Descubra como Irã e Israel passaram de aliados estratégicos a rivais regionais. Conheça os eventos históricos que explicam o atual antagonismo.
Niterói, 16 de junho de 2025.
Da Redação.
Tempo estimado de leitura: 5 minutos
No complexo cenário do Oriente Médio contemporâneo, poucos confrontos são tão emblemáticos quanto a tensão entre Irã e Israel. A rivalidade entre esses dois países, marcada por hostilidades abertas, retórica beligerante e conflitos indiretos, é frequentemente tratada como algo imutável e natural. Porém, para compreender as raízes desse antagonismo, é fundamental revisitar a história que antecede essa crise.
Aliados em um contexto global turbulento
Entre as décadas de 1950 e 1970, Irã e Israel mantiveram uma relação estratégica estreita e relativamente amistosa. Governado pelo xá Mohammad Reza Pahlavi — aliado dos Estados Unidos em meio ao contexto da Guerra Fria e empenhado em um processo de modernização e ocidentalização —, o Irã foi um dos primeiros países muçulmanos a reconhecer o recém-criado Estado de Israel, em 1948.
Essa aproximação contemplava interesses políticos e econômicos de ambos os lados. Para Tel Aviv, o relacionamento com Teerã representava uma forma de mitigar seu isolamento regional e garantir uma base de apoio num país de maioria muçulmana, ainda que não árabe. Já para o regime secular do xá, que buscava modernizar o país, reconhecer Israel tinha sentido estratégico e alinhava-se com a política externa pró-Ocidente. Além disso, Teerã, apoiado pelos EUA, via que Israel funcionava como um contrapeso político útil diante da pressão dos países árabes vizinhos e das forças nacionalistas que buscavam enfraquecer a influência ocidental na região.
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Essa aliança era, em muitos aspectos, pragmática. Israel treinou especialistas iranianos em segurança e inteligência, enquanto o Irã manteve uma das maiores comunidades judaicas do Oriente Médio. Até a Revolução Islâmica de 1979, cerca de 20 mil judeus residiam no Irã, vivendo em relativa segurança e mantendo tradições culturais e religiosas.

A guinada revolucionária: o início dos conflitos Irã-Israel
O ano de 1979 marcou um ponto de inflexão complexo não apenas para o Irã, mas para toda a geopolítica do Oriente Médio. A Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, derrubou o regime do xá Pahlavi e instaurou uma teocracia baseada na doutrina xiita do vilayat-e faqih — o governo do jurista islâmico.
Essa mudança radical no poder significou o cancelamento imediato de todos os acordos e tratados com Israel. O Irã, agora governado por grupamento religioso que via o Ocidente e seus aliados de forma extremamente crítica, redefiniu sua política externa em termos ideológicos. Israel foi qualificado oficialmente como “regime sionista ilegítimo” e visto como uma ameaça existencial, sendo a eliminação do Estado israelense incorporada à retórica oficial do novo regime.
A nova república iraniana via no conflito árabe-israelense não apenas uma questão regional, mas um símbolo da luta contra o mundo ocidental e o imperialismo. Assim, o Irã começou a apoiar atores políticos que têm diferentes visões ideológicas, incluindo grupos militantes e milícias opositoras a Israel, como o Hezbollah no Líbano, o Hamas na Faixa de Gaza e grupos aliados na Síria e no Iémen. Este é mais um exemplo que ilustra as nuances e complexidade que caracterizam a política do Oriente Médio.
A escalada do conflito, a rivalidade duradoura e o programa nuclear iraniano
Durante a década de 1980, a rivalidade se materializou em confrontos indiretos e batalhas por influência regional. Quando Israel invadiu o sul do Líbano em 1982 para combater a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Teerã respondeu enviando sua Guarda Revolucionária para apoiar as milícias xiitas locais — um movimento que culminou na formação do Hezbollah, organização que permanece até hoje como um ator-chave no conflito com Israel.
Essa dinâmica de confrontos por procuração seguiu intensificando-se ao longo das décadas seguintes. O programa nuclear iraniano tornou-se um ponto central de tensão, uma vez que Israel e várias potências ocidentais manifestam receios quanto à possível utilização militar. O debate em torno dessa questão permanece complexo e central para a estabilidade regional.
O que é o programa nuclear iraniano?
Desde a década de 2000, o Irã desenvolve um programa nuclear oficialmente voltado à geração de energia e pesquisa científica. No entanto, potências ocidentais, incluindo Israel e EUA, suspeitam de intenções militares. O debate divide a comunidade internacional, envolve inspeções da AIEA e gera tensões diplomáticas recorrentes.
Reflexões sobre a história para além do conflito atual
Entender que as relações Irã e Israel já foram diferentes das atuais, ou seja, que no passado foram aliados estratégicos, permite desconstruir a ideia de uma inimizade eterna e imutável. O conflito entre os dois países é antes produto de questões históricas e ideológicas que moldaram o Oriente Médio e resultaram no atual quadro.
A história da relação entre Irã e Israel é um convite a refletir sobre como alianças internacionais são moldadas por interesses mutáveis, ideologias e mudanças políticas profundas. Revisitar essas trajetórias é fundamental para compreender os impasses atuais e, quem sabe, abrir espaço para diálogos futuros que transcendam o conflito.
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