita, de ser praticada, só que ela era, primeiro, vista com uma dose de desconfiança e de desvalorização muito grande. E, além da posição pouco valorizada no conjunto da historiografia, ela também enfocava principalmente temas mais tradicionais, de uma maneira igualmente tradicional de produzir e de escrever a História Política. A partir dos anos 80, principalmente 90, houve uma renovação bastante grande nesse retorno da História Política. Isto ocorreu, principalmente na França, mas aqui no Brasil tivemos reflexos nisso e, junto com a História Política, também outras temáticas foram revalorizadas, retrabalhadas, como a questão das biografias, que também era um tema que durante muito tempo foi desvalorizado. Por que? Porque a história que recebia melhor avaliação era aquela que atuava em áreas que privilegiavam a história social, a história das grandes massas, a história dos oprimidos, a história dos chamados de baixo… e, quando a História Política começou a ser retrabalhada, ela começou a fazer também a história política dos vencidos, eu não gosto desta palavra, mas dessas camadas menos privilegiadas, mas, também, a história das elites, que era uma área meio problemática e passou a ser revitalizada. E, também, as biografias, o estudo das biografias coletivas, o estudo da memória política, dos usos políticos da memória, da cultura política, enfim, vários temas novos foram incorporados à História Política. Eu creio que hoje uma área muito interessante para você trabalhar a História Política de uma forma bastante inovadora é com a memória política e com esta questão que está muito em voga dos vultos políticos do passado, então, acho que traz efetivamente uma renovação para o campo.

Eu me lembro que quando eu entrei no doutorado, o meu projeto de ingresso era sobre partidos políticos e aquilo eu tinha um interesse enorme. Fiz uma longa introdução me justificando para dizer como a História Política era importante, como é que você podia estudar a História Política, qual a importância de estudar os partidos e, até algumas pessoas da banca me indagaram por quê eu não ia estudar Ciência Política, por quê eu não ia fazer um doutorado em Ciência Política… E eu disse, não, eu não sou cientista política, e nem quero adotar uma abordagem da Ciência Política. Eu quero adotar uma abordagem da História, e aí trabalhamos História Política dentro de novas perspectivas, com novas abordagens, introduzindo novos conceitos.

RTL – Sobre a História Oral, como é tratada pela academia como fonte de pesquisa para o historiador? Além disto, quais os cuidados que o historiador deve ter na utilização da História Oral, seja no aspecto da seleção dos entrevistados, seja na certificação das informações?

Marieta – Essa questão da História Oral é interessante, porque, para mim, foi uma experiência engraçada. Quando eu comecei a dar aula na Pós-Graduação da UFRJ, eu me lembro de uma das primeiras vezes que eu fui dar um curso sobre História Oral. Mas, como era uma coisa tão problemática entre os meus colegas, eu nem tive coragem de botar este nome, eu coloquei o nome de fontes orais para dar uma disfarçada. Por quê? Porque muitas pessoas falavam comigo, mas como você está mexendo com essa coisa de História Oral, esse negócio de entrevista é tudo fofoca, é tudo mentira… O que está embutido neste tipo de afirmação, neste tipo de avaliação? A crença que tem alguma fonte que fala a verdade. Então, você tem fonte que fala a verdade e tem fonte que fala mentira. Eu acho que isso é uma questão muito problemática, e que na atualidade poucos historiadores ainda mantém esse tipo de perspectiva. Por que o jornal ou os anais da câmara, ou as publicações oficiais, por que elas têm uma maior veracidade do que um depoimento oral? Até mesmo os números, qualquer fonte tem marcas de subjetividade e eu acho que a coisa mais importante é assumir que as fontes têm uma maior ou menor dose de subjetividade e se preparar para lidar com esta questão. Quer dizer, não é fingindo que a fonte não tem a subjetividade que você está garantindo uma maior veracidade nas suas pesquisas e uma maior objetividade. Então, eu acho que a questão é você enfrentar e, principalmente, se você trabalha com as fontes orais, com a História Oral, introduzindo a questão da memória, creio que existem instrumentos para, efetivamente, poder fazer uma avaliação do material. Primeiro, assumindo que qualquer memória ela tem esquecimentos, silêncios, distorções… e cabe ao pesquisador lidar com isto. Interpretar isto. Por que silenciou? Não é porque uma entrevista, um depoimento, ele silencia sobre um fato, que ele deixa de ser útil. Ou porque ele passou uma informação distorcida, ou omitiu alguma informação, ou exagerou na outra, o que você tem que fazer, efetivamente, como, alias, em qualquer fonte, você tem que ter um estudo sobre aquela conjuntura, você tem que ter um aprofundamento sobre a produção historiográfica relativa àquela temática, você tem que ter um conhecimento factual daquela conjuntura, para que efetivamente você possa deter os instrumentos de avaliação daquela fonte, mas isso eu acho que não é só em relação a fonte oral, eu acho que isso é em relação a qualquer outra fonte.

No que diz respeito à seleção dos depoentes, ou aos cuidados que você deve ter, eu acho que, realmente, o pesquisador tem que conhecer o seu campo de investigação. Tendo as suas questões, tendo o conhecimento aprofundado, ele tem como avaliar, estabelecer critérios de seleção, como também se tem que estabelecer critérios de seleção quando se vai fazer uma pesquisa em um jornal, ou quando se vai fazer uma pesquisa quantitativa, tem sempre que se ter critérios para selecionar, para recortar as suas fontes. Então, eu vejo que a História Oral é uma metodologia para, efetivamente, se produzir depoimentos de uma forma controlada sobre determinadas temáticas. Neste sentido, o depoimento que é produzido a partir da metodologia da História Oral é diferente de entrevistas que são produzidas de formas mais aleatórias, sejam entrevistas jornalísticas, sejam entrevistas de um pesquisador sobre uma temática, em que não se lança mão desses procedimentos metodológicos, que dão um conhecimento sobre o depoente, que vai ser entrevistado, sobre a temática sobre a qual ele vai perguntar.

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Lançamento do livro: “Bem traçadas linhas – a história do Brasil em cartas pessoais”

“Bem traçadas linhas – a história do Brasil em cartas pessoais”, o mais recente livro do historiador Renato Lemos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, teve o seu lançamento no último dia 30 de novembro, na livraria Folha Seca, no Centro do Rio de Janeiro.

Renato Lemos

Renato Lemos

A publicação apresenta a correspondência epistolar de diversas gerações de artistas, políticos e intelectuais dos séculos XIX e XX. Encontram-se, por exemplo, missivas de Francisco Varnhagen para D. Pedro II, de Joaquim Nabuco para Machado de Assis, de Mário de Andrade a Luís da Câmara Cascudo, de Gilberto Freire para Oliveira Lima, de Anísio Teixeira para Monteiro Lobato, de Fernando Sabino para Clarice Lispector, entre outros.

As epístolas são apresentadas em ordem cronológica, de acordo com a data em que foram escritas, a partir da década de 1840 até 1996. Além disto, os autores são agrupados em gerações, sendo cada uma correspondente ao período usual de trinta anos.

Assim, a publicação, através das cartas, apresenta hábitos sociais, movimentos artísticos e, ainda, adventos relevantes à História do Brasil, como, por exemplo, a Guerra do Paraguai, o Tenentismo e a instalação do regime militar de 1964.

capa_linhas“Bem traçadas linhas – a história do Brasil em cartas pessoais”.
Autor: Renato Lemos
Editora: Bom Texto
Nº de páginas: 480
Formato: 16x23cm

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